15 - Último Sopro

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Estava tudo pronto. Estávamos todos tensos, era um banco no meio de cidade e fugir seria difícil. Eu ainda não tinha superado a última vez e minha ansiedade estava a beira de sair do controle.

Eu e Poncho trabalhávamos em completo silêncio. Cada um preso em seus próprios pensamentos. Nossa relação ou seja lá o que tínhamos durante todos esses anos estava totalmente quebrada e ambos sabíamos disso.

Estava com a arma em punho do lado de fora monitorando as câmeras. Suor caia pela minha testa e eu podia ouvir minha própria respiração. Eu tinha um sentimento ruim e estava em dúvida se era pela última experiência ou um aviso. Poncho veio em minha direção e sai do carro para travar todo o sistema de segurança outra vez e tudo aconteceu muito rápido.

Policiais pararam em um carro comum e mandaram a gente se entregar mas logo os outros homens começaram a atirar. Eu estava totalmente exposta e quando me preparei para atirar tudo aconteceu.

Foram questão de segundos. Poncho me abraçou e eu ouvi o barulho de um tiro. minha reação foi rápida e disparei de volta atingindo o policial. Senti o corpo dele pesar contra o meu e nem sequer o olhei. O coloquei dentro do carro e acelerei o máximo que pude, a polícia demorou mais para nos seguir porque ainda estavam trocando tiros com os outros. Isso me deu tempo suficiente para fugir. Não vi que minha camisa estava coberta de sangue até olhar minhas mãos no volante. Minha mãos também estavam ensaguentadas - Merda - foi tudo que pude dizer, aquilo estava acontecendo novamente e podia ouvir Poncho respirar com dificuldade. Parecia que eu estava tendo um Deja vú mas dessa vez com os papéis trocados. Eu conhecia as ruas como ninguém e tinha  escondido meu carro em um lugar estratégico. Carreguei Poncho que só gemia de dor até o outro carro e dei partida.

- Poncho tenta não dormir - o olhei pelo retrovisor - Você tem que ir em um hospital ver isso - tentava conter o meu nervosismo

- Dulce eu preciso te falar uma coisa - ele falava com dificuldade, aquilo não era nada bom

- Fica quieto Poncho

- Fala pra Any que eu sinto muito, que me perdoe - naquele momento eu senti meu coração apertar - Eu a amo Dulce

- Por que você me protegeu?

- Por que eu não ia permitir que a Any perdesse a pessoa que ela mais ama - ele falava com dificuldade e eu apertei o volante com força.

- Guarde suas energias. Você vai ficar bem - foi o que me limitei a dizer.

Liguei pro Christian. Eu não sabia o que fazer na verdade. Ir pra um hospital na cidade era arriscado. Mas se não fizesse algo Poncho poderia morrer e não iria permitir isso. Christian me mandou ir em uma clinica e dirigi o mais rápido que pude. O silêncio dele a estava fazendo entrar em pânico.

Poncho já estava em cirurgia para retirar a bala faz algum tempo. Eu finalmente me permitir me ver no espelho e a cena era assustadora. Minha roupa cheia de sangue assim como meus braços. Fui até o banheiro e tentei me limpar o máximo que pude, as lágrimas começaram a cair e eu me permiti chorar. Meu coração gritava para sair disso tudo, eu não conseguia mais lidar com o eterno medo de morrer e ter literalmente sangue em minhas mãos.

Minha vontade era de gritar, de quebrar tudo para tentar diminuir o sentimento de raiva e impotência. Entrei no carro e sabia onde deveria ir. Ela estava morando em um apartamento bem simples, bem diferente do de antes. Liguei para o seu celular e ela demorou um pouco para atender. Já estava perdendo as esperanças quando ouvi sua voz

- O que você quer? - a frieza na sua voz ainda me machucava mas eu tentei ignorar isso

- Você pode vir aqui na porta? Estou em um carro cinza. É muito importante - um silêncio se instalou e estava pensando que ela estava me ignorando quando vi a porta se abrir e ela vir em minha direção. Ela entrou no carro e eu não estava preparada para lidar com esse encontro agora.

- Any o Poncho está fazendo uma cirurgia agora - vi seus olhos arregalarem e ela ficar tensa mas permaneceu em silêncio - Estávamos em um assalto e deu errado e ele levou um tiro - Any colocou uma mão na boca na tentativa de abafar um grito. Era claro que ela o amava e eu não podia julga-la por isso.

- Me leve até ele - foi tudo que ela disse e eu assenti. Fomos até a clinica e não tinha nenhuma novidade. Contei com mais detalhes o que houve.

- Ele levou um tiro que era pra mim - eu ainda tentava digerir essa informação - Ele disse que fez isso por você

- Por mim? - ela me olhou e seu rosto estava molhado pelas lágrimas, aquilo só piorava tudo e eu me controlava para não chorar na sua frente.

- Por que ele não queria que você me perdesse. Ele... - eu respirei fundo, tentando me controlar - Pediu pra te pedir perdão. Ele disse que te ama Any

A olhei desolada sentada em uma cadeira e a abracei. Ela se deixou abraçar e se apertou contra mim chorando mais forte. Eu não sabia o que fazer nem o que dizer para que ela ficasse melhor. Só deixei que ela chorasse o quanto queria e nenhuma palavra foi dita.





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