Capítulo 12

364 20 10
                                    

Como espectador daquela história eu presenciava a dor de um dos protagonista e sempre tive muito desejo de conhecer a outra parte envolvida para entender o que causou a ruptura dessa família, eu os queria ajudar, assim como um dia fui ajudado, talvez eu fosse um romântico incorrigível que acreditava que o amor é a chave de tudo, e não podia crer que uma pessoa odiasse a outra sem uma razão, sem um motivo.
Talvez se eu tivesse a chance de conversar com Kleber eu conseguiria romper esse ciclo e fazer os dois pelo menos se respeitarem, sim eu sabia que não seria fácil, afinal eu era um estranho para ele, de início ele me veria como um invasor de privacidade, mas quem sabe com o passar dos dias eu conquistasse um pouco a sua confiança, assim como fiz com Renan e conseguisse ouvi-lo fosse mais fácil fazer com que os dois se entendesse.

Sobretudo ao conhecer Kleber logo percebi que essa tarefa seria mais trabalhosa do que imaginei, ele era esquivo, escorregadio, desafiador.
De uma certa forma isso me instigava, mas senti uma atração por ele instantaneamente o que atrapalhava em todo o processo pois isso fazia com que eu abrisse a guarda, e as palavras duras dele poderia me machucar, mas eu não era de desistir tão facilmente, eu iria tentar até conseguir adentrar e quebrar a blindagem que ele criou sobre si.

A cada tentativa de aproximação, Kleber mais declinava a não aceitar essa aproximação, então tentei uma outra tática que era perigosa e ele podia se fechar ainda mais ou poderia resultar em algo bom, o confronto.
Comecei a mexer com o seu brio, usando suas palavras contra ele mesmo, e a reação foi instantânea

Obtive ajuda de uma aliada poderosa, Micaela era a melhor amiga de Kleber, a única que conseguia fazer ele mostrar o verdadeiro eu dele, eu os observei durante o jantar e notei o quanto carinhoso ele podia se mostrar a ela, mas a chegada de qualquer outra pessoa ele voltava a se mostrar arisco.

Aquele jantar também foi muito revelador para mim, não sei se todos notaram, mas os sentimento tanto do Renan como do Kleber estavam a flor da pele, em alguns momentos pensei até que ambos não se aguentaria e choraria ao ver o pai naquela situação, mas ambos se esforçaram e não derramaram nenhuma lágrima.

Dona Laís ao contrário estava bastante emotiva, principalmente depois do seu discurso.

Tive oportunidade de conversar com Micaela, como eu imaginei, ela era animadíssima, nos demos bem no mesmo instante:

_ Eu estava curioso para te conhecer pessoalmente, mesmo por telefone eu gostei de você, agora te conhecendo pessoalmente pude comprovar que tenho boa percepção.

_ Boa percepção?

_ É... eu até comentei com o Kleber quando ele veio me buscar que te achei simpático, eu acertei viu.

_ Então eu fui o pivô do assunto entre vocês.

_ Normal, você é novo por aqui, eu queria saber como você era.

_ Com certeza o seu amigo deu as melhores referências sobre mim.

_ Bem... digamos que intrometido, metido a besta e amigo do almofadinha foi os melhores adjetivos que ele usou.

Ela era sincera e me fez rir do que disse, então era assim que Kleber estava me enxergando, bem era até melhor do que eu pensava:

_ Posso ser sincera com você?

Animado eu balancei a cabeça:

_ Eu acho que ele foi com a tua cara, mas jamais vai demonstrar isso, o meu amigo sofreu muito e é difícil para ele mostrar carinho por alguém, ele prefere o isolamento a se machucar, entende.

_ Você é muito amiga dele né, eu percebi que ele é carinhoso com você.

_ Nos conhecemos desde criança, somos unha e carne, ele confia em mim, sabe que jamais farei algo para o ferir.

_ Entendo... será que...

Calei-me olhando para ela:

_ Que...?

_ Nada em especial, mas eu queria entender por que ele é assim tão arisco.

_ Como eu disse, ele sofreu muito, criou essa crosta para não se machucar, a rejeição fez com que ele sentisse ameaça em qualquer pessoa que se aproxime, e antes de ser ferido, ele fere.

_ Mas o Renan também tem as suas feridas exposta, mas ama o irmão.

_ Esses dois vivem essa guerra a anos, a culpa não é do Renan, nem muito menos do Kleber, mas as circunstância afastou os dois e eles vivem como estranho.

_ Eu sei que é pedir muito para você, e se você não aceitar eu irei entender, mas poderia me ajudar a tentar unir os dois?

Ela arqueou a sobrancelha:

_ Missão impossível.

_ Impossível se torna possível.

_ Não sei... eu quero de verdade, por que sei que isso beneficiará os dois, mas não sei se vamos conseguir.

_ Se não tentarmos, jamais saberemos, vale uma tentativa.

_ É vale, mas tem algo em mente?

E foi assim que aquela noite terminou com o abraço entre eles.

Quando todos foram embora, e eu estava sozinho no quarto ouvi barulho vindo do andar de baixo e resolvi descer, ouvi quando o motor da moto de Kleber roncou e resolvi ficar esperando-o, sentei no sofá e peguei um livro para ler, ele demorou e coloquei em prática o meu plano, a frustração pela primeira rejeição foi tamanha que mal dormir naquela noite, aos primeiros raios de sol, tomei um banho e esperei a todos despertarem, dona Laís foi a primeira a acordar e tive a oportunidade de conversar um pouco com ela:

_ Bom dia dona Laís.

_ Já acordou, bom dia.

_ Acho que o fuso horário está funcionando bem.

_ Eu fiquei muito feliz por saber que meu filho tem um amigo que cuidou tão bem dele enquanto ele esteve fora.

_ O Renan é um bom amigo, o convívio com ele é fácil.

_ Diga isso ao irmão dele, os dois vivem como cão e gato.

_ É... eu percebi que o comportamento deles não é nada amigável, posso perguntar se a senhora sabe o motivo dessa desavença entre eles?

_ Meu marido nunca foi fácil, apesar de eu amá-lo muito não posso ocultar o temperamento difícil dele com o filho mais velho.

_ Entendo... pode me contar um pouco mais?

_ A mãe do Kleber faleceu, ele tinha apenas 3 anos, dois anos depois o Renan nasceu, é normal uma criança querer atenção nessa idade dos pais, o Kleber já não podia ter o carinho e atenção da mãe, e agora não tinha a atenção do pai, eu tentava suprir a falta dela na vida dele, mais não podia substituí-la, isso foi demais para ele que era apenas uma criança, a forma diferenciada com que meu marido tratou os filhos refletiu no afastamento dos meus filho.

_ É bonito o carinho que a senhora tem com o Kleber mesmo não sendo mãe dele.

_ Ele não nasceu de mim isso é certo, mas foi eu quem criou ele, eu vi esse menino crescer e sinto que falhei na criação dele quando vejo ele tão amargurado.

_ Não se sinta assim dona Laís, cada um é responsável pelos seus atos, e ele tem carinho pela senhora, isso é algo que dá para perceber. 

Duas vontades... A outra face do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora