26 - Rosa Branca (Penúltimo Capítulo)

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Christopher POV

Eu não entendia onde as coisas começaram a dar errado entre a gente. Dulce parecia tão feliz quando estávamos juntos e sempre vinha com planos muito mais exagerados do que eu estava habituado. Comecei a divagar pelas lembranças dos nossos últimos dias juntos. Tínhamos falado de morar juntos quando ela finalmente conseguisse se libertar daquela vida. Dulce queria morar em uma cidade grande e eu preferia o interior. Ela queria ter cachorros e eu falei que preferia gatos, fiz isso só pra ver ela fazer o maior bico do mundo e usar de todo seu poder de persuasão pra me fazer mudar de idéia. Eu já estava disposto a ceder assim que olhei pros olhos dela, ela só não precisava saber disso. Erámos opostos em muitas coisas mas isso me divertia mais do que me irritava e eu acho que a ela também.

Quando ela saiu do meu quarto naquele dia eu senti que era o fim da linha para nós. Por mais que os últimos dias tivessem sido perfeitos entre a gente eu estava cansado daquela montanha russa emocional, quando sentia que finalmente estávamos conectados ela escorregava por entre meus dedos como água. Naqueles dias em que não obtive uma palavra sequer dela, havia prometido a mim mesmo que se ela não estivesse disposta a contar o que estava acontecendo, eu não correria atrás dela. Não poderia suportar que cada vez que acontecesse algo ela desaparece por dias e esperasse a minha compreensão. Eu estava preocupado e meus dias se arrastavam até ela aparecer novamente na minha vida. Sem me oferecer nenhuma explicação concreta.

Olhei para a minha cama e percebi um envelope com uma letra que eu conhecia bem. Não havia notado que ela havia deixado algo ali e não sei se queria abrir. Talvez o melhor fosse seguir em frente e deixar tudo pra trás.

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Poncho apareceu em minha porta e nem sequer me deixou falar nada e entrou. Poncho não fez nenhum rodeio, Dulce estava morta e se eu quisesse me despedir deveria ir pra uma beira de estrada no meio do nada. Eu fiquei em choque, não podia acreditar no que estava acontecendo e não consegui emitir nenhum som em resposta. Alfonso me olhava em um misto de confusão, tentando analisar minhas expressões mas eu não conseguia focar em nada.

Eu a havia deixado ir e ela se foi. Eu deveria te-la impedido de ir naquele dia. A gente não se despediu. Não houve um adeus. Como sempre entre nós as coisas terminavam antes mesmo de começar, nossa história abortada uma e outra vez como uma piada de mal gosto do destino. 

As lágrimas começaram a correr soltas pelo meu rosto e eu avançei sobre Poncho. Eu gritei e o acusei de não ter feito nada por ela. De não ter a salvado mas aquelas palavras no fundo eram pra mim mesmo. Poncho não reagiu, ele deixou que o golpeasse, parecia quase sentir pena de mim. Eu o golpeei repetidas vezes até que ele me segurou e eu tentei me soltar, totalmente cego e inconformado. Sem dizer nada ele apenas se afastou e deixou um papel com o endereço de onde o corpo de Dulce estava enterrado e se foi. Simples assim, como se aquilo não passasse de uma visita qualquer.

Eu comecei a quebrar tudo que via pela frente, a dor me cegava completamente e era quase física. Eu preferia que fosse. Achava que quando Dulce sumiu cinco anos atrás havia sido dor suficiente, mas saber que não a veria nunca mais era muito mais do que podia suportar. Há cinco anos eu alimentava a idéia de que a encontraria outra vez e retomaríamos a nossa história. Eu estava disposto a lutar mas agora não tinha sobrado nada. 

O tempo passou mas nem percebi, eu estava sendo golpeado por cada coisa que a ausência dela representaría. Não vería mais aqueles olhos e nem esperaría ansiosamente para ouvir um barulho vindo da janela, que significava que ela estava lá. Não sentiria mais o seu cheiro e não haveria mais planos. Não haveria mais nada. Eu faria qualquer coisa pra ter mudado aquele dia, eu faria qualquer coisa pra ver ela de novo e dizer que não importava o que tivesse acontecido. Elas lidaríam com isso juntas mas era tarde demais.

Estava tão imerso nesses pensamentos que quase havia esquecido de algo que ainda tinha dela. A carta que ela deixou contiuava na gaveta intocada, eu não consegui jogá-la fora mas tampouco a abri. Senti que deveria ter aberto antes, eu deveria ter visto o que Dulce tinha pra me dizer e agora o que eram suas últimas palavras pra mim.

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Vi Anahí só uma vez depois da notícia, ela estava destruída e Poncho praticamente a lembrava de fazer tudo, parecia uma morta-viva. Eu não gostava dele e conhecê-lo não fez com que eu o odiasse menos, as circunstancias não nos aproximaram. Porém estava feliz que Anahí não estava sozinha nisso tudo, ele sabía o quanto ela amava Dulce e vê-la sofrer é algo que com certeza magoaría a Dul.

Quando cheguei no local onde Dulce estava enterrada vi o que eram os restos de uma rosa negra. Morta e queimada pelo sol. Respirei fundo e fiquei alguns minutos observando aquela cruz e pensando no que faria a partir de agora. Nem conseguia verbalizar toda a confusão que havia em minha mente. Ainda não havia tomado uma decisão sobre como seguir com a minha vida e esse processo havia me isolado completamente dos meus amigos. Não me comunicava com ninguém.

Olhei para aquela cruz e veio nossa história repassando em minha cabeça:

Nós dois brincando juntos desde pequenos.

Dulce procurando colo quando caiu da escada e machucou o joelho

Nosso primeiro beijo aos 12 anos e como ali eu sabia que pertencíamos um ao outro

O pedido de namoro

A nossa primeira vez

O modo como Dulce passava de menina a mulher em um segundo. A mulher mais sexy do mundo e a garota mais doce também. Que o tinha em sua mão desde o primeiro dia.

A forma como ela sorria com os olhos. Não importa quantos anos passassem eu sempre me perdería quando ela sorria pra mim. 

Foi com essa última lembrança que eu deixei uma rosa branca em frente aquela pequena cruz e parti. 

CriminosaOnde histórias criam vida. Descubra agora