2. A pequena Fada

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— Príncipe Max! Por favor, volte aqui!

A voz do cozinheiro ecoava da cozinha até os corredores enquanto ele corria atrás de mim tentando salvar a sobremesa de meu pai.

— Você não me pega!

— Ah seu ragazzo! — dizia com seu sotaque italiano que sempre zombei.

Dei a volta por uma das ilhas e abri as portas da cozinha, alguns dos guardas me observavam curiosos, provavelmente se perguntando: "o que o pequenino irá fazer?". Se pudesse, teria dito a eles que deviam me proibir de entrar na cozinha ou o italiano ficaria maluco.

Virei o corredor, passei pelos salões e fui direto ao jardim, no meu lugar secreto. Nenhum guarda me impediu, e, se o fizesse, denunciaria ao meu tio Hadrian, o Rei, e pediria para que cada um fizesse a minha sobremesa. Quando finalmente cheguei ao jardim, fui na casa da árvore. Meus avós foram, no final das contas, gentis comigo, colocaram uma escada de corda, bastava desamarrar uma corda presa na estaca de madeira fincada próximo a uma roseira que a escada surgia.

Depois de uma manutenção feita alguns anos antes de eu nascer, a casinha estava em quase perfeitas condições. Aproveitaram e criaram um segundo andar completamente aberto, com uma das vistas que eu mais gostava de apreciar. Mantiveram o designer desde quando foi criada, há muitas gerações atrás, a distribuição dos locais, os troncos que passavam por dentro da casa de forma elegante, e até mesmo a madeira de rabiscos com assinaturas e corações dos meus antepassados, porém, tiraram coisas que deixariam aquele lugar no chão.

Sentei em um conjunto de almofadas com meu Berry Cheesecake, era a sobremesa preferida de meu pai Malkiur e consequentemente a minha. Ele não ficava bravo quando entrava escondido e pegava as sobremesas da cozinha, desde que fosse as dele.

Comi metade e deixei o resto em cima de um sofá próximo às almofadas. Haviam grandes escadas que davam ao segundo andar, os adultos se saíam melhor que eu, mas subia com calma. Enquanto o primeiro andar era uma verdadeira casinha, com dois quartos construídos, que meu pai e tio adoravam dormir quando crianças, e outros cômodos, o segundo era uma área mais relaxante e divertida onde podia ver todo o jardim e diversas árvores, observar os pássaros cantarolando quando estava com tédio e até mesmo os desenhar.

Por ser criança, só me deixaram vir sem a presença de um guarda quando estava aparentemente grande o suficiente para compreender os riscos de um local aberto. Recebi treinamentos como o que fazer em caso de emergência, locais que tenham instrumentos de defesa ou ambientes mais seguros, seja qual fosse a situação, de um pingo de chuva até o ataque mais fatal, só para ficar sozinho na casa da árvore.

Sentei em uma abertura do longo corrimão de madeira da varanda, gostava da sensação de estar no alto. A arquitetura da casa também se mantivera a mesma depois da reforma, possuía um clima de palácio a cada detalhe, até mesmo a passarela que conectava o segundo andar com uma espécie de varanda oval tinha toques de um castelo. Tudo isso me fazia sentir um rei com o meu próprio palácio, podia ser coroado ali mesmo.

— Príncipe Max! — gritou um dos guardas antigos terminando sua breve reverência — Seu pai está a sua procura!

— Vá na frente e diga que estou indo.

— Ele ordenou que trouxesse comigo a outra metade da sobremesa!

Eu sempre comia somente metade, não sei se era para dividir e passar mais tempo falando com meu pai ou só pelo fato de não suportar comer tudo.

— Ele não pode vir aqui? — gritei ao mesmo tom com leve tristeza, já sabia a resposta.

— Você sabe como é difícil para seu pai... Seu tio precisa da ajuda dele — ele disse abaixando a voz.

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