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A porta da câmara de descontaminação chiou, deixando o ar do lado de fora entrar aos poucos e então começou a se abrir. Era um grossa camada de aço curvado que se movia lentamente com a força das válvulas. O primeiro filete de luz se espremeu pela brecha crescente. Luz de um sol de verdade. Dei um passo para frente, ansiosa para ver o lado de fora, mas um dos guardas colados em mim me puxou pelo braço.

— Você só anda quando nós andarmos — ordenou, sua voz desgostosa nos fones do meu capacete. Ninguém além de mim queria estar ali. A maioria das pessoas não se importava com o que tinha do lado de fora das Cúpulas o mundinho delas era dentro das barreiras. Por muito temo foi assim para mim também.

Finquei meus pés no lugar e contive o ímpeto de sair correndo pela fresta da porta larga o suficiente para que eu pudesse me espremer por ela. O interior da câmara era escuro comparado com o lado de fora e a luz que entrava ofuscava meus olhos. A porta mal se abriu completamente e eu mal conseguia enxergar, quando a equipe começou a sair e eu fui levada junta.

Mesmo com o traje de proteção pude sentir o calor do dia, foi revigorante. Meus olhos ainda estavam semicerrados por causa da diferença de luminosidade. Senti a mão de alguém no meu ombro – possivelmente da doutora –, me guiando gentilmente alguns passos adiante. E quando minha vista finalmente se ajustou, eu vi. A Floresta Mórfica.

Estávamos sob um amplo pátio cercado por altos muros de aço e concreto, mas que pareciam miniaturas comparados com as colossais árvores mórficas que estavam além dele. Plantas mudadas pelo vírus, que cresceram tanto a ponto de se tornarem quase indestrutíveis. Acoplados em plataformas próximas às colunas, jaziam alguns guardiões desativados, máquinas com seis a dez metros de altura, antigamente operadas por pilotos para defender as cidades. Ninguém mais as usa. Não são mais necessárias desde a criação das barreiras, além disso o custo para mantê-las funcionando é alto. Apenas alguns drones de vigilância patrulhavam os limites do muro

Ergui a cabeça para ver o céu. Azul. Um azul tão lindo, com algumas poucas nuvens o manchando de branco. A Dra. Arlene estava certa, era um lindo dia. Depois olhei para os lados. Algumas protuberâncias de metal erguiam-se logo a minha esquerda. Eram grandes o suficiente para guardar três Guardiões.

— São os hangares — Arlene me explicou ao me ver curiosa. — Os helis saem e entram dali.

O helis do diretor usava aqueles hangares para pousar quando ele decidia nos fazer uma de suas visitas surpresa. Foi então que me lembrei de algo que ainda não tinha visto até então. Olhei para o alto novamente, em todas as direções. Fiquei na ponta dos pés na ridícula tentativa de ver por cima dos muros e das árvores gigantes. Mas o que eu procurava deveria estar mais alto que tudo isso, deveria estar visível a quilômetros. Não estava lá. Me voltei para a doutora:

— Onde está a Barreira?

A médica me olhou através do vidro do capacete redondo e moveu os ombros de leve em um gesto defensivo, talvez.

— Está longe, Anabel.

— Não estamos na Cúpula?

Ela negou com a cabeça.

Todo aquele tempo eu acreditei que a Pirâmide fora construída em alguma área isolada dentro da Cúpula, ou no subterrâneo de algum prédio protegido do governo. Fui ingênua. O trabalho do Diretor era encontrar e retirar qualquer ameaça do vírus M de dentro da Cúpula, isso incluía as pessoas que o carregavam. Ele jamais manteria um centro de pesquisas mórficas dentro da barreira. Isso só ficou obvio quando eu sai e vi o quanto estava longe de casa. Longe o bastante para o brilho da Cúpula não ser visível. O esforço e o dinheiro necessário para construir aquele lugar no meio de uma floresta mórfica fora astronômico, sem dúvidas. Não era surpresa que o Diretor fosse tão dependente de investidores.

Os Dons do MOnde histórias criam vida. Descubra agora