•Espíritos Ancestrais•

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Ter recorrido a tia Josephine foi a melhor ideia que pude ter. Estávamos na mansão com várias pessoas discutindo o caso. Com a orientação da senhora, Roy entrou em contato com alguns redatores que escreveriam sobre o caso. Ele iria lá como um simples repórter que comentaria sobre as peças de couro que era fabricada na escola. Enquanto isso, o pai de Winnie, um doutor da lei, já fazia seus contatos para que pudessem desfazer aquilo.

Apreensiva, aguardamos Roy retornar da visita ao local. Gilbert e eu estávamos sentados na sala, junto com os demais. Ele apertava a minha mão, tentando me fazer acalmar, mas eu só queria fazer algo agora, depressa.

Duas horas depois o rapaz volta e seu olhar horrorizado só me deixou mais nervosa. Diana levou os pais da menina para outra sala, queríamos evitar deixá-los mais nervosos.

-É um perfeito hospício! – comentou o rapaz. – Tentei ser discreto e perguntava somente o necessário, mas se pudessem ver como era lá dentro...

-Você a viu? – pergunto.

-Infelizmente não. Todos estavam trancados, vi apenas um menino levando baldes pesados para a cozinha. Ele estava muito doente, o rosto magro e anêmico.

-Céus... – murmurou tia Josephine. – Em todos os meus anos, nunca vi tamanha barbaridade.

-Poderemos reverter, as fotos e o que conseguiu ver vai nos ajudar a divulgar a notícia. Irei passar o caso ao gabinete de leis no Canadá. – tentou nos acalmar o senhor Rose, pai de Winnie.

O dia seguinte foi corrido, fiquei tão encantada com a quantidade de pessoas que se prontificaram em ajudar a Kakuet que nos inspirava cada vez mais. Não era apenas por ela, ela pela justiça.


Visão Geral


Ka'kwet esperava toda noite de forma ansiosa a pequena fumaça ao longe. Era o que a mantinha viva e forte, era o que lhe dava esperança.

A menina esperou a madre superiora fazer sua inspeção diária nas camas e no corpo das crianças. Assim que ela olhou com nojo pelo quarto e fechou a porta, Ka'kwet levantou na ponta dos pés e foi a janela. A pequena e enjaulada janela.

E com uma dor excruciante, a menina viu que não havia fogo. Não havia nada.

Em quase um ano, os pais não deixaram um dia sequer de se fazerem presentes. Mas hoje não.

A menina tentou sorrir, mas os lábios tremeram, sentindo a solidão. Os pais seguiriam em frente, não há esperança para ela. Ka'kwet desejava que eles fossem felizes.

Ela tentava ficar feliz, pois sabia o quanto os pais deveriam estar sofrendo, mas não conseguia ao sentir a esmagadora sensação de estar sozinha.

Ka'kwet jogou o lençol em cima do corpo, tentava controlar o choro. Da última vez que a madre superiora a pegou chorando, ela recebeu dez chibatadas na mão. Ainda não havia cicatrizado direito. Mas ela queria poder chorar, chorar o luto, a perda de sua vida. Sua única linha que a ligava a tudo aquilo que ela era, a tudo aquilo que ela tinha.

Ka'kwet ia chorando de mansinho e levou um susto quando as crianças cochichavam entre si.

-Ouviu isso? – uma sussurrou.

Por um segundo, ela achou que era ela. Que o choro que havia acordado os demais, mas então ela também ouviu.

Ela ouvia vozes alteradas que estavam abafadas pela porta, e ouvia muitos passos. As crianças se agitaram ao ouvir o som tão perto, no corredor... e aumentando.

A LOVE STORY || AWAEOnde histórias criam vida. Descubra agora