31° O início

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{…}

Uma vez, escutei um senhora ao meu lado da fila no supermercado, ela conversava ao telefone e era fascinante o jeito que ela falava, eu poderia ficar dia e noite escutando o bom som que saía de sua boca, ela dizia; Cuidado com os laços que você cria, eles podem te enforcar.
Não era do meu feitio escutar conversas alheias, mas essa simples frase me chamou atenção. Eu não entendia na época o que isso significava, mas, o jeito como a senhora falou alto e em bom som, era quase um aviso para mim.

Depois de sentir a bala atravessar minha barriga, eu gemi de dor enquanto caía pro lado. Minha visão ficou mais fudida do que já estava, eu não escutava nada e eu não via nada. Comecei a tossir sangue, a dor dominava meu corpo, era como se eu pegasse fogo por dentro, como se meus orgãos estivessem derretidos, a dor era insuportável, e eu já estava aceitando o fato de que esse era o meu fim...

E então, eu apaguei.

Por um longo tempo, eu acreditava que eu morreria bem velhinha, numa casa aconchegante com meus netos e filhos a minha volta. E então, eu conheci Daryl, e me questionei se isso ainda aconteceria. Depois, o mundo virou esse caos, e eu tive certeza, que isso de fato, nunca iria acontecer.

Minha vida virou de cabeça pra baixo, e então, só o que importava era sobreviver hoje.
"Se sobrevivermos uma semana já é lucro."
Merle disse, de todas as pessoas, eu pensava que ele seria o único que não morreria nos primeiros anos. Mas, mais uma vez, o universo nos mostra que estávamos errado.

Algumas cenas passavam as pressas na minha cabeça, era um rosto, o de Daryl, e rapidamente mudava para o rosto de Ellie, Merle, Rick e Carl...

E então, uma luz branca iluminava eles fazendo com que sumissem.

As pessoas dizem que antes de morrermos, passa um filme em nossa cabeça, nos mostrando o dia em que nascemos até o último dia de vida...

{…}

"Rápido. Precisamos operá-la antes que morra. Chamem o médico, vamos para aquela cabana."

"Chefe, ela está sangrando muito, tem certeza que vale a pena?"

"Com toda certeza."

"Use quantos remédios forem necessários, mas salva a vida dela..."

"Vou fazer o possível!"

"Ótimo, por que se ela morrer você também morre!"

{…}

Inconsistente, baleada, perdida e rodeada de estranhos, isso me resumia muito bem. Mas algo, sussurrava no meu ouvido, acorda, levante-se, você tem que sobreviver, sua hora ainda não chegou...

E isso ficava mais alto, ignorar não era uma opção.

ACORDA.



- Que... Quem é você?...

- Ei, você precisa permanecer deitada, vou chamar o médico e o chefe... - Um homem de porte extremamente grande disse deixando a arma pendurada de lado em seu pescoço, ele correu por uma porta de madeira escura.
Dei uma rápida olhada onde eu estava, uma cama, janela, tapete, guarda-roupa e uma faca de caça no criado mudo.

Tento me mover para pegar a faca mas, algo me puxa para o lugar que estava, uma bolsa de sangue pendurada ao meu lado e uma agulha em meu braço ligando diretamente da bolsa, de alguma forma, não vi a enorme máquina ao meu lado marcando as batidas do meu coração. Tirei a agulha e a joguei pro lado, me viro novamente para pegar a faca.

Um homem, estava parado na porta apenas me observando, ele me dava medo, e então, ele sorriu, um sorriso confiante e seguro, e isso me fez questionar tudo o que eu pensei sobre ele... Ele se aproximou devagar, me olhando da ponta do pé até o profundo dos meus olhos, eu estava me sentindo uma peça rara numa vitrine.
- Como está se sentindo? Está com tonturas? - O mesmo diz, neguei, e então outra pessoa entrou no cômodo. Esse deveria ser o médico, palpitei isso já que ele imediatamente pegou a agulha ao meu lado e a preparou para colocar em mim novamente.

- Você perdeu muito sangue, precisa descansar... - O médico diz espetando a agulha em minha véia sem dó e piedade, sem pensar duas vezes, pego a faca ao meu lado, revezo apontado para os dois homens, eu queria parecer forte, mas minhas mãos tremiam e o homem de jaqueta notou isso, ele parecia neutro e com as mãos para trás, já o médico, estava nervoso.

- Quem... Quem são vocês? - Junto forças para falar, os homens se entreolharam.

- Nós, somos os salvadores, querida. - O homem de jaqueta disse em unisom. Antes que eu pudesse falar qualquer outra coisa estúpida, meu lado esquerdo da barriga começou a doer, a mesma dor de quando fui baleada, sinto algo escorrer e levanto a blusa com a mão do soro.

O curativo abriu, o sangue escorria por minha barriga.
- Posso?... - O médico diz, assenti, ele rapidamente pegou a bandeja de curativos e sentou ao meu lado. A faca ainda estava na outra mão, sinto que não poderia fazer nada nessa situação, mas não custa tentar...

O homem da jaqueta se aproximou mais de mim, até que quando vi, ele estava sentado na cama perto dos meus pés...
- Não vamos machucar você, pelo contrário, vamos cuidar. - O homem diz calmo, sua voz era grossa e rouca mas mesmo assim era doce, a mistura ideal.

Assenti para o homem, dei a ele a faca, de alguma forma, ele me passou confiança, espero estar certa disso.

O médico finaliza, eu ainda sentia dor, e estava começando a ficar com fome, mas, mesmo com meu momento de bravura, ainda tenho medo do que eles possam fazer. Então, fiquei em silêncio.
- Pode me dizer seu nome? - O médico pergunta.

- Brooklyn. - Digo baixo, o médico sorri.

- Bom Brooklyn, pode me chamar de Emmett, ou se preferir, Doutor Carson. - Emmett diz com um sorriso suspeito no final, sorri forçado de volta.
- Vou deixar um remédio para dor no criado mudo. - Ele finaliza deixando a cartela de comprimidos no lugar.

- Acho que está com fome, vou pedir para lhe trazerem comida. - O da jaqueta diz se levantando e indo até o mesmo cara que vi quando acordei.

- Esse é o nosso chefe. - O médico cochicha enquanto o tal chefe conversava ao lado de fora.
- O nome dele é Negan... - o médico finaliza olhando para o homem como se ele fosse famoso, então esse é o líder / chefe.
- Ah, Brooklyn, pode ficar tranquila. - O doutor disse na porta, os dois homens me olhavam e dava pra notar que não era o mesmo olhar de antes. - A bala não atingiu o embrião...

Embrião?

{…}




Psɪᴄᴏᴅᴇ́ʟɪᴄᴀ | 𝐓𝐡𝐞 𝐖𝐚𝐥𝐤𝐢𝐧𝐠 𝐃𝐞𝐚𝐝 Onde histórias criam vida. Descubra agora