Meu coração batia de forma descompassada enquanto eu andava em direção a minha casa. Meus pés me guiavam e instintivamente eu me levava para longe daquilo tudo enquanto minha mente fervilhava em sentimentos.
Ainda sentia o cheiro forte e único de Tommy, sentia o calor de seus dedos roçando minha pele, o sabor de sua boca...
Passo pela cerca em direção a fazenda quando vejo alguém sair da casa do tio Bash, por um segundo ignoro, achando ser Mary indo brincar com as gêmeas, mas então ouço sua voz me chamar.
-Rilla!
Viro e suspiro aliviada, num mister de surpresa e alegria, correndo a seu encontro sem conter o grito.
-Delphine! Oh, que saudades! – abraço-a com força e ela me aperta. – Achei que a veria apenas nas próximas semanas!
-As provas já terminaram então eu me adiantei para fazer surpresa. É tão bom vê-la! - ela sorria.
(Delphine Lacroix)
O sentimento confuso que passei, misturando as saudades de minha prima resultaram e lágrimas que escapavam os olhos e eu não conseguia conter.
-Rilla, o que houve?
-Eu... eu acabei de fugir do Tom. – digo suspirando e me recompondo.
-Ah, qual foi a implicância da vez? – Delly esboçou um sorriso.
-Ele me beijou e... e eu correspondi. - Delly arregalou os olhos e ficou atônita alguns segundos.
-Ok, acho que as novidades da faculdade podem esperar. - ela me puxa pela mão, ansiosa para saber mais.
Depois de ser esmagada pelos meus pais e meus irmãos, eu e Delly conseguimos fugir deles e nos trancamos em meu quarto.
Delphine era inteligente, sagaz e espirituosa. Eu a admirava muito, desde que partira no início do ano para a faculdade, sinto profundas saudades suas. Nós duas e Cordélia passávamos muito tempo juntas.
Conto brevemente de meu jantar nos Gardners, do clube, do beijo, do meu pânico...
-Acho que é compreensível... – ela comentou pensativa deitava em minha cama. – O medo na hora sabe... porque você percebe a intensidade que sente algo... é assustador, principalmente alguém que jurava detestar. – Delly sorriu, mas depois se virou e me encarou. – Mas e agora? O que sente? O que dirá quando vê-lo amanhã?
Estou na penteadeira, desfazendo a trança e encaro-a pelo reflexo do espelho.
-Eu não sei... – suspiro.
-Tá, vou melhorar minha pergunta, você gostaria que aquilo se repetisse?
-O beijo?
-É, tipo, o combo do beijo.
Lembro de seu abraço, de sua companhia e da conversa, do meu coração acelerado com cada movimento seu, de sua voz, da noite maravilhosa em sua casa, com seus pais, do seus olhos sob os meus, seus lábios...
-Você está sorrindo! – comentou Delly me tacando uma almofada.
-Tá, talvez eu tenha gostado... - digo rindo agarrando a almofada.
-Então pronto. Tá aí sua resposta.
-Acho que está certa. Amanhã eu vou falar com ele. – digo tomada por uma energia ansiosa surreal. A ideia de encontra-lo agora era animadora.
-Agora posso ouvir suas histórias em Queens! Quero saber tudo! – digo fazendo-a rir.
Delphine sempre teve uma beleza exótica, que chamava atenção. Por muito tempo foi tratada de forma diferente, mas a medida que ia crescendo e mostrava sua graça ao povo pacato de Avonlea foi ganhando o coração de todos, inclusive dos meninos que começaram a olhá-la com devoção. Uma prova disso era o Franck, ele era apaixonado por Delly, mesmo ela sendo um pouco mais velha que ele. Mas Delphine nunca olhou para os rapazes da Ilha do Príncipe Eduardo, ela queria mais e eu era apaixonada pelos ideais dela. Ela não se contentava com pouco.
-Eu conheci um homem incrível em Queens. Eu estava na biblioteca e me deparei com uma figura negra me encarando, como se eu fosse um oásis no deserto. Óbvio que negros não são a maioria lá, principalmente mulheres, mas então nossos olhos se encontraram e química foi inevitável. Nos tornamos o refúgio um do outro no mar de gente branca.
-E ele é bonito?
-É maravilhoso! Charmoso... sedutor... ai. – Delly suspirou me fazendo rir.
De repente a campainha toca, mas continuamos conversando sobre o suposto pretendente de Delly, quando escuto John me chamar no andar debaixo. Desço e Delly me acompanha, fico surpresa ao ver Gus Andrews a porta.
-Augustus? Algum problema?
Olho para Delly e para John que havia se afastado, mas estava ainda perto para ver do que se tratava. Ele também parecia surpreso com a visista do rapaz.
-Oi, desculpa a hora, mas eu estava caçando, de passagem na floresta, então eu trombei com o Tom e ele me pediu a gentileza de vir te dar um recado. – ele coçou a cabeça um pouco confuso e sorriu. – Ele pediu para dizer que havia sido um erro, que seria melhor esquecer tudo aquilo em prol da amizade de vocês. – ele comenta. – Faz sentido para você? Ele não quis explicar o que era...
Pisco algumas vezes desnorteada e olho para Delly que também parecia chocada e desapontada. Volto minha atenção a Gus e forço um sorriso.
-Obrigada pelo recado, fez sentido sim. – sussurro. Ele abre um sorriso.
-Que bom. Não entendi muito o porquê ele não podia dar o recado pessoalmente amanhã, mas eu estava de passagem e... bem. Ele realmente devia estar evitando o assunto. – ele sorriu como se pedisse desculpas.
-Tudo bem. Obrigada pela gentileza.
-Boa noite. Ah, oi Delly, bom vê-la também! – o rapaz sorri e acena para a moça ainda na escada atrás de nós. Ela apenas sorri e então Gus dá as costas e vai embora.
-Porque o Tommy ia pedir recado para o Gus? – questionou John se aproximando confuso.
-Não é nada. – suspiro devastada e sorriu. – Ele apenas não quis ser homem o suficiente. – digo e subo as escadas sentindo profunda tristeza.
Continua...
VOCÊ ESTÁ LENDO
A LOVE STORY || AWAE
Romansa{ᴠᴇʀsãᴏ ᴀʟᴛᴇʀɴᴀᴛɪᴠᴀ - 𝟺ª ᴛᴇᴍᴘᴏʀᴀᴅᴀ} Anne estava vivendo seu sonho, estava finalmente em Queen's University com sua melhor amiga, havia aceitado seus cabelos ruivos e, acima de tudo, Gilbert havia declarado seu amor antes de ir para Toronto. O que...