13. O rubi

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— DESÇAM IMEDIATAMENTE! — os guardas repetiam.

— Vou sentir saudade... — Luka timidamente falou, de braços cruzados e com tristeza nos olhos.

— Eu também! — ressaltei.

— Um abraço em grupo? — Kira perguntou chorando.

Nos entreolhamos. Não dissemos nada, apenas nos aproximamos dela e nos abraçamos, entre choros e o sentimento de saudade, apesar de estarmos reunidos ali. Não acreditava que minha segunda casa, onde eu cresci com meus amigos e descobri minhas verdadeiras amizades, estava me expulsando por eu ser uma fada. Talvez se eu fosse humana, se eu não tivesse conhecido Max ou se eu não vivesse no castelo, talvez, eu não precisasse me despedir. Perdi Malkiur e agora meus amigos, não podia perder Ellarion.

Nos soltamos e fizemos um círculo, estávamos tão próximos que preferimos nos abraçar, encostando levemente nossas cabeças.

— Nunca se esqueçam de mim... Iremos nos encontrar e restaurar Ellarion — Max avisou.

— É impossível te esquecer Max — ressaltei — e vamos conseguir.

O silêncio se instalou novamente, talvez mais algumas trocas de olhares fossem necessárias, apesar de doloridas.

— Vamos Sky... — Luka disse se afastando e estendendo a mão, encurtando meu nome para não demonstrar dor em suas palavras.

Segurei sua mão e o segui. Fomos até a varanda e todos os guardas nos condenaram pelos olhos. Em meio ao rosto cheio de lágrima, apenas me virei, observei Max, dei um singelo sorriso sonhando em encontrá-lo novamente e coloquei uma mão no coração.

— Senhorita Rubi e senhor Staff, peço que desçam imediatamente! — um dos guardas de cargo importante falou sem usar um tom de julgamento.

O pai de Luka estava esperando por ele. Não me lembrava muito bem de seu nome, mas sua aparência era idêntica à de Luka, as poucas diferenças eram a pele mais velha, uma pinta próxima ao olho e o rosto um pouco mais largo. De resto, incluindo o corte do cabelo, era idêntico.

Luka desceu a escada e rapidamente se aproximou do pai, enquanto eu voei até o chão, provocando alguns dos olhares. Kira, Anthone e Max ficaram na varanda, observando tristemente.

— Senhor Luka Staff, apesar de seu pai, Henry Staff, ser completamente humano, ele decidiu te acompanhar à saída do palácio — informou o mesmo guarda que nos pedia para descer — e senhorita Scarletty, como a senhorita é uma...

— Eu compreendi — disse interrompendo-o.

— Sinto muito — ele disse se afastando, juntamente com outros guardas, abrindo um caminho no jardim para passarmos.

Voei até ficar ao lado dele, que estava de cabeça baixa. Após a poeira causada pelo meu pouso e a força de minhas asas abaixar, me aproximei um pouco mais, olhei para meus amigos naquela varanda, retornei meu olhar ao guarda e, com um pouco de rancor nos meus olhos marejados, apenas disse:

— Não, você não sente...

Não pensei em Luka ou em seu pai, não queria sequer pensar em meus amigos ou em Max. Parecia que eu estava prestes a perder todos, e estava, mas poderia encontrá-los novamente, não como antes, mas de alguma forma. Max sairia do castelo apenas para me ver? Talvez Kira pudesse me encontrar na Dárya, aquela belíssima cachoeira, mas como iríamos combinar os horários? E Anthone? Ele era completamente fiel à guarda e à família real, completamente humano e honrado, me encontraria apenas para trocarmos algumas palavras?

Talvez em um outro mundo, ou se eu fosse apenas uma humana normal em Ellarion, ter 16 anos não viria com tanta responsabilidade e dúvidas, mas era inevitável na minha situação. Voei tão alto que atravessei aquela enorme muralha. Apenas não removi aquela roupa de guarda, que não mais me pertencia, pois era inapropriado. Estava com tantos pensamentos e nervosismo que bati minhas asas cada vez mais forte contra o vento. O céu ainda estava nublado, a cidade ainda era cinza e as pessoas ainda gritavam e fingiam estar tudo bem, assim como eu fazia, voando, voando e voando, ignorando até mesmo meu cansaço.

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