14. Dezessete cartas

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— Sinto muito, mas não posso entregar essas cartas sem a permissão do Rei Hadrian, o senhor sabe que ele proibiu que cartas fossem enviadas ao reino mágico se não fossem escritas pela própria mão dele ou lidas pelo mesmo.

Dezessete cartas, aproximadamente duas a cada semana que passei longe de Scarletty. Dezessete vezes em que insisti àquele carteiro para que entregasse as mensagens.

Imensas estantes se estendiam pelas paredes da área das correspondências que ficava na torre do meu castelo, a luminosidade era suave, apesar de haver uma grande janela onde os carteiros das fadas entravam antes de toda a confusão. Uma enorme mesa redonda bem no centro, com pilhas de cartas escritas à mão e tintas naturais acompanhadas de penas, mostrava que não havia diversão naquele local, somente trabalho, assim como foi todos os dias desde que as fadas e os meio-fadas foram expulsos do castelo e praticamente rejeitados por parte do povo.

— Saiba que o senhor sabe muito bem como alcançar o limite da minha paciência — afirmei com minhas cartas na mão, mantendo a certeza de que apenas eu e Scarletty as leríamos.

— Sinto muito senhor Max — o carteiro dizia passando cartas na mão e fazendo uma leve reverência sentado em uma cadeira de madeira.

— Príncipe para você.

Me retirei em passos firmes e rápidos, não queria ouvir a voz daquele ser, havia muito trabalho para ser feito. Depois que meu tio me deu a coroa, assumi o escritório de meu pai e consequentemente todo o trabalho. Pude aprender mais de mil palavras novas, talvez a cada duas semanas ou menos, ler palavrosos livros sobre economia, história, sociologia, magias diversas, natureza e tantos outros, administrar e aprender sobre nossa guarda real, dentre outras coisas que me fizeram saltar de um garoto de apenas dezesseis anos para um príncipe adulto cercado de funções.

Desci as escadas da torre e percorri os corredores até finalmente alcançar a biblioteca oficial, onde precisava pegar alguns livros. O castelo estava de alguma forma melancólico, talvez afetado pela desarmonia ou somente pela falta de animação dos guardas que perderam alguns companheiros. Era de fato engraçado como isso também me afetava, utilizei ternos de cores escuras, cortei o cabelo, como Anthone que não usava mais cabelo longo, o que o deixou com pontas onduladas e levantadas e uma franja menor jogada para o lado direito, e era irrefutável o fato de que estava menos alegre durante esse período.

Sobre minha coroa, diferentemente de meu pai, resolvi usá-la, apesar de me causar alguns ferimentos na cabeça. Na maior parte do tempo me esquecia de que ela estava acima de mim, tirando os momentos em que me inclinava e apenas colocava a mão nela para me certificar de que não sairia rolando pelo chão. Um detalhe um pouco esquisito de utilizá-la era durante alguns debates onde os olhares não focavam em mim, mas na intimidante coroa, o que diminuía um pouco o nível da minha paciência.

A biblioteca era um lugar de fato majestoso. Paredes enormes de cor branca com decorações de folhas de ouro, pilastras com a cor das nuvens de um céu ensolarado, o chão formado por losangos brancos, cinzas e marrons que combinavam com os livros dispostos nas prateleiras, fileiras que variavam entre os velhos e novíssimos, de uma maneira harmoniosa que, somado com a luz que entrava pelas paredes de vidro, não deixava aquele local sombrio. Aqui, nunca conseguia esquecer momentos da minha infância, tanto com meu pai quanto com meus amigos, o que me fazia sentir completamente em casa, se comparasse este local com os outros cômodos.

— O senhor separou os livros? — perguntei ao Martin, meu novo assistente na biblioteca, que estava sentado em uma mesa lendo algum livro.

Ele era poucos anos mais novo que meu tio, era alto, tinha pele quase da mesma cor que a da Rainha Obsidiana, uma barba que vivia cortada, olhos verdes claros e cabelos pretos que, após crescerem, se tornavam verdes, pois ele era um ser elemental da terra, ou seja, poderia controlá-la de forma que nenhuma fada poderia. Apesar de terem expulsado seres mágicos, não poderiam fazer o mesmo com um elemental, pois são extremamente raros.

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