Déjà Vu

19

Emy.

No final das aulas eu comecei a ficar um pouco nervosa sobre falar com James a respeito das minhas memórias perdidas, mas eu preciso saber, isso é importante para as investigações e ainda mais para mim. Quero ter todos os momentos perdidos de volta.
Antes de sair do Colégio acabo dando de cara com o Luke que me observa com um sorrisinho cínico de lado.

— Algum problema? — ele encosta no armário ao lado, perto demais de mim.

— Esqueceu o trabalho que teremos de fazer juntos? — imediatamente me recordo sobre o sorteio que a professora de biologia fez. Suspiro e me encosto no armário ao lado dele.

— Podemos fazer isso amanhã? Eu tenho compromisso agora — seria frustrante ter que remarcar com o James para fazer um trabalho com o Luke. O garoto parado a minha frente sorri minimamente ao concordar com a cabeça, Luke toca a ponta do meu nariz antes de começar a se afastar. Uma pontada forte na parte de trás da minha cabeça me faz fechar os olhos rapidamente.

— Eu sempre vou estar esperando por você — diz e toca a ponta do meu nariz carinhosamente.

Abro meus olhos e tento controlar minha respiração pesada. Olho na direção que o Luke foi e não o vejo mais.

— Está pronta? — pulo de susto com a voz do James que está sorrindo ao meu lado.

— Claro — sorrio e acompanho ele até a saída.

Todo o caminho até o apartamento dele foi feito em silêncio, acho que ambos ainda estamos tentando digerir tudo o que aconteceu, as coisas ainda não estão claras o suficiente.
Quando ele diz que chegamos, eu fico parada em frente ao pequeno prédio, algo nele realmente me é familiar. A estrutura pouco antiga com portas de vidro escuras me causam um sentimento de conforto.

—Você adorou esse prédio desde a primeira vez em que vimos ele — comenta James olhando a fachada do mesmo.

Por um momento me permito admirar James, suas feições suaves, seus cabelos castanhos bagunçados e... sua boca tão bem desenhada. Engulo em seco enquanto encaro seus lábios, antes que eu perceba estou com os dedos tocando meu lábio inferior. É como se meus lábios sentissem falta dos dele.

— Vamos — ouço James e saio do meu transe.

                                  🌻

Quando James abre a porta de seu apartamento, é como se eu abrisse uma caixa com lembranças. Tudo me é familiar, a decoração com cores escuras é exatamente como eu decoraria esse lugar.
Ando em círculos pela pequena sala, observando cada pequeno detalhe. Me surpreende ter várias fotos nossa espalhadas em um mural. Eu toco algumas delas e observo o quão feliz eu aparentava estar.
Me viro para a porta novamente e encontro James encostado nela enquanto me observa atentamente com um brilho nos olhos.

— Nunca achei que te veria andando por esta sala novamente — diz com a voz rouca e coloca as duas mãos no bolso da sua jaqueta.

Continuo em silêncio sem saber exatamente o que dizer a ele, tudo isso é tão confuso e doloroso.
Dou alguns passos em sua direção e paro de frente para ele, que não deixa de me olhar nos olhos nem por um segundo.

— Como nos conhecemos? — pergunto quase em um sussurro. Ele sorri triste e abaixa os olhos para pegar a minha mão.

— Eu te vi pela primeira vez na floricultura da mãe do Jack, mas a nossa primeira conversa aconteceu no mesmo lugar você estava quando voltou, exatamente naquele banco. Só que você estava chateada por ter perdido alguém. Alguém que eu nunca soube quem era.

— Como assim? — James suspira e me puxa para o sofá azul escuro, sentamos um ao lado do outro. Em momento algum ele solta a minha mão.

— Você disse que fazia um ano que tinha perdido alguém importante.

— Parando para pensar, eu acho que estava falando do meu irmão. Foi uma perda para mim quando ele foi embora — quase posso sentir a dor que senti daquele dia.

— Você nunca me disse nada sobre ter um irmão, isso é meio estranho... — ele parece magoado por isso.

— Digamos que muitas coisas sobre o meu irmão são segredos que eu não poderia revelar a ninguém — James começa a traçar linhas com o dedo na palma da minha mão. O toque dele é tão natural para mim, me parece tão certo quanto respirar.

— Eu me apaixonei por você naquele mesmo dia — James solta um riso nasal — Eu me achei tão patético depois, fiquei imaginado que nunca mais ia te ver depois daquele dia. Mas então eu passei a ir todos os dias no parque e felizmente você sempre estava lá, parecia que estava esperando por mim.

Sorrio com suas palavras e encaro seus profundos olhos castanhos. Seus olhos percorrem meu rosto e param na minha boca, logo seus dedos estão tocando minha bochecha em um leve carinho. Todo o lugar por onde seus dedos passam me deixam uma sensação de formigamento. Eu gosto, eu quero mais disso. Me aproximo lentamente de seu rosto e ele arregala os olhos com meu ato repentino de aproximação. Porém, James não se afasta nem um milímetro e nos próximos segundos sinto seus lábios sobre os meus, suas mãos me puxam pela cintura para o seu colo e não recuso. James passa sua língua pelo meu lábio inferior e eu e abro a boca para lhe dar um devido beijo de saudade. É isso, sem perceber todo esse tempo eu tive saudade dos seus beijos.

                                   🌻