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No dia seguinte ao meu acidente perdi as contas de quantas vezes Deise se desculpou comigo. Por mais que eu dissesse que foi burrice minha chegar perto demais. De todo modo eu achava a habilidade dela muito legal, um bocado perigosa, mas legal.

Ficamos algumas horas livre pensando em maneiras mirabolantes de falar com Daniela nem que fosse por um minutinho. Eu não parava de pensar em como ela estava com medo e confusa. Felizmente não precisamos colocar nenhum plano maluco em prática. Quando chegamos no refeitório naquela manhã, Daniela estava sentada sozinha em uma cadeira, olhando para a mesa vazia.

Ela parecia tão pequena e frágil que meu coração apertou dentro do peito. As memórias do meu primeiro dia na Pirâmide ainda estavam frescas, eu entendia bem o que ela estava sentindo naquele momento.

— Os filhos da puta nem avisaram que ela já tinha sido liberada — Lily reclamou enquanto caminhávamos até a mesa.

— Por favor, Lilyan, não vá assustar a notava — Deise a cutucou.

— O que acha que sou? Um monstro?

De qualquer modo, ela seguiu o conselho e não disse nenhum palavrão quando nos aproximamos da garotinha. Sunahara foi a primeira a estender a mão, falando com aquele tom suave e pacífico na voz:

— Daniele?

Ela virou-se para nós muito rápido, fazendo os cachos chicotearem na bochecha. O rosto estava abatido, pálido e os olhos exibiam olheiras incomuns para uma criança. O olhar marejado também denunciava que ela passara muito tempo chorando.

— Q-Quem são vocês? Como sabem meu nome?

— Calma, estamos presas aqui como você — eu disse, sentado ao seu lado. — Eles avisaram que você estava aqui, por isso sabemos seu nome.

— E quem são eles?

Era uma pergunta simples que eu ainda não tinha uma resposta exata. Eles não eram um órgão governamental que existia oficialmente, então não tinha nome. Suna já tinha me falado que as Pirâmides de outras Cúpulas trocavam informações sobre as pesquisas e faziam até intercambio de internos. Com isso formulei a melhor esporta que pude pensar no momento:

— Eles são gente poderosa da Alta Cúpula.

Daniele não respondeu. Passeou o olhar cansado por nossos rostos, estudando cada uma de nós. Reparou especialmente nas maracas de cortes no meu braço.

— Eles fizeram isso com você? — indagou.

— É... mais ou menos — hesitei e Deise se mexeu na cadeira. — Você já comeu alguma coisa?

— Não estou com fome. Quero vez meus pais.

— Você precisa comer. Aí a gente conversa, certo?

Ela nada disse. Suna foi para a máquina de comida com Deise e as duas trouxeram variedades de bolos e tortas para Daniele escolher. Ela abriu uma torta de morango e ficou cutucando-a com o garfo. Naquele momento entendi a cautela que Suna teve comigo quando cheguei. O cuidado para não me bombardear com informações terríveis logo de cara. Eu tentava ter o mesmo tato com Daniele.

— Onde pegaram você? — Lily foi logo ao ponto. — O que você fez para parar aqui? Tá na cara que não veio de um centro de contenção.

— Lilyan! — Deise a repreendeu.

— O que foi? É uma pergunta simples.

Suna bufou em reprovação.

— Essa insensível é a Lily. — Apontou para mim. — Ela é a Anabel e aquela é a Deise. Meu nome é Sunahara, mas todo mundo me chama só de Suna. Somos todas internas como você. Ahn... posso ver sua cabeça um minuto?

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