Capítulo 2

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A convivência com o meu pai foi se deteriorando com o passar dos anos, dona Laís era quem apaziguava a situação quando chegava ao extremo, chegou a um ponto de eu odiá-lo, porém nunca levantei um dedo contra ele, mesmo quando ele me batia, já Renan era protegido, era nítida a preferencia que meu pai tinha em relação a ele.

Meu irmão até tentava uma aproximação, mas eu o repelia, o afastava, ficava em casa o mínimo possível e o resto do tempo ficava na casa de um ou de outro, enquanto meu irmão se dedicava aos estudos eu era encontrado em baladas e em volta a encrenca das bravas, houve dias em que meu pai teve até que ir a delegacia me buscar devido a eu ser de menor, como já deve imaginar foi mais uma discussão sem trégua:

_ Porque você é assim Kleber?

_ Assim... assim como moleque?

_ Você não respeita o nosso pai, ignora o pedido da nossa mãe...

_ Ela não é a minha mãe.

_ Mas te trata como filho, ainda que você não mereça a consideração dela, sempre arrumando confusão, sempre metido em brigas.

_ Cala a boca... você não sabe nada da minha vida, o que você sabe da vida seu alfomadinha, filhinho de papai.

_ Nós somos irmãos, deveríamos nos dar bem, eu não entendo a razão pelo qual você age assim.

_ Você nunca vai entender, acontece meu irmão que vivemos em mundo completamente diferentes.

Eu me afastei entrando no banheiro para tomar um banho, e assim que sai do banho para me trocar meu pai estava sentado na minha cama:

_ O que é?

_ Você está sempre querendo me agredir não é menino, você tem dezesseis anos mais não faz nada da vida, vive com esses arruaceiros arrumando confusão, delegacia... agora preciso buscar o meu filho em uma delegacia.

_ Filho... a quem você está chamando de filho... eu... eu nunca fui o seu filho, você apenas me colocou no mundo.

_ Ora seu...

Meu pai respirou fundo antes de prosseguir:

_ Sua mãe morreu naquele maldito acidente e me deixou um carma.

Eram palavras duras, e por mais que eu tivesse vontade de chorar, o meu orgulho não permitia, em minhas expressões podia-se ver a raiva que eu sentia, mas balancei a cabeça confirmando:

_ Não se preocupe, logo se verá livre desse carma, eu não vejo a hora de entrar na maioridade para me ver livre das garras do tirano que é o senhor maioral Geovanne Leynner.

_ É mesmo, e vai viver de que... de brisa, as custa daqueles vagabundo dos seus amigos?

_ Quanto a isso não precisa se preocupar, eu me viro.

Essas brigas eram cotidianas, volta e meia estava lá meu pai e eu as guerras, dona Laís tentando separar e Renan se mantinha neutro.
O que me deixava com mais raiva era que Renan nunca reagia, por mais que eu o provocasse, ele sempre permanecia com a mesma expressão de sonso, e eu não tinha motivos para o atacar. Ele tinha sempre um sorriso no rosto a me oferecer, mas eu nunca devolvia, alias eu não ria para ninguém, minha expressão era taciturna a única pessoa que conseguia arrancar um sorriso era Micaela.

Micaela era o mais próximo que eu considerava de uma irmã, embora ela não tivesse o meu sangue, tinha mais consideração por ela do que pelo Renan que dividimos o laço consanguíneo. Ela me escutava quando eu precisava, me chamava a realidade quando era preciso.
Era para a casa dela que eu ia todas as vezes que em um acesso de raiva eu saia de casa:

_ Mais uma briga com o seu pai...?

_ Sim.

_ O que houve dessa vez?

_ Eu estava com os caras, você sabe como eles são, logo encrencaram com um rapaz, e o dono do bar chamou a polícia... fomos parar na delegacia.

_ Delegacia Kleber?

_ O velho pagou fiança, mas teve que assinar um termo de responsabilidade por mim.

_ Dessa vez você extrapolou, o que você tem feito da sua vida meu amigo?

Ela bateu na minha cabeça:

_ O pior foi o sermão que o almofadinha quis me dar.

_ Poxa Kleber, o Renan é gente boa, se desse oportunidade para conhece-lo veria que além de irmãos vocês poderiam facilmente se tornarem bons amigos.

Balancei a cabeça repetidas vezes negando:

_ Ele nunca será meu amigo Mica, nunca... ele é um estranho que leva o meu sangue, apenas isso.

_ Ele é sensível, e precisa de um irmão mais velho para ajuda-lo, eu tenho algo para dizer sobre ele, mas você tem que me prometer que jamais vai usar isso contra ele, ou a nossa amizade acabará para sempre.

_ O que é?

_ Você sabe que ele é amigo da minha irmã a Ingrid não sabe?

_ Sei...

Dei de ombro:

_ Eu ouvi eles conversando, sem querer mas parece que seu irmão gosta de um amigo deles, um carinha chamado Emmanuel e ao que parece os dois já dormiram juntos...

_ Como é... o alfomadinha gosta de homens?

_ Para com isso Kleber, eu sei que você não é preconceituoso, porque tratar seu irmão por esses termos pejorativos?

_ Eu não estou nem aí se ele gosta de meninas ou meninos, mas imagina se meu pai fica sabendo disso a máscara de bom moço dele cai por terra.

_ Você está sendo maldoso com ele, o Renan é um bom rapaz, o fato dele gostar de alguém do mesmo sexo não interfere no caráter dele, e eu te conheço bem para saber que é você quem usa essa máscara de ranzinza, de valentão para esconder o cara sensível que é... meu amigo se dá uma chance de ser feliz, se encontrar uma forma de perdoar o seu pai por tudo o que ele faz, vai ver que encontrará a felicidade, enquanto viver nessa mágoa vai sempre viver amargurado, e eu sei que você é um cara legal.

_ O que as pessoas ganham para serem legais Mica, aprovação de um pai que só tem palavras duras para oferecer.

_ Cada um dá o que tem, se é isso o que ele tem a te oferecer, retribua com amor, e isso quebrará a barreira que existe entre vocês.

_ E quem disse que eu tenho amor a oferecer a eles?

_ Eu te conheço bem meu amigo, essa camuflagem nada mais é uma forma que você assumiu para não sofrer, criou um muro de proteção para não se machucar, mas vai ter uma hora que terá que deixar essa armadura e assumir o seu verdadeiro eu.

Senti uma vontade enorme de chorar, mas me contive, me despedindo dela ao sair rapidamente da sua casa.


Duas vontades... A outra face do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora