CAPÍTULO 1

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LUNA

Desde pequena eu sabia que tinha algo de diferente. Eu sempre tive os sentidos mais afiados do que o normal, sempre gostei de me conectar com a natureza no seu profundo e me sentia enclausurada se morasse longe dela ou ficasse grandes períodos longe.

Podia parecer meio estranho uma criança de oito anos parada encarando a lua como se fosse algum objeto mágico, mas era assim que eu era.

Não ajudava nada na hora de dormir na casa das amiguinhas ou passeios na pré-adolescência. Mas era o que era e minha mãe apenas dizia que era coisa normal, coisa de criança e cada criança era uma criança e que eu só deveria ter cuidado pra não ficar mostrando isso. Então eu aceitei e segui em frente e fui escondendo tudo isso. Escondendo o que eu podia fazer e tentando me enturmar, afinal, quem quer ser a criança estranha?

Eu amava a minha mãe, mas ela era muito paranóica. Controladora, de fato. Nos mudávamos o tempo todo, não tínhamos raizes em lugar nenhum. Ela sempre queria saber onde eu estava e que horas eu voltaria, e ai de mim se eu mentisse. Ela sempre andava na rua como se estivéssemos sendo perseguidas e não queria que eu saísse, pior, não queria a minha liberdade.

E até a minha doença, ela conseguiu me enrolar e eu tinha feito até faculdade a distância. Eu perdi muitas oportunidades por me deixar levar pela neurose dela. Agora não mais. Eu tinha vinte e quatro anos e uma vida a minha frente cheia de oportunidades. Uma das poucas coisas que minha mãe me permitiu, foi tirar a carteira de motorista, que agora me ajuda e muito.

Agora eu tinha um carro bem velho que me servia de casa e eu estava dirigindo para a minha próxima parada, minha próxima casa. Eu estava deixando meu coração me guiar para onde ele achava melhor.

Enquanto eu ia dirigindo de cidade em cidade, eu não podia deixar de lembrar da minha última briga com a minha mãe.

" Estávamos em nossa mais nova casa. Morávamos aqui havia cinco meses. Era uma casinha alugada na cidade. Era perto das coisas, mas eu nunca podia sair por tempo suficiente para construir uma vida para mim mesma, e depois de ouvir a vida noturna das pessoas, de andar de manhã para ir na padaria e ver jovens da minha idade voltando cedo ou curtindo, eu estava cheia.

- Isso não é vida! Eu não tenho amigos, nunca fui em festas, nunca sai e principalmente, não vivi por todo esse tempo! Eu preciso disso, mãe! - Era véspera do meu aniversário de vinte e quatro anos e eu estava cheia disso. Cheia de não ter amigos ou conexões.

- Você não entende, Luna! Lá fora é perigoso, existem coisas que você não entende... - Eu a corto com a paciência esgotando.

- Que coisas, mãe? Desde os meus quinze anos eu te pergunto que coisas são essas que te impedem de viver e que te forçam a me impedir de viver! É isso que você quer? Que eu viva presa e condenada?

Ela fica pálida e faz uma careta como se eu tivesse acertado ela. Por dentro, eu podia sentir o meu coração doendo. Por que ela me prendia tanto? Por que ela não me deixava viver?

- A última coisa que eu queria era te condenar a uma vida presa, minha filha... - Ela diz em um sussurro sofrido.

- Então, por que você faz exatamente isso?- Ela me encara e sai da sala e eu apenas balanço a cabeça. Não tinha jeito. Era sempre assim.

No dia seguinte ela tinha deixado um bilhete com as chaves do carro.

Encontre seu caminho, minha filha.
Mas tome cuidado para ele não encontrar você antes.
Eu te amo como a lua ama o sol, mãe."

LUNA (Sol da meia-noite #1)Onde histórias criam vida. Descubra agora