Casa

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- Você já guardou tudo? - Fernanda me questiona, parada na porta do meu quarto, me vendo terminar de guardar meus pertences numa velha mochila. Eu iria viajar pro Kentucky hoje, na companhia de Brunna. Admito que sinto um frio no estômago ao imaginar ela na minha cidade, conhecendo meus pais. Ela disse que nós iríamos em seu helicóptero. Seria interessante.

- Sim mamãe Fernanda, está tudo aqui. Pode ficar tranquila. - Brinco, vendo Fernanda fazer uma careta. Oh, não... - Você não vai chorar né. Fernanda? - A loira funga, passando as mãos nos olhos, enxugando suas lágrimas. Suspiro e ando até ela.

- Eu sinto muito Lud, eu sou tão boba.

Ela soluça. - Fe, você não tem que pedir desculpas por ficar preocupada. Eu sinceramente gosto de saber que você se preocupa comigo. Vai ficar tudo bem, Quando você piscar os olhos, eu vou estar aqui. - Passo a mão em seus olhos e beijo suas bochechas. Fernanda era importante demais pra mim, sempre preocupada comigo, com minha felicidade, e eu amava isso nela. Ela era como uma segunda mãe pra mim, já que a minha estava em outro estado.

- Não conte isso a Daiane. Ela vai rir. - A loira diz, com um bico. Dou uma risada, calçando meus All Star surrados pretos e pegando minha velha jaqueta jeans. Olho pros meus velhos óculos de grau, saudosamente, e me corre que não contei aos meus pais sobre usar lentes agora. Brunna havia feito muitas mudanças em mim. Pego os óculos, enfiando em um bolso da mochila. Pego meu bichinho de pelúcia do Nemo e me viro em direção a Fernanda. Caminho até ela, envolvendo seus ombros com minhas mãos. Ela suspira.

- Se cuide, tá? E cuide da Dai. Vou mandar lembranças a Tia Silvia e o Tio Sam.

Fernanda confirma, seus olhos enchendo d'água, beijando minha bochecha e acariciando meus cabelos. Desço para a portaria, saindo do prédio e esperando Brunna lá. A parte em que Brunna vai, e que vamos em seu helicóptero, não foi dita aos meus amigos. Passam-se poucos minutos e o Volvo para na minha frente. Abro a porta e entro, abrindo um sorriso de orelha a orelha ao ver minha latina parada ali, me olhando. Ela sorri e se inclina em minha direção, me dando um selinho, que logo se transforma em um super beijo. Nossas línguas se conectam, e nesses segundos, tudo no mundo faz sentindo. Ludmilla Oliveira foi feita para beijar Brunna Gonçalves. Suas mãos se firmam em meus cabelos, os bagunçando de uma forma que eu amo. O oxigênio começa a fazer falta, então desgrudo nossos lábios. Abro meus olhos, suspirando ao ver meus labios vermelhos.

- Oi. - Ela diz baixinho, e rio com sua reação.

- Oi, Bru. - Encosto minha cabeça no banco, ajeitando minha mochila no chão do carro. Brunna resmunga algo e dá a partida no carro. Uma música suave, que reconheço como Debussy, está tocando. Eu não fazia ideia que ela gostava de música clássica. Sua atenção está voltada ao trânsito, e eu tamborilo meus dedos em meu jeans surrado. Era um jeans da época em que eu estava no ensino médio.

- Você está se sentindo confortável? -  Pergunto.

- Estou. Na verdade, me sinto ansiosa. Vou conhecer os Oliveiras. - Seus olhos estão brincalhões, e isso me faz ficar feliz. Ela se sentia bem em conhecer minha família.

- Você vai gostar da minha cidade. Não é glamorosa como L.A, mas foi onde a Jennifer Lawrence nasceu.

- Já encontrou ela? - Rio, negando com a cabeça. As pessoas sempre achavam que eu era super amiga da Jennifer só por termos morado na mesma cidade, mas eu nunca vi a mesma.

-  Você vai gostar é do frango frito. É o melhor do país.

Eu sentia um imenso orgulho por isso. Cresci comendo frango e nunca enjoei.

Passamos todo o trajeto conversando sobre minha vida, infância, e Brunna palpitava, mas não falando da dela. Ela as vezes colocava a mão em minha coxa para enfatizar algo. Logo chegamos ao heliporto. Brunna tira do porta malas do carro uma mala média e entrelaça nossas mãos. Tento agir normalmente, mas por dentro estou inflada de orgulho por andar com ela de mãos dadas. O seu piloto, Robert, está parado próximo ao seu helicóptero, usando roupas formais e com uma cara séria.

- Olá, Robert. Estamos prontos? - Brunna para na frente do homem, nossas mãos ainda juntas.

- Sim, senhora Gonçalves. Pode me dar suas malas? - Brunna lhe estende sua mala e minha mochila, e entramos no helicóptero. Me sento na janela, atrás de Robert e Brunna colada a mim. Nossas mãos de unem automaticamente. Ela era como gravidade, sempre me puxando pra si.

- Está feliz? - Seus olhos castanhos me fitam, e eles têm um brilho infantil.

- Estou. Vou ver minha família, ficar na minha cidade, e o mais importante: fazer tudo isso com Brunna Gonçalves! Eu sou tão sortuda... - Essa última frase sai sussurrada, mas Brunna a ouve, apertando seus dedos nos meus. Foco meu olhar em seu rosto.

- Também estou feliz por passar esse tempo com você. Muito. - Ela se inclina e bica meus labios com os seus levemente, mas o bastante para fazer meu coração acelerar. Robert entra no helicóptero, vira-se em nossa direção e dá um sorriso tenro.

- Prontas? - Brunna e eu nos olhamos, e ela fala:

- Claro.



(...)



Já devia fazer mais de uma hora e meia que estávamos dentro do helicóptero, e eu tinha minha cabeça no colo de Brunna. Ela acariciava meus fios negros, um carinho gostoso, e volta e meia beijava eles. Eu não me via fazendo isso com ela nunca. Imaginar Brunna Gonçalves sendo carinhosa, e não uma maluca louca por sexo, era algo inimaginável há algumas semanas. Eu era idiota demais por pensar que talvez pudéssemos ter um relacionamento apesar de tudo? Nós havíamos trocados uma série de beijos, todos sendo avaliados por Robert através do espelho. Claro que me senti um pouco desconfortável com isso, mas Brunna parecia segura, então eu tentava também estar.

- Nós já estamos chegando, senhorita. - Robert nos avisa, e baixo os olhos. As luzes de Louisville piscava, e meu coração  dá um solavanco ao ver minha cidade bem ali, Robert começa a descer o Mercedes, e meu sorriso está enorme. Eu estava voltando pra casa.



(...)



Após sairmos do helicóptero e desperdimos de Robert, guiei Brunna até a saída do heliporto. Pegamos um táxi e dei o endereço da minha mãe. O taxista nem pareceu perceber Brunna, o que foi bom. Logo vejo a casinha da minha mãe aparecer, e meus olhos se enchem de lágrimas. Eram mais de oito da noite, a mamãe estaria acordada com certeza, jogando baralho com a mãe de Vero, tomando cerveja. O táxi para, pago e Bru é eu descemos. Paramos em frente a minha casa. Eu via os desenhos de Alex e eu que havíamos feito na garagem da minha mãe quando tínhamos 16 anos. Meu skate deveria estar guardado ali dentro. Olho pra Brunna e ela está me encarando.

- São muitas lembranças, né? - Confirmo com a cabeça e suspiro.

- Vamos conhecer a senhora Oliveira.

Andamos até a soleira da porta, eu com minha mochila nas costas e levando a mala de Brunna. Nossas mãos estão unidas. O clima está ameno na cidade, e posso ouvir o som de risadas vindo de dentro da casa. Eu conhecia muito bem aquela risada. Alex. Aperto a campainha e ouço a voz da minha mãe: "Já vai." As trancas da porta são giradas e logo dou de cara com o rosto de Silvana Oliveira, minha mãe. Quando percebe que sou eu ali, mamãe dá um grito, e sorrio amarelo.

- Oi, mãe. - Digo, e ela pula em meus braços.

- Meu deus, Ludmilla Oliveira! Eu senti tanta saudade! - Minha mãe aperta meu corpo contra ela, tão forte que começo a sufocar. Ela tem aquele velho cheiro de café que eu amo.

- Eu também senti, mãe. - Beijo sua bochecha. Mamãe parece notar Brunna ao meu lado, e seus olhos esbugalham.

- Puta merda, é Brunna Gonçalves na minha porta? - Sua boca está aberta e Brunna dá um sorriso tímido. Um sorriso, particularmente, lindo.

- Olá, senhora Oliveira. Muito prazer em conhecê-la. Sou Brunna Gonçalves, namorada da sua filha. - Minha mãe dá pulinhos quando ouve isso, e me sinto tentada a fazer o mesmo.

- Caramba Lud, não acredito! Ah, meu deus, querida entre, entre.

Minha mãe coloca Brunna e eu para dentro, e passo meus olhos pelo lugar. Tudo parecia estar da mesma forma. As fotos na parede. Quando me formei no primário. Meu nascimento. Festas. Tudo. E tinha aquele cheiro de café e tomates fritos. Eu estava em casa. E com a minha garota, finalmente.

Hands To Myself - BRUMILLAOnde histórias criam vida. Descubra agora