Eu tinha que ser muito ingênua para não imaginar a possibilidade de que Gilbert não voltaria para casa no feriado de Pascoa. Sei que parece a probabilidade de uma em um milhão pegarmos o mesmo trem, mas é só o início das coincidências. Eu queria ver Delphine e Bash, Marilla com certeza os convidará para o almoço de Páscoa, terá a missa de domingo na igreja e a apresentação da peça a qual todo ano ajudamos, ele estará lá, em todo o lugar! Como uma assombração, um fantasma me lembrando do quanto eu nasci para ser atormentada.
Afundo minha cabeça na poltrona e vejo pela janela as árvores passarem por nós a medida que ia ficando cada vez mais tarde. Diana já dormia ao meu lado, mas eu estava sem sono. Minha mente hora vagava em Green Gables cada vez mais perto hora ia em Gilbert na cabine da frente. Maldita hora para ter uma mente tão fértil, Anne Shirley!
PARA-DE-PENSAR!Depois de quase uma hora com a mente a mil, me levanto com cuidado para não acordar nem Diana nem a ninguém, pois todos estavam dormindo e caminho até a porta do vagão, onde ficava um compartimento a céu aberto ligando o outro vagão, como um tipo de varanda para fumantes.
Fecho a porta e me apoio na varanda apreciando o som dos trilhos e do vento gelado em meu rosto, sem me preocupar de fazer barulho. Fico assim algum tempo, em paz, como se a alta velocidade jogasse os meus pensamento turbulentos ao vento e não sobrasse nada dentro de mim, só a sensação e algo que eu não precisava pensar.
Os minutos transcorrem pacíficos, até a porta do vagão ao lado se abrir. Eu não fico surpresa de ver Gilbert ali. Ele tinha um saco de pãezinhos em mão e provavelmente saiu para não incomodar ninguém com o barulho. De tanta hora para seu estômago roncar, era claro que seria justamente quando eu estava aqui também!
Eu já estava tão fadigada, tão exausta de tudo o que eu estava sentindo que não me importei dele estar aqui. Eu preciso de ar, preciso de paz e por enquanto aqui é o melhor lugar.
-Aceita? – ele pergunta se apoiando ao meu lado.
-Não, obrigada.
Ficamos mudo um tempo, eu estava de olhos fechados. Tentando só sentir ao invés de pensar que o cara que partiu meu coração estava a centímetros de mim.
-Bash está louco para te ver. – Gilbert comenta um tempo depois. Ainda de olhos fechados eu inspiro profunda e lentamente para não me estressar e voar em cima dele. É difícil ignorá-lo se ele ficava puxando assunto comigo como se nada tivesse acontecido.
-Gilbert, você pode não falar comigo, por favor? Não torne tudo pior pra mim.
-Você fala como seu pra mim fosse fácil.
-Foi bem fácil você ter partido. – digo de forma ríspida.
Então Gilbert se vira e eu também o encaro, surpresa até como eu consegui ser forte e firme enquanto meu coração pulava para fora da boca.
-Não foi fácil, Anne. Foi a coisa mais difícil que eu já fiz em toda a minha vida. – sua voz estava séria, magoada e, acima de tudo, crua e verdadeira.
-Então porque você me deixou? – digo e minha voz falha. Não chora, Anne. Por favor.
-Porque eu não aguentava mais magoá-la tanto.
-E por isso me magoou ainda mais?! - tento não rir no meio do nervosismo que começava a se instalar.
-E por isso eu deixei o caminho livre para ver outras possibilidades. Porque eu me apaixonei por você por transbordar bravura e independência. Eu tirei isso de você, eu a machucava a e fragilizava. Anne, eu a deixei porque te amo demais!
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A LOVE STORY || AWAE
Romansa{ᴠᴇʀsãᴏ ᴀʟᴛᴇʀɴᴀᴛɪᴠᴀ - 𝟺ª ᴛᴇᴍᴘᴏʀᴀᴅᴀ} Anne estava vivendo seu sonho, estava finalmente em Queen's University com sua melhor amiga, havia aceitado seus cabelos ruivos e, acima de tudo, Gilbert havia declarado seu amor antes de ir para Toronto. O que...