Capítulo 29

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Considerando que Ingrid tinha entendido o que lhe dissemos a ela, acabamos relaxando, mas o que parecia está fortificado em nós nos colocou a prova, os preparativos do casamento ocupava um tempo razoável do nosso dia e o resto aproveitávamos para curtirmos juntos, Renan vez ou outra convidava Emanuel para se juntar a nós, ele dizia que os dois eram apenas bons amigos, mas sabíamos que entre eles rolavam muito mais do que amizade, embora eles não consumissem o desejo que tinham de ficar juntos.

Numa dessas saídas eu notei algo estranho acontecendo, não querendo assustar a nenhum deles não os avisei que tinha um carro preto nos seguindo, de início achei que fosse imaginação, porém isso se repetiu da outra vez em que saímos e passei a ficar mais observador na terceira vez que nos reunimos e lá estava novamente o mesmo carro.

Aquilo era perturbador, mas tentei ignorar aquele sinal de alerta dentro de mim, afinal quem iria nos seguir, com que propósito, não aquilo deveria ser apenas uma impressão.

A conversa se divergia entre estudo, futebol, namoro e não podia faltar naquela mesa o assunto principal, o nosso casamento:

_ Vocês se conheceram quando o Marlon veio para o Brasil com o Renan?

_ Sim, no começo eu tentei ignorá-lo mas bastou um olhar para me apaixonar.

_ Foi mal perguntar, mas é que...?

_ Pode falar Emanuel.

_ É tudo muito recente, vocês se gostam claro, isso não se tem dúvidas, se vê na fisionomia de vocês, mas, a relação não é feita apenas de momentos bons.

Marlon me olhou e eu o olhei, depois sorrimos:

_ O Kleber e eu sabemos disso, nós dois nos amamos e saberemos enfrentar tudo juntos.

_ O Marlon não é de desistir fácil, o Kleber deu muito trabalho para ele no início.

Eu tratei logo de cortar o assunto que não estava me deixando confortável:

_ O tempo é apenas um detalhe, o que importa é o amor que eu tenho por ele e ele por mim, daqui a um mês estaremos casados e seremos felizes para sempre. Agora chega desse assunto.

Como fazia para sair de uma situação embaraçosa quando me sentia acuado eu ataquei:

_ Emanuel, já que estamos falando de assuntos delicados, quando é que vai resolver o seu assunto com o tal do Silvio, tá na cara que você é apaixonado pelo meu irmão?

_ Eu não vou mentir para você Kleber, eu amo o seu irmão, amo demais, mas não é tão simples assim dar um fim em uma relação, mesmo que ela seja desastrosa.

Logo percebi que toquei em um assunto delicado pois todos ficamos em silêncio depois da resposta do Emanuel, me arrependi no mesmo instante:

_ Desculpa Emanuel, por parecer que estou te pressionando, foi mal.

_ Relaxa, acho que eu mereci o contra-ataque.

O clima voltou a ficar animado e rimos bastante aquela noite, mas eu continuava com a sensação de estar sendo vigiado, e essa sensação não era legal, era o indício de que algo estava para acontecer e eu estava me sentindo impotente por não saber o que era:

_ Kleber o que foi?

_ Hã...

_ Você está aéreo, tá com algum problema?

_ Problema algum meu amor.

Beijei-o e ele voltou a me questionar:

_ Tem certeza, Kleber nós somos um casal, temos que dividir as alegrias e os problemas também, foi o que o Emanuel disse?

_ Não Marlon, não tem nada a ver com o Emanuel, até porque o que ele disse não condiz com a gente, mesmo que seja pouco o tempo que estamos juntos, eu te amo e você me ama e faremos isso durar para sempre.

_ Então divide comigo o que é que está te perturbando?

_ Eu só tenho uma sensação estranha de estar sendo vigiado por alguém.

_ Vigiado... vigiado por quem?

_ Eu não sei, mas não é só hoje que tem um carro preto atrás de nós.

_ Você tem certeza?

_ Quase.

_ Acha prudente procurarmos uma delegacia?

_ E dizer o que... tem um carro atrás de nós, não peguei a placa, não sei quem é que está dentro e também não tenho certeza se é realmente alguém nos observando, se formos a policia vamos ser motivo de chacota.

_ Então relaxa, vamos conversar com o Renan e a Mica para a próxima saída ser  na sua casa, ai o Renan aproveita para levar o Emanuel para conhecer o quarto dele.

_ Tenho absoluta certeza de que tudo o que falta para eles é a oportunidade. Falando nisso, hoje eu perdi a oportunidade de ficar calado né?

Marlon juntou os dedos em sinal de "um pouquinho", mas segurou o meu rosto com ambas as mãos e me beijou:

_ Um pouco mas nada catastrófico que não teve conserto.

Saímos do bar e Renan seguiu com o carro dele com Emanuel, Micaela chamou um táxi e Marlon e eu estávamos de moto, e tive a certeza, realmente alguém nos seguia, Marlon não percebeu quando demos a partida que viramos a esquina o carro também fez o mesmo trajeto, eu consegui despistar, cortando o caminho entre os corredores dos outros automóveis, deixamos o nosso perseguidor para trás, entretanto quando viramos a esquina de casa logo percebemos que algo não estava bem, na frente da minha casa havia uma ambulância, desci tão rápido da moto deixando Marlon para trás disparando para dentro, fui barrado pelo paramédico:

_ Calma rapaz.

_ Me deixe entrar, essa é a minha casa.

Dona Laís me viu e veio ao meu encontro me abraçando:

_ Ele não está respirando meu filho, seu pai não está respirando, os paramédicos estão tentando reanima-lo.

_ Porque a senhora não me ligou, não ligou para o Renan, voltaríamos na mesma hora.

_ Não queria preocupar vocês eu chamei uma ambulância.

_ Eu vou ligar para o Renan.

_ Obrigado amor, eu ficarei com a minha mãe enquanto isso.

Demorou cerca de quinze minutos até que os paramédicos saíssem do quarto com o meu pai entubado em cima de uma maca.

_ Vamos ter que interna-lo imediatamente, ele está muito fraco.

_ Marlon avisa ao Renan que estamos indo direto para o hospital.

Ninguém nos avisava nada, e já estávamos ali quase uma hora, Renan não apareceu, Marlon não conseguiu avisá-lo devido ao celular dele está desligado, então eu precisei dar apoio total a minha mãe, e em contrapartida me apoiar em Marlon, três horas que estávamos ali e não tínhamos recebido nenhuma notícia diferente do primeiro diagnóstico:

_ Desculpa mas não podemos dar informação, somente o médico é autorizado a dar uma definição sobre o estado do paciente.

Renan apareceu juntamente com Emanuel, e estávamos nós cinco ali, Marlon e eu, dona Laís, Renan e Emanuel, quando o doutor veio nos informar sobre o estado dele:

_ Doutor... como meu pai está?

_ Não podemos fazer mais nada, o tumor foi muito agressivo dessa vez, ele está entubado no momento, mas a sua mente já não funciona mais, eu tenho que falar com um responsável por ele.

_ Eu... eu falo com o senhor.

Tomei a frente e segui o doutor até a sua sala:

_ Sente-se rapaz, a conversa não será fácil, mas é necessária, seu pai se recusou a remover o tumor enquanto era tempo, esse tumor coagulou no cérebro o que fez com que ele fosse afetado em suas funções normais, hoje uma cirurgia é extremamente perigosa para ele, a craniectomia nessa fase será um passo doloroso não apenas para ele mais para todos da família, a craniectomia consiste na abertura do crânio, mas esse é o único procedimento que podemos fazer nesse momento, ou é isso, ou esperar a hora, a escolha está na sua mão, você aceita que operemos ou prefere que ele não passe pela cirurgia e espere chegar o momento, nesse momento ele está a base de morfina para aguentar a dor... Desculpa não temos muito tempo a escolha está em suas mãos, o que me diz?

_ Doutor... eu não posso tomar essa decisão sozinho, eu preciso falar com a minha família, pode nos dar uns dez minutos para decidirmos?

Duas vontades... A outra face do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora