quarenta e um

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Felipe: E isso existe?
Gustavo: Claro que sim! Em que mundo você vive? — Ele ri outra vez.
Felipe: Ué, sempre que eu aparecia na cozinha tinha comida pronta. Não é assim pra todo mundo?
Gustavo: É claro que não. Você nunca ouviu falar na vida nas favelas?
Felipe: Claro que já, mas era só sobre elas serem cheias de bandidos. Inclusive, eu estou na casa de uma — Rio.
Gustavo: Mas não existem só bandidos em favelas. Na verdade, a maior parte das pessoas são de bem, apenas de baixa renda.
Felipe: Eu não sabia...
Gustavo: Felipe, tudo aqui é totalmente diferente do ambiente em que você cresceu. E, pelo visto, seus pais não lhe ensinaram nada sobre humildade.
Felipe: Ensinaram sim. Eu só acho ridículo. Quer dizer, achava... Eu achava que essas pessoas só tinham casas assim porque queriam. Sempre achei feio. Meu pai brigava comigo porque dizia que as pessoas não conseguiam pagar algo melhor e eu pensava "Como assim não?". A culpa não é cem por cento minha...
Gustavo: Bem, mas o importante é que agora você sabe. Sabe que é mimado... — Eu o interrompo.
Felipe: Eu não sou mimado!
Gustavo: Calado, e sim, é mimado sim.
Felipe: Não sou!
Gustavo: É sim, e pronto — Eu bufo.
Gustavo: Continuando a minha linha de raciocínio... Agora você sabe que é mimado, sabe que nem todas as pessoas tem a mesma quantidade de dinheiro que você, na verdade, seu pai é uma das pessoas mais ricas do mundo, ou seja, é quase impossível achar alguém que tenha ao menos noventa por cento de tudo que você tem.
Felipe: Oh, meu Deus...
Gustavo: É sério que você não sabia disso? — eu assinto.
Felipe: Sempre achei que todo mundo tinha uma vida igual a minha, até porque eu sempre estudei em escola privada, todos que estudavam comigo eram ricos. Para mim esse negócio de ser pobre ou era fingimento, ou coisa de filme — Gus ri. •

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