Capítulo 7

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Toda altivez que um dia meu pai teve, foi diluída quando Renan o trazia a mesa naquela cadeira de rodas, por um momento meu olhar se cruzou ao do meu irmão e eu respirei fundo voltando o rosto para o outro lado, não sei se proposital ou por pura ironia Renan colocou meu pai de frente a cadeira onde eu estava sentado, Micaela estava a minha direita e Ingrid a esquerda, Renan e meu pai estava á minha frente e do lado de Renan estava Marlon.

A conversa gerou em torno dos estudos de Renan e como ele vivia lá na Alemanha, confesso que aquele jantar foi degustado com dificuldade, mesmo que tudo estivesse delicioso, não era o sabor da comida que me incomodava, mas encarar a situação do meu pai naquele estado.

Dona Laís levantou-se a dizer:

_ Amigos e familiares, eu gostaria de dizer algumas palavras.

Todos voltaram a atenção a ela:

_ Hoje é um dia muito feliz para mim, tenho toda a minha família reunida aqui comigo, isso é raro de acontecer, o Renan mora longe e o Kleber mudou-se alguns anos e dificilmente aparece por aqui, infelizmente o meu marido está passando por uma situação complicada, mas em tudo temos que ver o lado positivo da situação e enfim consegui reunir todos eles no mesmo lugar no mesmo dia... Como todos vocês sabem o Renan foi estudar fora a alguns anos, ele vai ser doutor o que nos enche de orgulho, o Kleber é audacioso, é valente, resolveu sair de casa sem pedir a nossa ajuda e tem seu próprio cantinho, mas agora a nossa família teve que se unir em um objetivo maior, é hora de deixarmos os nossos próprios interesse de lado para que juntos possamos passar por essa fase unidos, Renan me dá sua mão filho..

Renan levantou e segurou a mão da mãe, ela estendeu a outra para mim e disse:

_ Kleber...

Ergui o meu olhar para ela, e continuei sentado, a Micaela me cutucou por baixo da mesa, e meu olhar encontrou o do Marlon que estava com os olhos fixos sobre mim, levantei e segurei a mão de dona Laís, e ela juntou a minha mão a mão do Renan, nós dois nos olhamos:

_ Somos uma família e precisamos nos unir, eu sei que não somos uma família perfeita, mas podemos trabalhar para melhorar de agora em diante.

O constrangimento que eu sentia era tamanho que minha vontade era puxar a minha mão, mas ao invés disso eu permanecia ali parado sentindo o contato da mão do meu irmão, mas evitava encará-lo, Ingrid alheia a tudo puxou uma salva de palmas.

Quando os pratos foram servidos uma cena deixou claro que o caso do meu pai não era simples como todos queriam acreditar, dona Laís dava comida na boca do meu pai, e ele não tinha nem mesmo capacidade de mastigar e a comida começou a cair sobre a mesa e dona Laís tinha que limpar a sujeira que ele fazia.

Quando o jantar terminou, foi servido a sobremesa, porém não necessariamente ficamos sentados, cada um se bandeou para um lado e Renan conversava com Marlon mais mantinha os olhos sobre mim:

_ Não sei o que ele tanto olha. Ele acha mesmo que aquela cena que a dona Laís nos obrigou a fazer mudará alguma coisa entre nós?

_ Vocês são dois homens feitos, não acha que está na hora de se respeitarem, não digo que você tenha que agir como irmão mais velho, mas viverem com o mínimo respeito, tenta não ver o Renan como seu inimigo, vamos tenta só hoje, se não conseguir eu não insisto mais eu prometo.

_ Isso não vai dar certo, mas eu aceito só hoje dar uma chance.

_ Jura... que bom.

Ela pulou no meu pescoço fazendo com que todos nos olhasse, eu não imaginava que a noite poderia ser mais constrangedora do que já estava:

_ Espera aí, vou arrumar para que vocês interagem de forma que nenhum dos dois se sinta incomodado, não vai desistir, você prometeu.

Ela se afastou para conversar com Marlon e Renan, também chamou a Ingrid para essa conversa e logo ela me puxou:

_ Vem...

_ Para onde maluca, onde nós vamos?

_ Para o quarto do seu irmão.

_ Para o quarto de quem?

_ Como de quem Kleber, do Renan.

_ E o que vamos fazer lá?

_ Brincar de verdade ou desafio.

_ Nem pensar... eu passo.

_ Você me prometeu, sem essa de eu passo.

_ Tá... a noite já tá um fiasco mesmo, vamos logo piorar ela.

Todos estavam a nossa espera e foi colocado as regras sobre a brincadeira, a primeira pergunta foi da Ingrid para a Micaela:

_ Mica... há alguém aqui nesse quarto que você pegaria?

_ Não, aqui são todos meus amigos queridos, mas não tenho interesse amoroso em ninguém aqui.

A segunda pergunta foi da Micaela para o Marlon:

_ Verdade ou desafio?

_ Verdade...

_ O que mais te causa medo?

_ Olhar o passado e ver os monstros que deixei por lá.

Olhei para ele, pensando sobre o que ele queria dizer com aquilo, a brincadeira seguiu até que a pergunta caiu sobre mim, quem faria seria a Micaela:

_ Verdade ou desafio?

_ Desafio...

_ Então eu te desafio a dar um abraço no Renan...

Nós dois nos sobressaltamos com esse desafio a olhar para ela ao mesmo tempo:

_ É um desafio, se fosse algo fácil não seria chamado de desafio.

Demorei um pouco mais sentado, mas depois me levantei e olhei para ele:

_ É a regra da brincadeira, não sou de fugir de nada, então vem logo menino.

Ficou um silêncio no quarto que todos temiam quebrar, Renan levantou-se e ficou de frente para mim, e cocei a cabeça antes de puxá-lo para um abraço, tive que segurar a lágrima que queria cair, ele fazia o mesmo, quando o soltei ele mordia o canto do lábio inferior e seus olhos estavam marejados, foi um abraço rápido, mas logicamente que mexeu tanto com ele como comigo. 

Duas vontades... A outra face do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora