Capítulo 38

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Durante a madrugada, o telefone insistentemente tocava fazendo todos saírem de seus quartos, o primeiro que alcançou o aparelho foi Renan, e após ouvir a pessoa do outro lado da linha ele empalideceu, percebemos de imediato que não se tratava de um telefonema qualquer, Kleber olhava para o irmão estático, dona Laís também não desviava o olhar de Renan, eu então me adiantei e tirei o aparelho da mão dele:

_ Alô!

_ Alô, aqui é do hospital Perola Figueiredo, ligamos por que precisamos que vocês tragam os documentos e uma peça de roupa do paciente Geovanne Leynner.

_ Entendo... estaremos ai em breve.

O silêncio era aterrorizador, Renan não havia aberto a boca para dizer nada, ainda assim as lágrimas já molhavam o seu rosto, Kleber e dona Laís estava a espera de que eu dissesse algo:

_ Era do hospital... eles precisam que levem uma peça de roupa e os documentos do seu Geovanne.

_ Meu pai morreu.

A voz de Renan saiu cheia de lamúria, Kleber buscou a resposta a me olhar diretamente nos olhos:

_ É verdade, meu pai morreu?

_ Provavelmente, é norma do hospital não avisar da morte de um paciente por telefone, mas se eles pediram para levar um documento e uma peça de roupa, provavelmente tenha sido isso.

Kleber levou ambas as mãos ao rosto, Renan abraçou dona Laís, era um momento muito triste aquele mas tínhamos que enfrentar:

_ Kleber... temos que ir para o hospital amor.

Ele retirou as mãos do rosto e sua expressão era de tamanha dor que eu não sabia como agir, então apenas o abracei, ele agarrou com a mão a minha blusa com tanta força que achei que arrancaria do meu corpo, de repente ele soltou-me:

_ Não se preocupe mãe, Renan, eu resolverei toda a burocracia, eu resolverei tudo.

Kleber tomou a frente de tudo, ele levou os documentos ao hospital eu o acompanhei, mas ele quem recebeu a notícia do falecimento, ele que tratou dos documentos, da roupa, no velório, ele tratou de todos os detalhes, tudo isso o entorpeceu pois ele não chorou, enquanto ele estava ali resolvendo um assunto ou outro ele parecia não está sentindo o que de fato estava acontecendo, mas eu tinha medo daquela reação dele, por que eu sabia que era uma fuga para aceitar a morte do pai.

No velório, dona Laís não saiu de perto do caixão em nenhum momento, Emanuel conseguiu arrastar Renan para casa para que ele pudesse descansar um pouco, eu tentei fazer o mesmo com Kleber mas em vão:

_ Estou preocupado com o Kleber.

Comentei com a Micaela que concordou comigo:

_ Eu nunca vi meu amigo tão silencioso, e com uma expressão tão vaga.

_ Ele não chorou, ele resolveu tudo, não tirou um minuto para poder colocar o que sente para fora.

_ Se tem alguém que pode ajudar ele nesse momento é você Marlon.

Voltei o olhar para Kleber, ele estava distante e até se assustou quando eu coloquei a minha mão sobre os seus joelhos quando me abaixei em sua frente:

_ Amor...

Ele continuou em silêncio mas colocou a mão sobre a minha, forçou um sorriso mas voltou a ficar com o mesmo olhar distante:

_ Kleber a Micaela está aqui.

Ele apenas balançou a cabeça:

_ Você não prefere ir para casa descansar um pouco, depois nós voltamos.

_ O Emanuel levou o Renan para casa, eu não posso deixar minha mãe sozinha.

_ Eu estou aqui Kleber, vai com o Marlon, eu fico com a dona Laís.

_ Isso e qualquer coisa a Micaela nos liga e voltamos.

_ Não, eu prefiro ficar aqui, eu amo vocês e sei que estão preocupados, mas não quero sair daqui.

_ Então ficaremos aqui com você, o tempo todo.

Ficamos ao lado de Kleber o tempo todo, não deixamos ele em nenhum momento, Renan chegou logo ao amanhecer de olhos inchados:

_ Ele chorou a noite toda.

_ É muito sofrimento, o pai fez com que os dois ficassem separados durante anos, mas o sofrimento dos dois é igual mas ambos demostram de forma tão diferente o que sente.

_ É muito triste mesmo Marlon, mas eles vão superar isso juntos, essa família já passou por tanto sofrimento que merecem ser felizes.

Na hora do enterro houve um pequeno alvoroço, pois, dona Laís acabou desmaiando e Renan a segurava, enquanto eu fui buscar um copo de água para ela, Kleber simplesmente desapareceu, ele saiu sem que ninguém percebesse, eu o procurava mais nada.
Eu tentava falar com ele pelo celular, mas o celular estava desligado, acreditando que ele tinha retornado para casa, fui direto para lá, mas na casa dos pais dele, ele não estava, pensei no quartinho dele, mas lá ele também não se encontrava.
Eu estava preocupado, não querendo aceitar o fato dele querer se isolar nesse momento de dor, mas entendia que ele precisava de espaço, ele não queria dividir a dor dele com mais ninguém, nem mesmo comigo, mas aquilo era angustiante, não saber onde procura-lo, cheguei a ir até mesmo naquele bar que ele nos levou um dia e nada nem sinal dele.

Não adiantava ficar rodando por aí atrás dele, assim só iriamos nos desencontrar ainda mais, pois eu não tinha ideia de onde ele poderia ter ido, ele sabia onde me encontrar, e eu precisava está lá quando ele resolvesse retornar, eu estaria a espera dele. Retornei a casa de dona Laís, mas aquela foi a espera mais longa, mas difícil da minha vida, as horas passavam rapidamente e nada de Kleber, ele não retornava.

Micaela e Emanuel também permaneceram por ali o tempo todo, ficamos a noite toda esperando por ele e nada, Kleber não retornou, ele foi aparecer no dia seguinte, quando eu o vi, o abracei com firmeza:

_ Onde você passou a noite Kleber?

_ Me perdoa ter te preocupado amor, eu precisava sair, estar ali estava me sufocando, eu precisava ficar sozinho.

_ Eu não sabia onde te procurar, você desligou o celular, eu fiquei angustiado Kleber.

_ Eu estou aqui, não quero nunca mais me afastar, nunca mais. Me perdoa.

Eu o beijei demoradamente. Nos sentamos no sofá e ele deitou a cabeça sobre o meu colo:

_ Obrigado Mica, Emanuel por estar com a minha família nesse momento difícil.

_ Nunca deixaríamos vocês nessa hora Kleber.

_ Emanuel como está o Renan?

_ Não está sendo fácil para ele Kleber, nem para dona Laís, mas eles estão conformados.

_ Com as pessoas certas do nosso lado ajuda bastante. Ele vai precisar de toda ajuda, de todos nós.

Deixei ter uma oportunidade para o questionar:

_ Amor, onde você passou a noite?

Duas vontades... A outra face do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora