Eu estudava cada gesto do Kleber em silêncio durante o café da manhã, havia momentos que parecia que ele relaxava, mas voltava a ficar com a expressão pesada, carrancuda, ele conseguia mesclar da educação com dona Laís a grosseria quando se sentia ameaçado, o clima apesar de tudo era ameno até que dona Laís resolveu falar sobre a felicidade dela em ter os dois ali na mesa juntos, no mesmo instante Kleber se armou e ergueu-se da cadeira para se afastar, era como se ele se sentisse coagido se permanecesse ali, por um instante notei que o olhar dele se encontrou com o olhar do Renan, mas ambos constrangidos trataram logo de desviar, aquilo foi o suficiente para o clima ficar pesado e Kleber querer fugir o mais rápido dali, mas interpelado pela pergunta de dona Laís, ele estagnou o caminhar:
_ Eu vou fazer estrogonofe, você vem para o almoço?
A ameaça velada que ele insistia em sentir fez com que a resposta fosse o mais seca possível:
_ Não!
Depois ele virou-se para ir embora, mas voltou-se para dona Laís testemunhando a decepção em seu olhar, ele respirou fundo e se retratou:
_ Não sei...Talvez.
Aquela resposta foi o suficiente para ela abrir um sorriso, e eu achei que o momento era propício para um comentário:
_ Se você não vier, eu comerei tudo e não deixarei para você.
Ele não esperava aquele comentário, isso era óbvio tanto que sorriu, e como era lindo ver aquele sorriso.
_ Como é lindo o seu sorriso, deveria exibi-lo mais vezes.
A sombra escura voltou ao rosto dele, era difícil penetrar aquela barreira imposta.
Ao término do café subi para o quarto e alguns minutos depois alguém bateu na porta:
_ Entra.
Renan entrou e cruzou os braços encostado na porta, ele nada dizia, mas eu conhecia bem aquele olhar, ele queria me dizer algo mais estava receoso:
_ Fala Renan, estou ouvindo.
_ Sabe que eu te amo muito não sabe?
_ Claro, assim como eu também te amo.
_ Então temos liberdade para falar sobre qualquer assunto?
_ Claro Renan, fala o que é?
_ O que pensa que está fazendo?
_ Eu não sei do que está falando?
_ Eu te conheço e percebi o seu interesse no meu irmão, e eu não quero te ver sofrer, então apenas desista.
_ Se eu te falar que não vou desistir?
_ Eu não posso te impedir de tentar, você é adulto e sabe o que faz, mas eu sei da capacidade do meu irmão em afastar as pessoas que ama ele, e não quero ser aquele que vai juntar os seus fragmentos. Se quer tentar ser amigo, namorado ou qualquer coisa dele não conte comigo.
_ Renan...
_ Não, eu sou seu amigo, e eu amo você demais para deixar se envolver com a complicação em pessoa, meu irmão sempre foi problemático, ele se satisfaz em ver as pessoas que ama ele sofrer, você acha que ele virá almoçar aqui hoje, mesmo sabendo que minha mãe vai passar o dia todo enfurnada naquela cozinha fazendo o prato preferido dele, pois eu digo, ele não vem.
Eu tinha noção de que alguma verdade no que Renan dizia era real, mas sabia também que as atitudes que Kleber tomava era por causa de uma mágoa enraizada dentro dele que o impedia de agir diferente, eu queria me manter neutro diante daqueles dois, porém era como se Renan me empurrasse para tomar uma decisão, para que eu decidisse de que lado eu ficaria e isso eu não queria fazer:
_ Renan, eu preciso que entenda que toda a história tem dois lados, você conhece o seu e é justo que você tenha esse pensamento, que seu sentimento em relação ao Kleber seja esse, mas entenda que ele também tem o seu lado, que os sentimentos dele também seja plausível para ele, não me peça para desistir, eu sinto a necessidade de querer ajuda-lo.
_ Marlon... nós vivemos juntos por seis meses, fomos íntimos, dormíamos na mesma casa, dividimos os nossos sonhos assim como os nossos dissabores, nós terminamos o nosso relacionamento e conseguimos manter a amizade saudável, eu nunca iria me intrometer na sua vida se fosse qualquer outra pessoa, mas porque ele, porque o meu irmão sendo que você já conhece o histórico dele e sabe que vai sofrer.
_ Eu te agradeço do fundo do meu coração por que sei que está sendo sincero em sua preocupação Renan, mas a vida é feita de reveses e precisamos arriscar mesmo se isso nos levar a sofrer. São as experiências que nos fará amadurecer. Eu sinto que o seu irmão no fundo é apenas um menino que se refugiou dentro dele mesmo com medo de encarar seus próprios medos e eu sinto a necessidade de ajuda-lo, espero que você entenda.
_ Você se apaixonou por ele?
_ Acho que sim, eu sei que faz pouco tempo que o conheço mas ele tem uma presença forte, tem aquele jeito truculento, mas eu consigo enxergar algo bom por trás disso, por favor não me odeie por isso.
_ Eu jamais vou te odiar Marlon, só não quero que sofra, e se estou triste é por que sei que meu irmão é capaz disso, de te fazer sofrer.
_ Eu correrei o risco.
_ Boa sorte então meu amigo, vem, vem aqui me dá um abraço... eu achei que quando você se apaixonasse por alguém eu seria seu aliado e diria suas qualidades para o seu pretendente, mas com o meu irmão isso é impossível, vai ter que fazer tudo sozinho.
Abraçados eu disse a ele:
_ Você poderá me emprestar o seu ombro para que eu possa chorar quando isso acontecer.
_ Como eu odeio o meu irmão... se ele te magoar sou capaz de bater nele... vai, vai em frente e conquista aquele turrão, mas tem um detalhe que nenhum de nós pensou.
_ Que detalhe?
_ Eu não conheço nada da vida do meu irmão, será que ele se interessa por homens?
_ Não sei...
Nós dois rimos, mas era verdade ainda havia aquela questão a ser cogitada. Mas alguma coisa me dizia que Kleber não era tão imune aos meus sentimentos por ele:
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Duas vontades... A outra face do amor
RomanceEntre o amor e o ódio os irmãos Leynner vivem em terras turvas, tudo isso devido ao tratamento do pai de ambos, enquanto um é tratado com confortos e regalias o outro é sempre humilhado e desprezado, isso faz com que ambos vivem um conflito, mas nem...