Capítulo 24

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Na manhã seguinte acordei Marlon dando alguns beijos em seus lábios, depois fomos tomar um banho juntos, a intimidade entre nós se fortalecia a cada minuto com esses momentos que pertenciam apenas a nós e a mais ninguém.
Era tão bom se sentir amado e amar na mesma proporção, Marlon veio para mudar a minha vida por completo, descemos de mãos dadas para o café da manhã, dona Laís e Renan estavam sentados e sorriram ao nos ver:

_ Vejo que os pompinhos tiveram uma excelente noite.

_ Para com isso Renan, deixa seu irmão em paz, sente-se vocês dois, vou preparar o café para vocês, o Renan e eu já tomamos.

_ Perdão dona Laís não ter vindo mais cedo.

_ Acredita que eu tive que colocar um cartaz na porta do quarto com o lembrete "não perturbe", por que ela queria ir bater lá para acordá-los.

_ É mentira dele, eu não iria perturbar vocês.

Puxei a cadeira para Marlon sentar-se e ocupei a do lado, dizendo a dona Laís:

_ A senhora nunca perturba.

_ Mas, eles agradecem por a senhora não ter ido bater na porta, pelo olhar apaixonado de ambos a noite foi mais longa do que o habitual.

Marlon olhou para mim e sorriu e eu segurei em sua mão confirmando o que Renan acabara de dizer:

_ Mudando de assunto meu irmão, eu...

Parei de falar, e todos três esperava eu terminar, mas eu continuava em silêncio:

_ Quer me falar alguma coisa Kleber?

_ Sim, na verdade ontem eu estive conversando com o Marlon, e estive pensando sobre um assunto.

_ Que assunto?

_ O pai... eu gostaria de saber se você aceita ir passear com o pai na praça comigo?

Renan e dona Laís se entreolharam, a admiração era evidente, eles estavam de fato espantados com aquela proposta:

_ Você quer ir na praça com o pai?

_ Sim, eu estive conversando com o Marlon sobre isso e ele me fez entender que temos que viver cada momento antes que a pessoa se vá, o pai tá doente e não sabemos quanto tempo ainda temos com ele, tá na hora de deixar o passado para trás, e viver o presente, nós somos a família dele, então temos que nos manter unidos e começarmos a fazer os momentos felizes para que tenhamos o que nos recordar quando ele se for. Renan, eu sei que o pai é muito importante para você e eu apenas estou pedindo que me deixe partilhar ao seu lado a companhia dele.

_ Ele é tão seu pai como meu Kleber, para ser franco eu nem tive ideia de sair com o pai, mesmo ele sendo tão importante para mim eu não consegui ter essa ideia e o seu convite não apenas me alegra como também me ensina como ser um filho melhor.

_ Então podemos ir, a praça não fica longe e podemos passear por alguns minutos com ele e depois voltamos para casa para ele não se cansar muito.

_ Claro que podemos, que dia quer que façamos isso?

_ Se não se importar podemos ir agora mesmo depois que nós tomarmos café. Tem alguma objeção dona Laís?

_ Objeção alguma meu filho, vou arrumar o seu pai agora mesmo, quando terminar o café ele vai estar pronto.

Renan se voltou para o Marlon e abriu um sorriso:

_ Obrigado.

_ Você não tem que me agradecer Renan, a decisão é do Kleber.

_ Eu vou lá ajudar a minha mãe arrumar o pai, deixar os pompinhos tomarem café em paz.

Assim que Renan nos deixou Marlon fez um carinho em meu rosto:

_ Você está bem com essa decisão?

Meneei a cabeça lentamente:

_ Você estava certo, eu preciso criar momentos felizes com o meu pai para me lembrar dele quando ele se for.

Ele concordou com um piscar de olhos:

_ Por isso que eu te amo.

_ Você vem conosco?

Ele moveu a cabeça em negação:

_ Por que não, eu tenho certeza de que o Renan, não se importará de você estar conosco.

_ Eu sei que ele não se importará, mas esse momento é de vocês, no máximo da dona Laís também, mas vocês precisam viver isso sozinhos sem interferência de uma pessoa de fora.

_ Você não é alguém de fora Marlon.

_ Eu sei amor, mas esse é um momento que vocês dois tem que ter com o pai de vocês, será importante para vocês não terem outra pessoa junto, mesmo sendo eu. Na próxima eu prometo que não me abstenho de estar com vocês, mas essa é primeira vez, é bom que façam isso só vocês.

A contragosto eu aceitei aquela justificativa, mas no fim eu entendi o que ele queria dizer sobre o momento ser apenas do Renan e eu.

Terminamos o café e eu beijei o Marlon e me despedi de dona Laís a abraçando-a, Renan empurrava a cadeira de rodas, ali com o meu irmão, enquanto andávamos lado a lado, aproveitei para conhece-lo um pouco melhor, a conversa começou um pouco tímida:

_ Como vai os estudos lá na Alemanha?

_ É bem puxado na verdade, mas eu gosto disso sabe, é um esforço que vale a pena né.

_ Sim, é muito bom saber que você não seguiu o meu exemplo.

_ Eu sempre tive um pouco de inveja pela forma que você vivia.

_ Inveja de mim, eu sempre vivi sem regras, não querendo dar justificativa da minha vida para ninguém.

_ Eu ao contrário vivia com o rosto voltado aos livros, vivendo a vida do filho modelo mas por dentro gritando por um pouco de rebeldia.

_ Nós crescemos sendo água e óleo né, não nos misturávamos mas um completaria o outro, só agora percebo o quanto você precisava de mim e eu de você.

_ Mas que bom que tivemos a chance de refazer esse mal estar entre nós.

Levei a mão ao rosto do meu irmão, depois olhei para o meu pai:

_ É difícil ver ele assim?

_ É sim, a imagem que tenho do pai sempre foi de um homem austero, de uma imponência absoluta, e hoje está aqui na nossa frente nessa cadeira de rodas sem saber nem que somos os seus filhos.

_ Eu tenho a mesma visão do pai, achei que ele fosse envelhecer um velho turrão, autoritário, jamais na minha vida imaginei ver ele nessa cadeira de rodas, sabe eu já tive muito medo e muita raiva dele, mas hoje eu sinto pena.

_ De certa forma eu te entendo, meu pai sempre foi muito duro com você, acho que esse sentimento que você tem é de certa forma compreensivo.

_ Mas quer saber não vamos ficar remoendo isso, o que eu gostaria de saber é como está o seu coração, está ocupado, ou está com uma vaga aberta por ai?

_ Eu tive um namorico antes de ir para a Alemanha. Mas acabamos perdendo contato.

_ Emanuel?

Ele arregalou os olhos:

_ Como sabe do Emanuel?

_ Acabei sabendo por acaso.

_ A gente se separou antes da minha viagem e perdemos o contato, chegamos a nos telefonar duas ou três vezes, mas aí eu me juntei com o...

Ele calou-se:

_ O Marlon...

_ Ele te disse, que alivio achei que tinha cometido uma gafe, mas o que tivemos já acabou, somos apenas bons amigos.

_ Não sente mais nada? 

_ Amizade, uma linda e saudável amizade, acho que meu coração sempre esteve ocupado por essa razão ele e eu não demos tão certo, mas vocês dois são tão lindos juntos, que eu até gostaria de reencontrar o Emanuel para uma conversa, olha aí você me causando inveja novamente, eu quero um amor assim para mim.

Nós dois rimos:

_ Você já pensou em procura-lo?

_ Não fiz outra coisa desde que cheguei aqui no Brasil, mas não consegui nada.

O sol estava começando a ficar escaldante, era hora de levarmos nosso pai para casa, mas antes passamos em uma sorveteria para tomarmos um sorvete juntos, tivemos a surpresa em escolher o mesmo sabor, napolitano, para o meu pai escolhi de chocolate pedindo para o atendente para trazer uma colher e um guardanapo, fui colocando o sorvete na boca do meu pai e quando ele babava eu o limpava, Renan nos observava:

_ Esse momento precisa ser registrado por nós, vamos tirar uma foto, a nossa primeira foto juntos, de nós três.

Ele captou a imagem no celular e apertou o botão, logo a nossa foto estava no papel de parede, tanto no celular de Renan como no meu. 

Duas vontades... A outra face do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora