Capítulo 20

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_ Você não quer que eu fique aqui apenas para adiar a conversa com o Renan não né?

_Eu... claro que não.

_ Então se é assim, podemos resolver isso de vez e não teremos nenhum problema em voltar para aqui certo?

_ Não... quer dizer, sim... você tem razão, vamos logo resolver isso.

_ O que foi... o que está te incomodando Kleber?

_ Tá, eu não vou mentir para você, eu estou com medo, ver o Renan como um estranho sempre foi natural para mim, mas agora que conheço a visão dele em relação a mim e percebo que podíamos nos dar bem mais as minhas atitudes nos manteve afastados todos esses anos, estou com medo dele me rejeitar.

_ Eu estarei ao seu lado, vamos Kleber se liberta desse monstro de vez, a conversa entre vocês não será fácil eu sei, como você mesmo disse são anos de separação, mas depois que vocês dois conseguirem colocar para fora o que sentem, eu tenho certeza de que poderão se respeitar e isso fará com que aos poucos a relação de vocês se torne em algo sólido.

_ Você vai está ao meu lado?

Lentamente eu balancei a cabeça e um sorriso surgiu em meu rosto, ele se aproximou segurando o meu rosto com ambas as mãos e beijou-me, após ficamos com as nossas testas encostada, e ele respirou fundo:

_ Vamos... vamos logo encarar isso, o máximo que pode acontecer é termos uma nova briga.

Ele colocou o próprio capacete, depois colocou o meu ajustando em mim:

_ Lá vamos nós.

Ele subiu e estendeu a mão para me auxiliar a subir:

_ Segure firme em mim, essas horas de pico os motoristas dos carros gostam de nos fechar, sabe como é, alguns motoqueiros para se vingar acabam quebrando alguns retrovisor.

_ Vou segurar firme então, não vou largar.

Kleber manobrava aquela máquina com velocidade e menos de quinze minutos estacionou ela na garagem da casa e ele retirou o capacete:

_ É agora ou nunca né...

Eu também retirei o capacete e puxei ele para mais um beijo para encorajá-lo, ele abriu a porta me dando passagem, dona Laís se levantou do sofá:

_ Marlon... onde você foi, eu estava preocupada, até comentei com o Renan que ele precisava te procurar, você não conhece nada aqui no Brasil.

_ Desculpa te preocupar dona Laís, eu saí com o Kleber...

_ Ah!

Dona Laís nos olhou e depois voltou os olhos para Renan, mas antes que ela conseguisse dizer algo Kleber a abraçou surpreendendo-a, Renan me olhou erguendo os ombros em dúvidas:

_ Dona Laís... perdoa todas as vezes que eu fiz a senhora ficar preocupada comigo e agir com ingratidão, a senhora sempre foi muito carinhosa comigo, mesmo não sendo a minha mãe, por favor me perdoa?

_ Filho, eu já te perdoei a muito tempo, você não nasceu de mim como o Renan, mas eu te vi crescer e eu falhei com você todas as vezes que não te defendi.

_ Não pensa que eu não via que tentava, que eu não via que tentava conter a fúria do meu pai.

_ Mas eu também preciso te pedir perdão meu filho.

Eles se abraçaram mais uma vez e ambos choravam:

_ Eu te perdoo dona Laís, me perdoa também.

Depois o silêncio reinou, com passos lentos Kleber se aproximou de Renan parando a sua frente, ninguém dizia uma palavra, apenas observávamos o que iriamos acontecer:

_ Renan...

Renan continuava em silêncio, ele enxugou as lágrimas que escorriam por seu rosto:

_ Renan... nós dois precisamos ter uma conversa.

_ O que significa tudo isso, essa cena, o que é que está acontecendo?

Eu me intrometi:

_ Renan por favor só escuta o Kleber. Deixa ele falar e depois de ouvi-lo você decide.

_ Tá... pode falar.

_ Meu irmão...

Renan novamente enxugou as lágrimas, mas olhava fixamente para Kleber em silêncio:

_ Nós dois somos irmãos, sangue do mesmo sangue, mas sempre vivemos como dois estranhos.

_ Não sei o motivo dessa conversa agora, se nós dois vivíamos assim foi porque você sempre preferiu me ver como inimigo do que seu irmão, o que foi que mudou?

_ Eu assumo Renan que fui intransigente e coloquei uma culpa nas suas costas que era pesada demais para você carregar. Eu tinha uma visão distorcida do que vivíamos, mas eu sempre te amei, só não conseguia demonstrar.

_ Não, ao contrário, você conseguia demonstrar, eu tinha a nítida certeza dos seus sentimentos sim... sentia o que verdadeiramente você sentia por mim e não era amor Kleber, era raiva, era ódio.

_ Eu nunca te odiei meu irmão. Mas é justo que pense assim.

_ Eu não preciso ser justo Kleber, não depois de tudo, você é a pessoa mais egoísta e insensível que eu conheço, você me condenou sem me dar a chance de perdão, você não imagina a dor por todas as tentativas de aproximação, todas as vezes que eu queria conversar com o meu irmão, eu me lembro de cada palavra de rejeição que você me dizia, você deve lembrar disso também, quando fui me despedi de você, você lembra qual foi a palavra que você me disse, talvez não, mas eu posso lembra-lo, você me disse: _ Meio irmão, meio apenas não conta como irmão, essa palavras doeram Kleber, eu juro que tudo seria diferente se quando eu voltei da Alemanha as coisas estivesse melhores, eu estava disposto a sentar com você e me reconciliar, mas não, você continuava o mesmo orgulhoso, afastando as pessoas que te ama, você não pensa em ninguém além de você.

Eu abri a boca mas fechei quando Kleber se ajoelhou na frente de Renan, dona Laís apertou a mão sobre o meu braço, Renan ergueu os olhos para o céu, o rosto molhado de lágrimas, assim como os de Kleber também estava:

_ Me perdoa, me perdoa meu irmão, eu estou disposto a mudar, me dá uma chance.

_ Porque você tem sempre que ser um babaca, filho da mãe de um babaca?

Sem nenhuma palavra a mais, Renan ajudou Kleber a levantar-se e o abraçou, Dona Laís me olhou com o rosto mesclado de um sorriso com um choro, eu também estava emocionado e tanto Kleber quanto Renan permaneciam naquele abraço esperado durante todos aqueles anos.

Duas vontades... A outra face do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora