SEXTA TENEBROSA - II

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Ao final da aula, quando estávamos todos circulando pelos corredores da escola, avistei Fernando e acelerei meus passos até chegar a ele – Fer, oi! – Disse meio ofegante – Oi! – Ele me disse animado – Você viu a Ellie? – Disse ansiosa – Hm... Não... – Ele parecia ter ficado preocupado, será que minha afeição era muito desesperadora? – ...Aconteceu alguma coisa? – Ele me questionou – É o que eu estou tentando saber... – Disse quase em um sussurro – Oi? – Acho que ele não escutou, ainda bem RISOS – É..oh, não..nada, só estou procurando-a porque costumamos ir embora juntas e não a vi ainda – Tentei disfarçar minha ansiedade – Ah sim, bom...logo você a encontra, aliás..eu gostei bastante do texto que ela preparou, acho que deu para falar com todos da escola, todas as idades... – Ele disse empolgado – Bom, ela sempre escreve muito bem – Eu disse com um sorriso amarelo – Siiim... Ellie é especial, tem um jeito para escrita! – Sim, bom, eu vou indo nessa... conversamos mais outra hora – Saí dali antes que ele pudesse emendar outro assunto.

Eu já estava fora da escola, olhando ao redor e nada dela, olhei para o estacionamento e agora sua bicicleta não estava lá ... "Que droga, Ellie! Por que você faz isso comigo?"... Eu estava bufando de raiva de mim mesma, eu deveria ter ido com ela até a sala da rádio entregar o texto, eu mesma deveria ter colocado o texto na mão dele ou da Cameron ou de quem quer que estivesse lá para receber, eu sou uma idiota!

O tempo estava fechado, bem propício para o péssimo dia que eu estava tendo, quando cheguei em frente à minha casa, olhei adiante de mim e um trovão soou no céu e então eu sabia...Mãe de Ellie estava me dando uma bronca pelo que eu fiz, pela minha irresponsabilidade, pela minha incompetência, pela minha burrice e por todos aqueles adjetivos que te derrubam.... E então decidi seguir o caminho para a casa de Ellie, quando eu já estava há um quarteirão de sua casa, começou a chover estrondosamente, do jeito que ao tocar na pele parecia como se alguém lhe desse um tapa, de machucar, de alardear e mostrar "estou aqui, saia correndo como uma imbecil porque eu te peguei e você vai ficar ensopada...", chuva forte, chuva gelada, chuva que lava a alma... ou infecta, era meu caso...

Cheguei em frente à sua casa e pensei em gritar por ela, bater em sua porta, mandar uma mensagem de novo – que eu sei que seria em vão – dei a volta, não sabia onde ela guardava a bicicleta -, parecia que eu estava bisbilhotando o terreno de sua casa, eu senti vontade de rir pela minha estupidez, olhei ao redor, e nada...nada de sua bicicleta, ensopada, com os olhos semicerrados, sentei na guia em frente à sua casa, eu estava fitando o asfalto que já tinha piscinas, lagos e mares formados com a quantidade de água que a mãe de Ellie havia despejado sobre mim... "Desculpa" eu disse como um sussurro, pedi desculpas para a Sra.Chu, para a Ellie, eu falhei.

Foi quando escutei a porta da cabine de trem, olhei e ela estava totalmente aberta, de lá, Ellie saia, cabisbaixa, lentamente...vindo em minha direção, prontamente fiquei em pé, parada ali, recuada, ensopada, sem saber o que fazer, o que dizer, como agir, por ter falhado com ela...

DEU TUDO ERRADO...

Foi a única coisa que eu pensava...

Por que você fez isso comigo? – Foi o que ela disse e um nó se instaurou em minha garganta – Desculpa, e-eu... – ela me interrompeu – Eu tive que ler para o Fernando, ele não aceitou pegar lacrado e... – Eu a fitei com os olhos arregalados e eu não soube o que dizer, minha voz falhou – E-eu... – Disse a interrompendo – Eu sinto muito, Ellie! – Eu disse me aproximando dela, eu já via as lágrimas dela se misturando com os pingos de chuva –... Sua mãe está brava comigo!... – Ela me fitou confusa e olhei para o céu – Oh Aster! – Ela disse grunhindo e agora eu estava chorando – Eu realmente sinto muito! – Eu queria abraça-la mas eu sabia o limite que existia e abaixei meu rosto para a guia, eu estava envergonhada – Você está chorando? – ela me perguntou quase em um sussurro e eu voltei meu olhar para ela – Eu não queria lhe deixar chateada – Ela sorriu levemente – Aster, eu vou lutar sempre com esses demônios dentro de mim em relação a minha mãe – Eu ainda estava chorosa, ela não merecia passar por aquilo, ela não!! – É sempre assim? – Perguntei chorosa – Que eu fico nessa época do ano? – E eu só assenti com a cabeça – É pior. – Ela desviou seu olhar de mim, por um instante e depois voltou a me fitar – Dessa vez estar com você, tornaram as coisas mais fáceis. – Ela disse com um leve sorriso sem mostrar os dentes -... Acho que meu "surto" já passou – Ela disse fazenda as aspas com as mãos – Não fala assim... – Dessa vez eu que sussurrei -... No seu lugar, eu nem sei o que faria – Eu disse fitando a chuva diante de nós e outro trovão soou sobre nossas cabeças – Vem, vamos entrar, antes que fiquemos doentes – Ela me puxou pela mão para dentro de sua casa.

The Half Of It - A História ContinuaOnde histórias criam vida. Descubra agora