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O que vamos fazer? A pergunta repetia-se em minha mente enquanto corríamos. Correr foi a única coisa que me ocorreu quando as naves apontaram as armas para nós. Os tiros começaram logo em seguida. Muitos tiros. Pela primeira vez eu agradecia por as árvores que nos cercavam serem tão grades, a maioria das balas encontravam os troncos antes de nós. Mas essa cobertura não duraria muito tempo, as naves estavam chegando mais perto, tinham mobilidade suficiente para voar entre as árvores, o sistema que as controlava não costumava cometer erros em voo.

Lily ordenou que o mórfico que a seguia também fugisse, porém ele foi o primeiro alvo dos tiros e com todo aquele tamanho, não foi ágil o suficiente para se afastar a tempo. Lily gritou quando ele foi perfurado pelas balas de calibre bem mais agressivo das naves. Agora era nossa vez.

— Derruba eles, Anabel! — Suna berrou. — Você consegue?

Olhei por cima do ombro e um tiro explodiu lascas de madeira para todo lado. Era cinco naves. Duas nos seguiam desviando de árvores no caminho, uma as acompanhava acima das copas e as outras duas eu não conseguia ver. As naves eram grandes, isso dificultava as coisas para mim, mas o problema mesmo ficava com a velocidade com que se moviam.

— Consigo — confirmei. — Só não todas de uma vez. Continuem correndo.

Eu tive que parar. Fazer aquilo sem ver já tinha se provado quase impossível quando caímos na floresta. Infelizmente uma bala passou perigosamente próxima da minha cabeça e não deixou eu me concentrar. Me joguei atrás de outra árvore, ofegando. Ao me verem encurralada as garotas pararam e também se esconderam.

— Anabel, vamos conseguir uma distração para você! — Suna gritou em meio ao barulho de tiros.

Deise começou a atirar de qualquer jeito na direção dos veículos, mesmo que acertasse não adiantariam muito contra a fuselagem blindada. Só deixaram de atirar em mim quando Suna saiu correndo para outro lado. As armas a seguiram. Eu tinha que ser rápida.

Saí da minha cobertura e foquei meus esforços na primeira nave. Estava flutuando a poucos metros do chão, virando enquanto Suna se afastava. Demorou mais que o normal, eu estava cansada, mas quando consegui força suficiente a nave veio ao chão com o baque enorme. O chão tremeu. As turbinas ainda funcionaram por alguns segundos, fazendo o veículo girar como um pião descontrolado até bater contra um tronco e parar de vez. Senti como se alguém tivesse girando uma faca enferrujada dentro daminha cabeça. Logo o sangue começaria a escorrer dos meus ouvidos ou nariz, mas eu não podia parar ainda.

A outra nave estava mais alta, ainda atirando em Sunahara, atirou e acertou. Ela era rápida, porém estava se expondo de propósito e já não tinha para onde fugir. O primeiro tiro acertou as pernas, espirrando sangue nos arbustos próximos. Outros três tiros atravessaram seus tórax. Ela nem se quer gritou, apenas caiu rolando no mato baixo. Mesmo sabendo que aquilo não fosse capaz de matá-la de verdade, foi uma cena horrível de ver.

Eu berrei e esmaguei aquela nave com ainda mais força. Talvez fosse raiva ou a  adrenalina, o fato foi que o metal ficou tão retorcido que afundou quase um metro no chão. Se nossa situação não fosse tão desesperadora, eu teria desmaiado de dor. Aguentei firme. Não olhei para o que sobrou daquilo, eu sabia que havia pessoas naqueles veículos. A última coisa que eu queria naquele momento era ver quantas vidas eu tinha tirado de uma vez só.

Corri até o corpo de Sunahara. Seu braço estava torto em uma posição dolorosa. Eu a coloquei deitada de peito para cima. O ferimento na perna já estava quase fechado, mas o três buracos no peito ainda sangravam. Eu tapei dois deles com as mãos, quanto mais ela sangrasse, mais tempo levaria para ela se regenerar. Então ouvi uma estrondosa voz ecoando pela do céu:

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