capítulo 27

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Não consigo almoçar. Estou nervosa demais. Em poucas horas vou ter o meu
primeiro encontro com Caleb, embora não seja um encontro de verdade, e não
sei se pode ser chamado de primeiro, já que nos falamos pela internet o tempo
todo. Ontem à noite trocamos mensagens até tão tarde que caí no sono com o
computador no colo e acordei com as palavras dele piscando na tela:

três coisas:

(1) bom dia.
(2) estou com marcas de teclado na cara. dormi no "sdfgh".
(3) você
viaja daqui a 24 horas e eu vou sentir a sua falta.

– Não estou engolindo que o Caleb seja o AN – diz Agnes, quando recuso a
sua batata frita pela quinta vez, argumentando que estou preocupada com a

hipótese de vomitar. – Quero dizer, a Ally está certa, ele é esquisito, mas não sei.

Ele não é, sabe, tímido. É tipo o cara mais direto que já conheci.

– Mas eu contei a ele onde eu trabalhava e ele apareceu lá. Eu o vi
super digitando na festa da Gem no momento exato em que estávamos trocando

mensagens. E, sempre que falo com ele, ele faz um negócio esquisito de sacudir
o celular, tipo "Escrevo pra você", e um segundo depois ele escreve. E ele me

disse algo que eu tinha dito. Só pode ser ele.

– Sem dúvida é ele – pondera Ally. – E estou impressionada por você ter dado
o primeiro passo. Corajosa. – A Ally não está olhando para nós. Está encarando o
Liam, sentado do outro lado do refeitório, longe da Gem.
– Será que eles
terminaram?

– Não faço ideia – respondo e dou de ombros. – E não me importo.

– Talvez você tenha destruído o Gemian.

– Gemian?

– Gem e Liam. Gemian.

Reviro os olhos para a Ally.

– Quero falar de camileb. Acho que eu saberia se a irmã dele tivesse morrido

– diz Agnes, e o meu estômago se aperta.

– Você disse que ele nunca falava sobre ela. – Ally dá uma de multitarefa: fala
com a gente e ao mesmo tempo assiste ao show do Liam. Eu me preocuparia

com a hipótese de ela estar se expondo demais, só que o Liam não está nem aí.
Só espero que a Gem não repare.

– E houve boatos.
– Quero dizer, é, eu ouvi dizer que ela era uma gracinha e que tinha um

problema alimentar grave, então quem sabe? Mas pensei que os pais a tivessem mandado para um hospital psiquiátrico na Costa Leste, não que ela, tipo, tivesse
se matado ou algo assim – relata Agnes.

Seu tom é casual demais, como se estivéssemos conversando sobre um
personagem de livro, não sobre a vida de alguém real. Fico pasma pensando em
como todos somos insensíveis, como nos sentimos confortáveis diminuindo os
problemas dos outros. Uma gracinha. Problema alimentar grave. É tão fácil falar!

Eu gostaria de nunca ter falado sobre a irmã dele. Agora sinto que traí o
Caleb, que contei segredos que eu não tinha o direito de expor. Fico feliz por

nunca ter falado nada sobre a mãe dele.

– Será que ele disse isso metaforicamente? Como se parecesse que a irmã
dele tinha morrido – sugere Ally, mas faço que não com a cabeça. Caleb não foi

nem um pouco vago. – Ou talvez só tenha dito isso para criar uma identificação
contigo, sabe, por causa da sua mãe.

Pego a batata frita da Agnes, mordisco devagar e deliberadamente. Mais
tarde vou perguntar ao Caleb, se tiver coragem. Nunca desejei que alguém

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