Para: Alguém Ninguém (alguemninguemjm@gmail.com)
De: Camila Cabello (kccamilaestrabao@gmail.com)
Assunto: Estou sem ideia para assuntos engraçadinhos
Já sentiu como se a sua vida fosse um longo pesadelo e você só ficasse
esperando acordar, mas não acordasse nunca?
____________________________________Para: Camila Cabello (kccamilaestrabao@gmail.com)
De: Alguém Ninguém (alguemninguemjm@gmail.com)
Assunto: Bela Adormecida
hummmm, já.
as coisas estão tão ruins assim?
_________________________________Para: Alguém Ninguém (alguemninguemjm@gmail.com)
De: Camila Cabello (kccamilaestrabao@gmail.com)
Assunto: Estou mais para uma mocinha de novela
Não. Na verdade, não. Desculpe. É que esta noite estou sentindo um
pouco de pena de mim mesma. Não deveria ter escrito.
__________________________________Para: Camila Cabello (kccamilaestrabao@gmail.com)
De: alguém ninguém
(alguemninguemjm@gmail.com)Assunto: o meu conselho tipo biscoito chinês da sorte
não, não precisa se desculpar.
sabe, dizem que a felicidade no ensino médio é indiretamente proporcional ao sucesso que você terá na vida.
_____________________________________Para: Alguém Ninguém (alguemninguemjm@gmail.com)
De: Camila Cabello (kccamilaestrabao@gmail.com)
Assunto: Na cama
É? Bom, então parabéns pra mim, porque isso significa que vou ser
presidente da porcaria do mundo inteiro.
____________________________
Para: Camila Cabello (kccamilaestrabao@gmail.com)De: Alguém Ninguém (alguemninguemjm@gmail.com)
Assunto: Re: Na cama não.
eu é que vou.
_______________________________Agora é meia-noite. Fico deitada na cama escutando os barulhos pouco
familiares lá de fora. A Califórnia tem até sons diferentes. Parece que existem coiotes nesses morros, além de incêndios florestais e deslizamentos de terra com
que se preocupar. Esse lugar vive à beira de um apocalipse.Não posso simplesmente ficar aqui deitada esperando que o sono ou o
amanhã chegue, o que vier primeiro. O meu cérebro está me levando para
longe. Uma xícara de chá. É disso que preciso. Algo quente e reconfortante. A camomila tem o mesmo gosto em Chicago ou em Los Angeles. Por isso afasto as cobertas, calço os chinelos de coelhinho – que a minha mãe me deu quando fiz 13 anos –, ainda que os coelhinhos sejam meio assustadores agora que falta um olho em cada um deles, e desço, dando cada passo com cuidado para não acordar ninguém.
No escuro a cozinha parece muito distante. Preciso atravessar a comprida sala de estar para chegar lá, e morro de medo de derrubar alguma coisa no caminho. Ando devagar, os braços estendidos, e quando os vejo pela primeira vez estou como uma sonâmbula de desenho animado.
O meu pai e a Rachel estão sentados no sofá da sala íntima, com uma única
luminária de leitura acesa acima deles. Não tem como me verem, graças a Deus, porque agora fico escondida atrás de uma coluna. Estou sem graça porque deparei com eles assim, e também meio atônita, já que fica claro que não são meramente estranhos que decidiram fugir juntos por impulso. Parecem um casal
de verdade.Esse momento é íntimo, e não como foi no jantar, quando a Rachel segurou a mão do meu pai, um gesto que, pensando bem, pareceu mais destinado a mim e ao Theo. Agora estão curvados, suas testas se encostando, e há um álbum de
fotografias que nunca vi antes, aberto no colo deles. Deve ser da Rachel. Será
que ela está mostrando fotos de antes? Do ex-marido falecido? Provas ilustradas de que esta casa já foi ocupada por uma família funcional? Não ouço o que Rachel está dizendo, mas há algo na curvatura dos seus ombros e no modo como o meu pai leva as mãos ao rosto dela – segura-o como se fosse algo precioso que
poderia se quebrar com facilidade – que me diz que ela está chorando. É capaz de ele também estar.Sinto o meu coração bater com força e um embrulho no estômago. Fico
imaginando quais devem ser as fotos no colo dela. Talvez tenha uma do Theo aos 5 anos, balançando-se entre os pais. Temos essa foto no nosso álbum de antes. A minha mãe à direita, o meu pai à esquerda, eu no meio, capturada entre o chão e
o alto, pois estavam me pegando no colo. Estou dando um sorriso tão grande que dá para ver que falta um dente. Será que papai mostrou as nossas fotos à Rachel?
Será que entregou tudo – toda a nossa história – assim?Os meus olhos se enchem de lágrimas, mas luto contra elas. Não sei por que
sinto vontade de chorar. De repente tudo parece irrevogavelmente acabado, como pode acontecer no meio da noite quando a gente está sozinha, quando você está olhando o seu pai reconfortar a nova mulher ou quando você também está sofrendo, mas não há ninguém para reconfortá-la.Recuo, fazendo um moonwalk silencioso, um trajeto que parece muito mais comprido na volta do que na ida. Rezo para que não me vejam e para escapar antes de eles começarem a se beijar. Não posso vê-los trocando beijos. Quando finalmente chego à escada me obrigo a subir devagar e sem fazer barulho, um
degrau de cada vez. Faço um grande esforço para não fugir o mais rápido que os meus chinelos de coelhinhos assustadores permitem.
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3 Coisas Sobre Você
FanfictionSetecentos e trinta e três dias depois da morte da minha mãe, 45 dias após o meu pai fugir para se encontrar com uma estranha que ele conheceu pela internet, 30 dias depois de a gente se mudar para a Califórnia e apenas sete dias após começar o prim...