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Vincent dirige no limite da velocidade, o silêncio no carro é agonizante. São tantas as palavras que deveriam ser ditas sendo engolidas por todo aquele silêncio.
Passo a mão em meu rosto e sinto algo molhado. Por ironia estou chorando, fecho os olhos e vejo algumas imagens de anos atrás.

De repente o carro para em uma estrada de terra e tudo em volta são árvores.
Me recuso a olhar para ele e ser a primeira a falar.

— Eu não sei o quê dizer — sua voz baixa me faz fechar os olhos e tentar controlar as lágrimas silenciosas.

— Que tal começar com a desculpa? — minha voz sai embargada — Você foi embora e me deixou sozinha.

Abro os olhos e me viro para encarar a figura masculina ao meu lado.
Vincent tenta segurar minha mão, mas eu me afasto fazendo ele recuar.

— Eu precisei fazer aquilo, Emy. Tinha que ir embora, as coisas estavam ficando complicadas.

— Mas você nunca pensou no quanto eu iria sofrer? Nunca pensou em como isso ia me afetar? — berro desesperada.

Em um momento de distração, ele me puxa para um abraço do qual eu tento sair, porém o cheiro nostálgico de canela me faz acatar seu abraço.

— Eu sinto muito, Emy. Eu sinto tanto, irmã — diz com a voz chorosa.

— Não me deixe de novo, Vincent! — suplico em meio a soluços. Sabe aquele vazio, aquela dor da perda? Ela está diminuindo agora. Quando nosso pai faleceu, Vincent foi o que mais sofreu, ele teve muito mais tempo com nosso pai do que eu e minha mãe.

— Eu prometo que não vou embora!

                                    🌻

Depois de nos acalmar Vincent me levou até uma lanchonete da cidade vizinha.

— Sabe que não pode contar a ninguém sobre nós, não é? — respiro fundo concordando com a cabeça. Vincent é investigador e provavelmente está na cidade por algum de seus casos.

— Por que está como professor na minha escola? — meu irmão arruma sua postura ficando cruzando as mãos em cima da mesa.

— Por conta do meu novo caso — ponto para mim.

— Sobre o que?

— Sobre você — aponta e eu o encaro sem entender nada. Vincent abre uma mochila preta que estava com ele e me entrega algumas pastas com fotos e documentos.
São cópias de uma certidão de óbito e laudos médicos com o meu nome. Fotos de um camaro destruído e de um funeral onde eu não conheço ninguém a não ser minha mãe. E o mais perturbador, uma foto minha com James. Mas não uma foto qualquer, uma foto de mão dadas no parque. Outra foto de nós nos beijando.
Jogo todos aquelas papéis na mesa e encaro meu irmão que continua sério.

— O que são essas coisas? — minha voz quase não sai, tento focar minha visão, mas está tudo turvo.

Vincent passa a mão no rosto e logo depois segura minha mão por cima da mesa.

— Você está morta, Emy. Legalmente morta.

                                   🌻

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