CAPÍTULO 2

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ROSA


— Pessoa desaparecida. Homem. Catorze anos de idade. Visto pela última vez em Ssamzigil¹ às três e meia, ontem à tarde. Seokjin? Você está pronto para ir?

Homem. Catorze anos de idade. Suas palavras ecoam na minha mente, fazendo com que os cabelos arrepiem no meu pescoço.

— Quantos anos você tem? Doze?

— Eu tenho catorze anos, e eu não sou uma criança!

— Sim — eu respondo, apertando os olhos — Se acalme, Taehyung.

A idade da vítima me faz estremecer. É um lembrete de como eu também fui levado nessa idade. Forçando a memória de volta para o fundo da minha mente, eu levanto uma sobrancelha e aceno com um dedo.

Ele resmunga enquanto sai. No momento em que o Delegado Lee nos designou para trabalharmos juntos, Taehyung ficou meio aflito. Temos sido parceiros por oito meses e ele ainda me trata com estranheza. Pode ser por causa da minha idade, mas eu não tenho certeza. Fiquei bastante atrasado nos estudos e tive que correr para alcançar o nível certo, porém consegui meu cargo na academia muito rápido comparado a maioria. Mas eu não sou incapaz. Eu trabalhei pra caramba para chegar a uma posição onde eu poderia realmente fazer algo sobre os monstros do mundo.

Joonie.

E talvez isso seja um problema para Taehyung, mas eu não serei tratado como se eu não importasse. Ele não tem autoridade sobre mim. Eu deixei isso claro; ele nem mesmo trabalha nos fins de semana. Eu sou o detetive dos sonhos de Lee quando se trata de resolver casos difíceis e encontrar os pequenos detalhes que possam incriminar a pessoa. Quando eu estou debruçado sobre os arquivos e provas, estou no meu universo. As pistas não me iludem. Eu faço sentido na loucura. Porque eu vivi dentro dela.

São as pessoas que têm problemas.

Pessoas como Kim Taehyung.

A fábrica de fofocas na delegacia é forte. Eu escuto os sussurros e vejo os olhares quando as pessoas passam por mim. Todas elas sabem. Todo mundo sabe que eu fui sequestrado com a minha irmã quando eu tinha catorze anos e que de alguma forma consegui escapar quando eu tinha dezoito, deixando minha irmã com então treze anos de idade para trás. Todo mundo sabe que eu quase morri no dia em que escapei quando fui atingido por uma caminhonete. Todo mundo sabe que eu fui estuprado e torturado de diversas maneiras.

Inferno, está no sistema, eles só têm que procurar a informação em seu computador e está tudo lá para eles verem. Para fazer suposições sobre mim e falar em voz baixa com bebidas no bar... Para falarem pelas minhas costas que eu não fui um bom irmão mais velho e fugi abandonando minha irmãzinha. Eles são tão sutis quanto um coice de mula.

Depois do acidente, eu passei três semanas em coma induzido devido à hemorragias internas e inchaço no meu cérebro, e quando eu acordei, eu não me lembrava de nada.

Me lembrava de Joonie, ou Jooheon... Ou seja lá quem ele realmente é. Lembrava dele nos levando. Lembrava da forma como a sua pele lisa era na minha enquanto ele pegava o que não lhe pertencia até tarde da noite. Me lembrava no início o jeito que ela chorava todas as noites até que adormecesse.

A pior parte de recordar certos momentos é que ainda afeta a minha vida cotidiana. Eu posso atirar em um homem que puxa uma arma para mim, mas eu não posso ir ao banheiro no meio da noite sem que uma luz esteja acesa. As sombras me afrontam; elas vêm me esconder dos monstros que podem estar à espreita.

Me lembro do silêncio ensurdecedor de quando estou sonhando. Ele roubou tudo de mim, até mesmo meus sonhos. Me lembro do seu cheiro, gosto, altura, quão pesado ele era quando ele me prendia à pequena cama.

Marionetes | Taejin [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora