Capítulo 5

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O retorno de Renan ao Brasil, estava deixando dona Laís alvoroçada, ela passou o dia todo na cozinha preparando os pratos favorito do filho, um príncipe não seria tão bem recebido como aquele almofadinha.
Eu pretendia sair antes da chegada dele, tomei um banho e me arrumei, porém quando estava saindo do quarto me deparei com um rapaz que me olhava com um sorriso estampado em seu rosto:

_ Oi, você deve ser o famoso Kleber?

_ Quem é você?

_ Ah desculpa... eu sou o Marlon, amigo do seu irmão.

Olhei o rapaz de cima a baixo e ignorei a mão estendida:

_ O almofadinha chegou... não fui rápido o suficiente para escapar.

Ele deixou escapar uma risada:

_ Você é exatamente como ele descreveu.

Tentando não mostrar interesse de como o almofadinha me descrevia para os outros o questionei:

_ É mesmo, diga como é que ele me descreveu?

_ Está interessado em saber?

_ Na verdade não. O que ele diz a meu respeito não me interessa nenhum pouco.

_ Por um momento imaginei que estivesse curioso, só pela forma como perguntou.

_ Engano seu, não pense que me conhece em dois minutos de conversa. Vou dar o fora, fica a vontade, a casa é mais sua do que minha.

Passei por Marlon e ele sorriu:

_ Não vai nem vê o seu irmão?

Virei-me para ele:

_ Se esperava que eu o recebesse com plumas e confetes acho que está no lugar errado rapaz, não sou desse tipo que considera a "família" como algo existencial. Se o meu "irmão"

Fiz questão de frisar a palavra "Irmão" fazendo as aspas com os dedos:

_ Se o meu irmão descreveu que sou um sentimentalista ele mentiu para você.

_ Ao contrário, ele me descreveu que você é um troglodita.

Fiz uma expressão de incredulidade por aquele rapaz ter dito aquilo tão naturalmente:

_ Então se acha que ele tem razão é bom manter-se afastado, ou o troglodita aqui pode morder.

_ Isso foi o que ele disse, não sou de ser facilmente influenciado, prefiro não julgar o livro antes de lê-lo.

Aquelas palavras me desconcertaram, e eu encarava aquele rapaz, olhando bem dentro de seus olhos, ele parecia sincero mas eu não pretendia abrir a guarda, tratei logo de sair dali:

_ Você errou de direção, o quarto do almofadinha fica pra lá.

Apontei na direção contrária a que ele estava.

Desci a escada e encontrei Renan sentado com dona Laís na sala:

_ Hei Kleber, nós estávamos esperando o seu irmão chegar só a tarde, mas ele nos surpreendeu chegando agora.

Renan não se levantou do sofá, permaneceu sentado, apenas moveu a cabeça, eu também não fiz menção de sair do lugar e respondi a dona Laís:

_ É cheio de surpresa... veio e ainda trouxe um amigo a tira colo.

Ele então ergueu-se:

_ O Marlon não tem nada a ver com as nossas brigas, se mexer com ele eu não te perdoarei.

_ Como se eu precisasse do seu perdão.

_ Hei meninos, por favor não briguem... o pai de vocês precisam que fiquemos em paz, por favor Renan, por favor Kleber.

_ Que seja... vou sair não sei que horas eu volto, qualquer coisa estou com o celular.

_ Nós vamos fazer um jantar para celebrar que a família está reunida novamente, você não pode faltar Kleber, posso contar com você?

_ Ele virá dona Laís...

Unanimes olhamos para Marlon no topo da escada, que direito ele tinha em responder por mim, Renan sorriu e eu fechei ainda mais a minha expressão:

_ Não sei, talvez.

Sai sem deixar que me interferisse, sozinho na minha moto eu sorri, que atrevido aquele rapaz, ele nem me conhecia e se achava no direito de responder por mim, quem ele achava que era para agir como tal, com certeza era namorado do almofadinha.

Passei o dia no bar com os meus amigos, porém não bebi, nenhum copo sequer eu coloquei na boca, era desgastante demais ter que lidar com todas aquelas emoções sóbrio imagina então alcoolizado.

Ás cinco da tarde recebi uma ligação da Micaela:

_ Oi Mica.

_ Oi Kleber, pode vir me pegar aqui para o jantar na sua casa?

_ Jantar?

_ É o Marlon me ligou convidando a mim e a Ingrid, ela vai direto da faculdade, mas eu queria que viesse me buscar para irmos juntos, mas se não der eu chamo um táxi mesmo.

_ Marlon... esse cara é uma figura, chega agora no ônibus e quer sentar na janela.

_ Para de implicar com o rapaz, ele me pareceu bastante simpático.

_ Achei ele muito intrometido isso sim, acredita que ele... deixa pra lá.

_ Então vamos juntos?

_ Não sei se vou aparecer nesse jantar, não tem nada a ver comigo, eu não quero comemorar a volta do almofadinha.

_ Isso do jantar não tem nada a ver com a volta do Renan, bem em partes, mas não é o único motivo, vamos faça um esforço.

_ Que horas a dona Laís marcou o jantar.

_ Ás 19h.

_ Tenho ainda duas horas para me decidir.

_ Te espero aqui.

_ Hei, eu ainda não confirmei que vou.

Ela deu risada antes de desligar.
Por volta dás 18h passei em uma lanchonete e comprei um bolo de tiramissu, para levar para o fatídico jantar, afinal dona Laís merecia um agrado, embora não fosse a minha mãe ela sempre foi gentil comigo, se tinha que salvar alguém daquela família seria ela, quando estava saindo da confeitaria recebi uma ligação de um número não identificado, atendi:

_ Alô, quem é?

_ Me dá o endereço de onde você está, irei te buscar.

_ Como é, quem está falando?

_ Sou eu Marlon.

_ Marlon... bom vou te dá duas razões para não se intrometer na minha vida, primeiro eu não te dou esse direito, segundo eu já sou grandinho o suficiente para saber o caminho de casa, e essa vai de bônus, eu tenho moto e sei chegar até aí.

_ Então você vem?

_ Qual é a tua?... eu não me lembro de te passar uma procuração delegando você como meu cuidador, até por que eu ainda rejo muito bem das minhas faculdades mentais.

_ Na verdade eu sei disso, você é bem previsível para dizer a real, um cara marrento que acha que o mundo é injusto e quer mostrar isso despejando as suas frustrações nos outros.

_ E é porque você disse que não julga o livro sem ler.

_ Nem precisei ler para te entender.

Duas vontades... A outra face do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora