Capítulo 14

51 12 13
                                    

Quem é vivo sempre aparece, não é mesmo?

Boa noite, anjos, boa leitura :) 

>.<


Era véspera de Natal e a casa estava uma loucura.

Meus pais não paravam de rezar e clamar o nome de Jesus e Deus, minha avó não saía da cozinha e eu e Gemma não saíamos do quarto, tentando a todo custo, evitar a loucura de tudo.

- Por que seus pais são assim? Vovó com certeza não tem nada a ver com eles, o que aconteceu?

- Não sei? Tudo piorou quando fiz 10 anos, eu acho. Eles eram pessoas normais, lembra? Pais amorosos que compreendiam, mas daí... não sei... – Minha voz fica falha e eu dou de ombros. Não sabia o que realmente aconteceu com meus pais, mas sei que o estopim para tudo isso foi o episódio de 4 anos atrás, a causa para nós não termos voltado mais aqui.

- Eu lembro disso, mas eles ficaram piores, pra mim, quando você tinha 13 anos e aquilo aconteceu.

- Eu não quero falar sobre isso, por favor. – Encolho os ombros, olhando para baixo. Eu odeio aquele dia. Odeio aquela época.

- Você sabe que não há nada de errado, não é?

- Eu estou bem, Gemms, aquilo não me pertence mais.

- Tem certeza?

- Sim, eu tenho certeza. – Ela concorda com a cabeça, deixando um suspirar passar por seus lábios. Eu fico brincando com minhas mãos, o ambiente ficando tenso demais para qualquer conversa. Deixo um pigarro soar pelo cômodo, limpando a garganta enquanto penso em algum assunto que não seja o fato de meus pais me encontrando no quarto de minha prima com algumas roupas dela e maquiagem na cara. Algo que não seja eles me espancando e dizendo que iriam tirar o demônio de mim. – Então... seus pais não vêm?

- O quê? – Ela levanta a cabeça, os olhos arregalados e as sobrancelhas em pé. Por que a surpresa?

- Seus pais, eles não vêm passar o natal?

- Harry, o quê? Não, eles não vêm.

- Por quê? Por favor, me diz que vovó não passou...

- Harry, eles não vêm porque estão mortos. – Minha boca se fecha, parando a minha frase no ar, deixando ela ser interrompida por Gemma. Meus tios estão mortos?

Mortos?

Sete palmos debaixo da terra?

- Do que você está falando, Gemma? Essa brincadeira não tem graça! – Acuso vendo a imagem da garota borrada, as lágrimas já em meus olhos.

- Eles morreram em um acidente de carro, Hazz.

- Não, Gemma, me fala que não é verdade.

- Eu queria, por deus, como eu queria que fosse uma brincadeira. – Sua voz também está falha agora e muito mais perto de mim, enquanto abraço meus joelhos, sinto que seus braços estão em volta de mim também.

- Quando?

- Um ano.

- Meus pais sabem?

- Sim.

- Por que eu não sei, Gemma, por quê?

- Eu não sei, eu realmente não sei. Mas, faz sentido então você não ter ido ao velório.

- Eu sinto muito, Gemma, me perdoe. Deve ter sido tão horrível...

- Tão horrível o quê? Ver meus pais mortos? Não, Harry, o pior foi ver que meu tio, o irmão do meu pai, não se importou com nada... o pior foi ver que ele não iria vir, não se daria ao trabalho de ver se eu ou se vovó precisávamos de alguma coisa. O pior, Harry, foi perceber que você não viria, ou porque não sabia ou porque estava preso em casa por eles, mais horrível ainda foi ver que eu teria que superar tudo sozinha, sem você, a pessoa que sabia o quão especiais eles eram. Eu odeio o fato de ter percebido quão podre o ser humano é, logo após ficar sem as pessoas que me protegiam de tudo isso.

Home (l.s)Onde histórias criam vida. Descubra agora