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CELINA P.O.V

Em algum momento uma pessoa questionou qual era minha memória mais antiga.
Naquele momento eu não soube mas pensando agora o mais profundo que consigo ir na minha mente seria por volta dos meus sete anos.
  Meu pai sentava ao meu lado no banco de um piano, os detalhes da casa são como borrões, eu mostrava orgulhosamente a peça qual havia aprendido em tempo recorde para o choque do professor particular, recém-contratado à dois meses e já demitido.
Minha capacidade de auto-aprendizagem sempre foi no mínimo estranha? Na época meu pai entregou um envelope ao professor, qual era um mistério para minha mente infantil.
Analisando agora provavelmente seria um generoso "pagamento extra" em busca de silêncio, esse tipo de ação foi pega por mim algumas vezes.
Meus pais nunca hesitaram em gastar em qualquer que fosse meu interesse, desde idiomas à artes marciais.

Os professores iam e viam à cada poucos meses.

Por volta do meu oitavo ano enquanto explorava minha nova moradia, havíamos mudado semanas antes por motivos que não consigo lembrar, cheguei ao portão da propriedade e me deparei com outras crianças do condomínio.
Algumas entravam nos carros dos pais ou acompanhadas de motoristas particulares, outras mais velhas faziam seu caminho para a escola por conta própria.
No jantar daquele dia contava apenas com a companhia de minha mãe, quando perguntei o motivo de não estar indo à escola, como as crianças que tinha visto àquela manhã, recebi um olhar cortante.

- Não há necessidade-

Ela se retirou da mesa logo depois e se trancou no escritório.

Meu pai retornou para casa cerca de uma semana depois e no dia seguinte minha mãe invadiu meu quarto durante à manhã e começou a arrumar as malas.
Nos mudamos novamente.

Minhas memórias vão clareando e se acumulando a partir dos meus nove anos, lembro de meu pai citar algo sobre mudança de funções da empresa.

Logo ele começou a passar mais tempo em casa e comigo.

Meu pai tinha um sorriso brilhante, e uma aura que era tão contagiante que fazia quem estivesse ao redor se sentir eletrizado.

Ele decidiu que me ensinaria à andar de bicicleta, mesmo que isso arruinasse metade da grama do jardim.

Pela primeira vez fui ensinada por alguém que não estava lá porque pedi e recebendo para isso.

Meu pai estava la porque queria passar tempo comigo.

Ainda lembro o sorriso dele quando consegui me equilibrar e como sumiu quando levei o primeiro tombo, so para retornar quando levantei e disse que tentaria de novo.

Ainda tenho uma cicatriz na panturrilha desse dia, resultado de esbarrar numa roseira.
Pensando agora é um pouco lamentável que tivesse conseguido aprender em poucas horas, gostaria de estender esse momento por vários dias, o sorriso de meu pai a cada tentativa e erro valeria cada um deles.

Mas isso é impossível, logo não precisei mais de ajuda e como previsão do meu pai destruimos o gramado e uma roseira.
Quando Minha mãe chegou perto do fim da tarde após um pequeno surto começou a rir enquanto tirava uma folha do meu cabelo.

Nunca entendi realmente o humor dela, em algumas vezes sua risada era tão leve e agradável como se estivesse flutuando ao redor.
Mas em alguns momentos ou quando eu perguntava algo que aparentemente não deveria seu humor ficava sombrio e as costas se curvavam como se estivesse carregando um peso invisível, então ela se trancava no escritório e eu torcia para que ela saísse de lá no mesmo dia.

Depois desse dia é apenas um a tela em branco.

E então havíamos mudado.

Novamente.

Dragões:A DomadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora