Real e irreversível

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Diana Barry

O que mais me atraía em Jerry era sua beleza, seu sorriso e seu jeito gentil. Sempre que visitava Anne, ele me cortejava como um nato francês e isso era extremamente adorável. Eu me acostumei com a visão do menino de boina e calça remendada do campo, de palavras simples e sem grandes perspectivas de vida, mas quando o vi vestido com um traje a rigor, quem não o conhecesse poderia afirmar que era um rapaz da cidade e me perguntei como a vida poderia ser tão complexa, era fácil vê-lo bem ali, entre os nobres, seu coração deveria ser o mais nobre entre todos. Mas vinha de uma família que precisava dele.

-Jerry... – sussurro ainda em choque.

-Estava incrível a música. Era Chopin, certo? – ele pergunta com um sorriso tímido que fez meu coração acelerar.

-Era isso mesmo. –Ficou surpresa por Jerry conhecer algo de música clássica e ele pareceu reparar meu espanto.

-Sabia que amava música então eu admito que pesquisei um pouco sobre. – o rapaz comentou, ajeitando o blazer de forma sem graça.

-Podemos conversar? Em particular? – perguntei.

-Irá ser rude comigo novamente? – ele pergunta cruzando os braços.

-Não, eu prometo.

Fomos para os jardins que estava a sós e sentamos num banco em frente ao chafariz cercado de flores, ficamos poucos segundos em silencio, como se a ideia de estarmos aqui, juntos, em outro lugar tão distinto de Avonlea, fosse bem perturbadora. Jerry observava as flores e parecia preparado para o que quer que eu fosse fizer, isso só me fez sentir-me mais arrependida de tudo, como eu deveria tê-lo magoado.

-Sinto muito pela nossa última conversa, Jerry. Sei que fui cruel e insensível e você não merecia o que aconteceu. Eu gostava de você, mas eu admito que gostava da aventura que era ser você, um romance impossível. Eu fui egoísta e muito cruel. Eu sabia que não teríamos futuro, mas fui alimentando nossa relação de forma injusta. –Jerry pareceu ouvir o que eu disse e suspirou.

-Eu sofri muito, Diana. Eu realmente gostei de você.

-Eu também gostei de você. Não ache o contrário! Mas sei que merece alguém melhor. – comento, sentindo as lágrimas arderem minha vista. – Eu me arrependi muito do que eu fiz, eu espero que um dia possa perdoar a menina boba que eu fui. Achei que o que eu sentia por você era passageiro, mas vir para longe só fez perceber que o que eu sentia era mais do que um ato rebelde. Anne me contou que você está se esforçando, está estudando e estou muito feliz por você, eu não quero magoá-lo mais, quero que seja feliz, com uma moça que reconheça desde o início seu valor. Você tem tanto a oferecer ao mundo e sinto muito ter julgado não só nossa relação como você.

Jerry permaneceu quieto, sei que quando fico nervosa eu acabo falando rápido demais e ele devia estar processando tudo o que eu disse. De repente eu me senti muito triste de vê-lo ali e saber que o perdi. Então ele toca a minha mão apoiada no banco e sorri para mim. Era o sorriso mais gentil e límpido dele a qual eu amava, incapaz de guardar mágoa de alguém.

-Está tudo bem. – ele segurou minha mão e ficamos quietos alguns segundos.

Senti um peso sair do meu coração ao ver que ele havia me perdoado. Ficamos algum tempo nos encarando, sem esconder o sorriso um do outro, sentindo a importância daquele momento. O silencio era quase angelical, o som da cascata da água, dos insetos, do vento, ela apenas Jerry e eu.

Ele acariciou meu rosto e me aproximei mais dele, sendo levada pelo momento. Por um segundo me envolvi num transe e estávamos prestes a nos beijar quando eu vejo algo na janela do andar de cima que simplesmente acaba com o momento.

A LOVE STORY || AWAEOnde histórias criam vida. Descubra agora