CAPÍTULO 15

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UMA SEMANA DEPOIS

LUNA

Uma semana depois e as coisas estavam... estranhas.

Era como se todo mundo sentisse que algo estava por vir... ou só eu que sentia isso no âmago do meu ser com tanta força que eu parecia aquelas pessoas do filme Premonição.

Até mesmo eu e Dom. Era como se ele estivesse escondendo algo de mim, se contendo, de guardando. Sempre que ficávamos sozinhos e eu pensava em até tentar levar as coisas para um nível mais... além, ele se afastava com raiva, como se estivesse bravo consigo mesmo ou até mesmo comigo e eu não entendia nada. Ele só me beijava e ia embora.

Scarlet me olhava de um jeito engraçado e fazia alguma piada interna antes de olhar pro lado. Era um clima tão estranho que hoje eu tinha decidido acabar com tudo isso. Botar todos contra parede e eles iriam abrir o jogo pra mim, chega disso.

Mas quando acordei, tinha um sentimento estranho rondando meu coração, me deixando ansiosa e nervosa. Era como se eu soubesse que algo iria estourar hoje.

E acabou que eu estava certa.

Eu estava limpando o balcão do bar enquanto Dom e Xavier foram comprar coisas para reabastecer o estoque e Scar estava limpando o escritório dos fundos.

O bar estava fechado, por isso quando a porta abriu e eu gritei sem olhar para atrás que estávamos fechados, meu coração quase parou a voz da minha mãe respondeu.

- Eu imaginei.

Deixei o pano cair e me virei assustada.

- Mãe?

- Oi, filha. Eu não vou ganhar um abraço? - Ela sorri meio forçada mas abre os braços. Mesmo achando muito estranho, eu atravesso o bar e a abraço apertado. - Eu senti tanto a sua falta, minha filha, e tão preocupada.

Eu a apertei antes de soltá-la.

- Você está bem? A nossa última ligação... a senhora não parecia soar como você.

Ela me olha séria e desconfiada para os lados e pega a minha mão.

- Vamos embora daqui, e vamos agora. Esse lugar não é seguro para gente, não é seguro principalmente para você. - Ela tenta me puxar mas dessa vez eu travo e me solto dela.

De novo não.

Toda vez era a mesma coisa, a mesma história e o mesmo papo furado.

"Aqui não é seguro"
"Aqui é perigoso"
"Nós não estamos seguras"
"Eu só quero te manter segura, essa é a minha única preocupação no mundo"

E nenhuma dessas vezes ela conseguia me explicar e eu acabava indo na dela porque eu pensava "talvez ela tenha razão" ou qualquer coisa do tipo. Eu costumava confiar e acreditar cegamente nela, afinal, ela era a minha mãe, a únicos familiar que eu tinha no mundo e eu não tinha laços com mais ninguém além dela.

Mas não dessa vez.

Dessa vez eu tinha laços. Eu tinha amigos. Eu tinha um namorado e um trabalho que me dava a independência que eu precisava para viver como eu queria. Não era uma riqueza ou vida luxuosa, mas era uma vida que me dava feliz por ser minha e era isso que importava.

- Não! Dessa vez eu não vou até que você me explique porque eu não posso estar aqui. Por que nenhum lugar é seguro, mãe? Por que nunca é seguro? Por que você não me explica de uma vez por todas porque diabos vivemos dessa forma?

Minha mãe me olha angustiada, com uma mágoa tão grande nos olhos que eu por um minuto me arrependo de ter dito da forma como eu disse. Ela parecia estar a minutos de surtar e foi isso que ela fez.

Ela surtou.

- Você não vê? Não vê que todo esse tempo eu tenho tentado te proteger de pessoas que só iriam te forçar a fazer coisas que você não queria, a levar uma vida presa aqui, a se casar com um cara que talvez você nem ame e ser forçada a isso só por conta do "destino". - Ela bate no peito chorando. - Somos nós que construímos o nosso destino, minha filha. E eu fiz questão de construir um pra você. Um com escolhas.

Eu estava começando a sentir aquele mau pressentimento se apoderar por todo o meu corpo. Tudo se encaminhando pra uma conclusão turbulenta e parecia um daqueles momentos que mudam a vida da gente, sabe? Que você vê quem você é e quem você vai ser, vai se tornar.

- E que futuro seria esse se eu nem conheço meu passado? - Pergunto com amargura e sinto o cheiro de Scarlet antes da minha mãe afastar os olhos de mim e focar na minha amiga com raiva nos olhos.

- Essa vida de matilha é sufocadora e eu culpo a eles por instalarem isso na sua cabeça. A fazerem você crer que eles querem você aqui por escolha e não por obrigação.

Vida de matilha?

- Luna, eu já liguei pro meu irmão, ele e o Xavier já estão voltando e...

Por que a voz dela tinha um temor? Como se ela também soubesse algo que eu não sabia.

E dessa vez foi a minha vez de surtar.

- Da pra alguém me dizer o que diabos está acontecendo? - Eu gritei e olhei para as duas, me afastando das duas como se eu precisasse de espaço para processar qualquer loucura que aparecesse agora.

- Eles são lobos. - Minha mãe soltou e por um segundo o mundo girou e eu parei de raciocinar.

Lobos?

Que?

- Que? Você está me zoando, mãe? Está brincando comigo? Lobos não existem e com certeza deve ter uma explicação melhor do que essa?

- Nós somos lobos, não é mesmo, Miranda? - Minha amiga olha para a minha mãe com raiva antes de me olhar mais suavemente. - Lu, presta atenção, eu sei que pode parecer loucura, mas pensa bem, seus instintos aprimorados, sua conexão com a natureza e como você se sente melhor cercadas por nós, como se precisasse de um bando... E seu remédio.

- Meu remédio? - Eu ainda estava incrédula ouvindo tudo aquilo.

Ela percebeu? Notou meus instintos aprimorados? Mas...

Eu ainda estava confusa quando ela respondeu.

- Seu remédio tem um cheiro estranho e aquela vez que você esqueceu e passou mal com o Dom, minha mãe disse que parecia que você iria se transformar e... - Ela deu de ombros. - Estávamos esperando que a sua mãe chegasse aqui para esclarecermos tudo isso.

Estávamos?

Quem mais estava?

E por que eu estava considerando isso?

Aquele sentimento ruim estava me consumindo cada vez mais, me deixando cada vez mais sufocada até que a porta da frente abriu novamente e Dominic entrou com o rosto assustado antes de ficar em mim.

E tudo o que eu podia pensar era que essa loucura podia ser verdade.

E essa foi a última coisa que eu pensei antes de desmaiar.

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LUNA (Sol da meia-noite #1)Onde histórias criam vida. Descubra agora