Prólogo

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- Harry, por favor, pare de mexer tanto os seus pés. – Ouço a voz de mamãe e suspiro. Seus olhos estão presos em mim e ela continha uma carranca no rosto, demonstrando sua irritação. Eu paro meus pés e começo a batucar meus dedos na perna, encostando no tecido da calça jeans.

Estava ansioso.

Volto minha cabeça para a janela do carro e observo a quantidade de árvores e coisas verdes que continham nos lotes dali. É incrível saber que o ser humano não desmatou todas as coisas verdes do planeta.

Não posso deixar de pensar no que me aguarda, minha avó teria o mesmo rosto de quatro anos atrás? Teria mais rugas e marcas do tempo? Seu temperamento ainda era amoroso e acolhedor? E, o mais importante, ela saberia do meu pequeno, e, segundo o que meus pais comentam dos outros, sujo segredinho?

Minha avó me conhecia como a sua palma da mão, ela sabia tudo sobre mim, às vezes eu tinha a impressão de que ela lia a minha mente. Talvez um poder de avó? Não sei, mas o fato de não a ver ou manter contato durante quatro anos. e, por esse tempo, finalmente ter descoberto o que tanto me atormentava e alucinava, me assustava.

Eu sou gay.

Meus pais são homofóbicos.

Absolutamente ninguém sabe esse segredo.

É, acho que eu terei que suportar esse verão e tentar ao máximo não ficar louco. Eu realmente não suportaria o fato de que vovó também não aceita pessoas como eu. Seria demais.

- Harry, eu juro que se você não parar de bater nesse banco eu vou te deixar nessa estrada e você vai andando, quem sabe aprende a não ser tão inquieto. – Reviro os olhos, deixando minhas mãos repousarem em meu colo e cruzando as pernas em forma de índio no banco.

- Desculpe. – Murmuro, abaixando a cabeça. Papai resmunga algo incompreendido por mim e mamãe não fala absolutamente nada.

Então, como eu faço por 17 anos, simplesmente ignoro qualquer coisa ruim que tenha saído da boca deles e deito minha cabeça no encosto do meu banco, fechando os olhos para acalmar qualquer sensação ruim dentro de mim.

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