ASTER FLORES

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**** Música para este momento: If You Leave Me Now - Chicago ****

"O surpreendente é que as pessoas não veem o que não estão procurando"

Meu pai vivia falando de uma organista que tocava em seus cultos, como ele a adorava, o quanto eu precisava tocar como ela porque isso me conectaria de uma forma muito mais celestial com Deus... enquanto ele me dizia isso a minha mente só pensava em como eu estava conectada com Deus, de que forma Deus estava em minha vida e o que eu deveria fazer com ela, eu pedia tantos sinais à Deus, quando na verdade eu deveria estar agradecendo pela graça de estar viva, eu me sentia uma ingrata por isso.

Eu tinha a vida que qualquer outra garota da minha idade, de uma cidade pequena, gostaria de ter.

Eu era popularmente conhecida, as pessoas queriam estar perto de mim, o cara mais popular, bonito e de família tradicional era meu namorado. Não havia capítulo para escrever já estava tudo predestinado.

Foi assim até que as coisas começaram a mudar. A primeira foi me deparar com aquela garota que fisicamente fugia totalmente do que meu pai descrevia. Não só do que eu poderia imaginar mas Ellie - fui descobrir seu nome logo mais na escola - era totalmente diferente de todas as outras garotas que eu já havia visto.

Ela estava sempre sozinha, vivendo em uma espécie de mundo particular, em uma bolha. Ela era tão dedicada, aluna aplicada e ainda "trapaceava" fazendo serviços extracurriculares para outras pessoas da escola que lhe pagavam. Às vezes olhava para ela e gostaria de ter um pouco do tamanho da aplicação que ela tem com essas coisas.

Mas eu vivia muito mais mergulhada em meus livros de romance, em clássicos do cinema ou rascunhando pinturas...

Até que comecei a receber cartas de Paul, seria esta a resposta que eu tanto pedia a Deus? Parecia ser um capítulo inserido nesta história, mas isso mudaria o enredo predestinado?

Fato é que, comecei a me envolver demais com este novo amigo, por ora ..era isso que Paul era para mim, eu não tinha com quem conversar, Trig, meu namorado, era egocêntrico demais para entender minhas narrativas e meus encontros com as meninas eram sempre para falar sobre garotos e sobre compras... Isso tudo era tão evasivo, tão raso..

Minha vida era assim... Até que comecei a me corresponder com o Paul e me senti menos perdida. Mas as poucas vezes que nos encontramos ele não parecia ser o cara por quem eu me sentia emocionalmente conectada, por mais segura que ele me fazia sentir quando estava próxima dele, era como se ele fosse outra pessoa, como se existisse dois dele.

Paralelo a isso, se antes eu já reparava algumas vezes em Ellie, eu comecei a reparar mais porque ela não desgrudava de Paul, desde quando eles haviam se tornado amigos? Ela parecia ser um doce de pessoa, antes de Paul eu nunca conseguia enxergar suas emoções fisicamente, deve ser porque ela sempre esteve sozinha. A realidade é que algo sempre me empurrava pra tentar me aproximar dela, seja por meu pai falar da organista "perfeita", seja pelas matérias que fazíamos juntas mas sempre tinha algo que quebrava isso.

Acho que ela me achava totalmente superficial e vazia por sempre estar entre os populares, afinal... é assim que as pessoas "perdedoras" veem os populares, não é? Pelo menos é assim que todo mundo acha que Ellie é, uma nerd-perdedora. Não sei o que Ellie tinha ou deixava de ter mas tinha algo que sempre me empurrava em querer conhece-la mais, foi quando encontrei ela no quarto de Paul e o modo como ela analisou minha pintura, mexeu comigo. Nos detalhes que ela percebeu e como descreveu o que eu queria transmitir com aquilo, era exagero eu pensar que seria o Paul das cartas ou o "SmithCorona" que conversava comigo que diria aquelas coisas?? Aquilo me fez sentir conectada com ela e segura para tentar me aproximar, nas águas termais eu pude perceber mais ainda como ela era diferente mas diferente de uma forma como eu me sentia também, aquilo fez-me perceber que tudo o que eu sempre quis era conversar abertamente com alguém, mesmo que eu parecesse uma idiota com os meus pensamentos mas ela me escutava, me entendia, se identificava, me respeitava... aquilo começou a me deixar confusa e a me questionar o porque estava gostando de estar tanto com ela e quando flagrei ela com Paul, me senti traída pelos dois mas quando finalmente soube que era ela a minha "SmithCorona", minha "Correspondente-Paul"... o meu coração dilacerou, era ela o tempo todo e no fundo eu sabia.

Agora aqui, com ela, tudo o que eu posso querer é aninhar ela em meu corpo, explorar cada milímetro dos pensamentos que vagam por sua cabeça, como uma linda flor que está prestes a desabrochar, é isso que eu quero visualizar em Ellie, porque ela é muito mais do que estes 4 anos que pude notar só de longe.

Somos o oposto mais idêntico que passou por essas bandas, essa é a minha fé.

"O óbvio invisível"

Postei hoje mais cedo e dependendo posso postar mais uma parte hoje, gostaria muito de receber um feedback de quem está lendo, então, se puder comentar algo, já seria de grande incentivo! Um ótimo sábado. ♥

The Half Of It - A História ContinuaOnde histórias criam vida. Descubra agora