Duas vontades... A outra face do amor

Capítulo 32

Em qualquer situação eu sempre procurei manter a calma, o desgaste emocional nunca foi e nunca será a solução para nada, mas devo confessar que ter aquela garota dizendo aquelas palavras enquanto Kleber e eu caminhávamos era demasiadamente degradante, aquela garota se expunha a uma cena desagradável causando um transtorno não apenas a ela, mas a nós dois também que tínhamos todos os olhares voltados na nossa direção:

_ Ela vai nos seguir até quando?

_ Suba na moto, vamos sair logo daqui.

Ingrid continuava a gritar e chorar e a multidão foi se aglomerando diante de nós para observar o que acontecia.
Assim que subi na moto, Kleber circulou meus braços em torno do seu corpo e avisou-me:

_ Segura amor, vou nos tirar daqui imediatamente.

Ele arrancou com aquela máquina fazendo barulho, só parando no quartinho dele, fazia dias em que ele não aparecia por ali, ao abrir a porta o ar quente de lá subiu, mas ainda assim eu me sentia mais seguro, ali não tinha olhares nos avaliando, nos julgando:

_ Hoje ela passou dos limites, fazer escândalo na frente do hospital onde o meu pai está internado.

_ Realmente foi desagradável, ela fez com que todos nos olhassem como dois criminosos.

_ Me perdoa por isso meu amor, você não merecia passar por isso.

_ Kleber você não tem responsabilidade sobre isso, você tem uma coisa com você que tem um lado bom mas também tem um lado ruim.

_ Lado ruim, como assim amor?

_ Você quer abraçar tudo, isso é legal porque mostra o quanto você se importa com quem você ama e quer proteger de tudo e todos, porém o lado ruim disso é que você toma os erros dos outros para você, isso te sobrecarrega, vai ter uma hora em que você não vai aguentar.

_ Eu nunca tinha pensado nisso dessa forma.

_ Deixa eu cuidar de você um pouco, divide comigo tudo o que precisar não importa o que seja.

_ Então, a Ingrid é apenas uma garota perdida, eu sei disso, mas me irrita essa perseguição dela, eu já tive vontade de dizer a ela com todas as letras isso, mas eu tenho medo de magoar a Micaela por causa disso, e com isso acabo protelando essa situação, mas o que ela fez hoje, foi além do que eu imaginei que ela poderia fazer, te confrontar como se ela tivesse direito sobre mim foi um absurdo.

Nós estávamos sentados sobre a cama e eu declinei o meu corpo para trás:

_ Ela precisa de ajuda, não é um problema de adolescente uma fase ou algo assim, ela já passou desse estágio, ela precisa realmente de ajuda. Você precisa conversar com a Micaela.

_ Eu não queria ter que lidar com isso, não nesse momento em que preciso me reservar emocionalmente, mas acho que terei mesmo que conversar com a Mica.

Eu passei meus dedos sobre seu rosto:

_ Amor... tem outra coisa te preocupando fora seu pai e essa situação com a Ingrid?

_ Tem sim Marlon, hoje faltou pouco para descobrir quem é o motorista daquele carro que anda nos seguindo.

_ Você perguntou para o Renan se ele viu algo suspeito, porque eu estou pensando em uma pessoa mas se for não faz sentido algum esse carro está vindo atrás de nós e não do Renan?

_ Renan... o que o Renan tem a ver com esse carro?

_ Ele nada Kleber, mas se for quem eu penso pode ser que o motorista tenha algo com ele.

_ Como assim?

_ Pensa comigo, esse carro começou a nos seguir logo depois que o Renan reencontrou o Emanuel.

_ Claro... é o tal Silvio. Temos que falar com o Renan agora mesmo.

_ Calma Kleber, nós não temos certeza disso, até por que não faz nenhum sentido esse carro está vindo atrás de nós se fosse o namorado do Emanuel.

_ Faz sentido, mas se não for ele, quem será, eu não tenho inimigos, não aparentemente.

_ E eu não conheço ninguém por aqui. Vamos fazer o seguinte, vamos alertar o Renan e o Emanuel, pedir que ele fique de olho no Silvio para ter a certeza, e então o questionamos o que ele quer com isso, qual é o seu propósito porque tudo isso é muito maluco.

_ Vamos esquecer tudo isso, e ficar aqui essa noite, só você e eu, tudo o que eu queria era esquecer que tudo isso está acontecendo e ficar aqui agarradinho com você.

_ Que delícia de pensamento, eu também quero isso, acha que podemos fugir por uma noite e esquecer tudo o que acontece lá fora?

_ Eu acho, acho mesmo.

_ Então vamos ligar para a dona Laís para ela não ficar preocupada conosco e eu posso lhe fazer uma massagem o que acha?

_ Proposta tentadora que aceitarei com prazer.

Após desligar o telefone fiz Kleber deitar-se de bruços despido de sua camisa, e já tinha pego um creme hidratante no armário do banheiro, besuntei minha mão e deslizei por suas costas subindo com leves toques arrastando até seus ombros onde dei um leve aperto, repeti a operação, mas aproveite-me que ele estava naquela posição para dar um beijo em sua nuca, meus toques eram suaves e precisos, e eu modelava cada centímetros das costas de Kleber com ambas as mãos fazendo a musculatura dele relaxar, eu não era nenhum especialista em massagens, ainda assim sentia ele tenso, seu corpo rígido, eu continuei a massageá-lo, descendo por suas nádegas, pernas e até os pés receberam o meu carinho, não demorou para que ele estivesse adormecido, e eu sorri ao ver ele ressonar tão profundamente.

Enquanto ele dormia resolvi me arriscar na cozinha, embora a minha aptidão era limitada e no máximo eu sabia fazer um macarrão instantâneo, coloquei a água no fogão juntamente com o macarrão para cozinhar, mas resolvi incrementar, embora não sabia o que iria dar essa mistura, fritei quatro ovos com queijo, salsinha, cebola, juntei o pimentão e coloquei sal e vinagre e deixei tudo pronto para quando ele acordasse.

Não era um jantar sofisticado, mas dava para matar a fome, eu o acordei:

_ Kleber... Kleber meu amor, vamos acorda, você tem que comer alguma coisa.

_ Não... deixa eu dormir um pouco mais.

_ Eu prometo que depois eu deixo, mas você precisa se alimentar.

Ele abriu os olhos com dificuldade e levou a mão ao rosto para esconde-lo:

_ Não acredito que você me deixou dormir, eu te trouxe aqui para ficarmos um pouco juntos e acabo dormindo.

_ Eu estava aqui com você, cuidando de você, amar é isso Kleber, um cuidar do outro, é um amparar o outro quando o outro necessita, e nesse momento eu vou terminar de preparar a mesa enquanto você vai tomar um banho relaxante.

_ Você cozinhou?

_ Miojo.

Kleber deu risada:

_ Desculpa amor, vai ser o miojo mais gostoso que eu vou comer.

_ Você ainda nem experimentou como pode dizer que vai ser o mais gostoso?

_ Porque foi preparado com amor, pelo meu amor.