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-O quê? – pergunta Lauren depois de me entregar o meu latte e eu não me
oferecer para pagar, como tinha treinado antes.

Estamos sentadas nas cadeiras estofadas do Starbucks, Lauren à minha
frente. Tenho dificuldade para formar palavras porque estou ocupada demais
tentando encontrar pistas.

Sinto-me uma idiota por ter presumido que AN era
Caleb.
Não quero cometer o mesmo erro duas vezes.

– O que o quê? Eu não disse nada.

– Você está me olhando de um jeito engraçado. Estou com alguma coisa na
cara?

Lauren começa a limpar os lábios, que têm uma pequena migalha do muffin
de mirtilo, mas não é para isso que estou olhando.

– Desculpe. Só estou meio desligada. – Seguro com firmeza a minha xícara,
as duas mãos aninhando-a como se fosse uma coisa frágil: um passarinho ferido.

– Acho que estou cansada do fim de semana.

– Como foi por lá? – pergunta Lauren, e sorri, como se quisesse mesmo saber.

O que me faz pensar que ela é AN, porque AN sempre quer saber tudo. E
o que, claro, me faz pensar que definitivamente ela não é AN, porque AN
sabe como foi o meu fim de semana.

Mas acima de tudo acho que ela não é AN porque quero que ela seja AN,
e esse é o modo mais rápido de isso não acontecer: eu querer tanto.

– Ótimo. Quero dizer, foi meio difícil no início. Longa história. Mas depois
ficou ótimo, foi até difícil vir embora – conto, o que é verdade e mentira ao
mesmo tempo.

Foi difícil vir embora, mas seria difícil ficar. Sentir que não pertenço a lugar

nenhum me fez ansiar pelo movimento constante; ficar no mesmo local ainda

parece arriscado, como pedir para virar alvo. Pensando bem, deve ser por isso

que Lauren não dorme. Oito horas num mesmo lugar é perigoso.

– É, aposto que sim. Esse adesivo é novo? – Lauren aponta para o meu ninja, e

percebo que, mesmo tendo ficado com aquilo no meu computador o dia inteiro

na escola, ela é a primeira a notar. Nem a Gem viu, porque o seu único trabalho
hoje foi me chamar de "suada". Não é muito criativo, já que faz 32 graus em
novembro

– É. A minha melhor amiga de lá, Dinah, fez pra mim. Deveriam ser como tatuagens. Sou meio apaixonada por eles.

– Todos são muito legais. Ela deveria vender.

– Foi o que eu disse! – levanto os olhos, e então, quando vejo o seu olhar,
baixo os olhos de novo.

Isso tudo é demais para mim. Só preciso avançar rápido para a quarta-feira,

encontrar AN, seguir em frente. Se não for Lauren, vou largar essa
paixonite idiota. Theo está certo e errado: isso é brincar com fogo. Gosto muito
de ficar perto dela.

Agora ela também está aninhando a xícara de café. Li em algum lugar que,

quando a pessoa espelha a sua linguagem corporal, significa que ela gosta de

você. Mas, se isso fosse verdade, eu estaria sentada com as pernas cruzadas, e há

muito tempo teria pegado o hábito nervoso de Lauren, de passar a mão no cabelo. Em

vez de imitar os seus gestos, quero me arrastar para o seu colo. Pousar a cabeça
no seu peito.

– Grandes mentes, cara.

3 Coisas Sobre VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora