Espadas & Magia

10. Adeus ou até um dia

— ELE MORREU!

Aquelas palavras eram impossíveis, ele jamais me deixaria, não assim. Ele seria apenas palavras dali em diante? Ele seria no futuro palavras que o descreviam, como minha mãe sempre foi para mim? As lágrimas caíram como amigas.

Senti o toque de Scarletty. Deveria ser o príncipe forte ou o menino que acabou de perder o pai na frente dela? Me virei, sequei as lágrimas permanecendo com a postura de um príncipe e olhei os olhos dela, escuros e fundos aceitando a notícia e a dor. Não me aguentei sozinho, corri em busca de seu abraço e fiquei como uma criança ferida nos braços de uma amiga que não podia curar sua dor, mas podia me confortar.

Scarletty era alguns centímetros mais baixa, o que foi ótimo para repousar minha cabeça em seu ombro, chorar e fazer o que mais temia, deixá-lo ir. Ele não lutou? Eu deveria ter ficado. Ninguém o defendeu? Foi um humano, fada ou meio-fada? Como viverei sem ele e nosso Berry Cheesecake?

Meu tio, o único que ainda possuía meu sangue, se afastou do nosso abraço deixando no ar o barulho de seus sapatos contra o chão do palácio, então, me lembrei da magia que sentia por ser um príncipe, possuir o maior dos luxos aos meus pés e amigos ao meu lado, e entendi que uma coroa sem um rei de nada valia, assim como eu sem meu pai. Seu nome era Malkiur, significava "rei da Luz", e sei que agora ele terá o trono de luz que ele sempre mereceu ao lado de minha mãe, Celina, que simboliza "dos céus" ou "pequena guerreira", o casal perfeito, que somente conhecerei quando partir ao encontro deles.

Não verei mais o sorriso de meu pai. Não saberei se um dia ele daria a sua bênção à pessoa com quem eu irei me casar. Não verei ele estar feliz ou apenas decepcionado com minhas decisões. Não verei meus futuros filhos escondidos em pilhas de papéis em seu escritório meio bagunçado. Nunca verei seus cabelos ficarem cinzas e brancos ou escutá-lo reclamando de dor por causa da idade. Nunca mais verei ele cozinhando, escrevendo, rindo ou simplesmente me olhando. Não poderei correr para seus braços buscando amor nunca mais. Agora eu só o teria em meu coração e em lembranças que não ousaria me esquecer. De tudo o que sonhava em viver com ele ao meu lado, a única coisa que queria era sorrir mais uma vez, escutar sua voz e dizer o quanto o amo com toda a minha alma e que vou encontrá-lo de alguma forma, seja qual o caminho devo percorrer após a morte.

O medo de perdê-lo me assombrava menos e doía mais, mais que uma adaga perfurando meu coração ou o fogo consumindo minha pele. Meu coração estava sendo apertado por uma sensação horrível, me sentia vazio, as lágrimas caíam molhando o ombro de Scarletty e uma sensação ardente queimava minha faringe e esôfago.

— Max... — a voz de Anthone sussurrou atrás de Scarletty.

Abri os olhos e soltei Scarletty. Ela estava com o rosto avermelhado, provavelmente pela forma que a pressionei, e os olhos marejados. Kira e Luka se aproximaram do corredor, mas com o corpo ainda no salão.

— Eu sinto muito — ela disse levemente soluçando.

Alguém abriu a porta do corredor menor que dava à cozinha. Era o ex-cozinheiro que me chamava de ragazzo na infância. Seu rosto estava abalado. Por anos ele trabalhou no palácio, porém teve uma doença e se retirou do trabalho anos atrás.

— Príncipe... — o suficiente para abrir meus sentimentos e derramar minhas lágrimas ainda mais, ele nunca havia me chamado desta forma — O Rei Hadrian permitiu que eu viesse.

Passei a mão nas lágrimas. Ele estava mais gordo do que antigamente e com uma bengala, nunca o imaginei assim. Dei um abraço rápido nele, apesar dele me apertar forte, e me recuperei um pouco respirando fundo.

— Meus sentimentos, amigo — Anthone me abraçou, ele sempre era forte com os sentimentos e era bom saber que possuía um amigo como ele nesse momento, talvez nossa amizade fosse a continuação da história de sua mãe, guarda, e a minha, princesa Celina ou, agora, Rainha Celina ao lado de meu pai.