capítulo 8

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O anúncio de hoje:

- Jantar em família!

Até agora quase sempre consegui não me sentar com todo mundo à mesa
para comer. Rachel anda ocupada trabalhando até tarde num filme novo - um filme de ação e ficção científica chamado Terroristas do espaço - que ela promete que vai "ser um fenômeno de bilheteria!". Nas noites em que o meu pai não vai aos jantares profissionais com a Rachel - ela gosta de declarar que "conhecer pessoas é fundamental!" -, ele fica grudado no computador procurando emprego. O Theo também sai bastante, principalmente para a casa da Ashby, onde eles roubam as refeições prontas que a mãe dela compra.

Costumo comer no meu quarto. Em geral um sanduíche de creme de
amendoim com geleia que eu mesma preparo, ou macarrão instantâneo com ovo. Não me sinto confortável para acrescentar itens à lista de compras de Glória, que é a "administradora doméstica", seja lá o que isso queira dizer. "É como se fosse da família!", declarou Rachel quando nos apresentou, mas até onde sei as pessoas da família não usam uniforme. Também parece que há uma equipe de faxina e vários latinos que são pagos para fazer coisas, tipo trocar lâmpadas ou consertar encanamentos.

- Desçam aqui! Vamos todos jantar juntos, gostem ou não!

Essa última parte é dita meio de brincadeira, tipo: Rá, rá, não é engraçado vocês dois não quererem fazer isso? Dividir uma casa. Comer juntos. A vida é hilá-ria.

Talvez eu a odeie. Ainda não decidi.

Ponho a cabeça para fora do quarto e vejo que o Theo está descendo usando um par de fones de ouvido enormes. Não é má ideia. Pego o meu telefone, assim posso mandar mensagens para a Dinah enquanto comemos.

- Fala sério, mãe - diz Theo, com os ouvidos ainda totalmente cobertos, de
modo que fala ainda mais alto do que o usual. Esse pessoal não tem noção do volume da própria voz.

- A gente precisa mesmo bancar a família feliz? Já é ruim o bastante eles morarem aqui.

Eu me viro para o meu pai e reviro os olhos para mostrar que não estou incomodada em viver ali. Ele me dá um sorriso minúsculo quando Rachel não está olhando. Se Theo vai ser o rebelde, vou fazer o contrário. Bancar a filha perfeita e deixar Rachel mais sem graça ainda com relação ao seu moleque mimado. Fingir que não estou com raiva pelo meu pai ter me trazido para cá, por ele nem ter tido o cuidado de me perguntar como estou me virando. Dominei o jogo do fingimento.

- Parece delicioso. O que é? - pergunto, porque realmente parece bom.

Estou ficando cansada de macarrão e sanduíche de creme de amendoim com geleia. Preciso de legumes.

- Quinoa e refogado de frutos do mar com couve-chinesa - responde Rachel.

- Theo, por favor, tire esses fones e pare de ser mal-educado. Temos uma notícia empolgante.

- Vocês vão ter um filho - diz Theo na maior cara de pau, depois ri da própria piada, que não é nem um pouco engraçada.

Ah, não. Será que essa possibilidade existe biologicamente? Quantos anos a Rachel tem? Obrigada, Theo, por acrescentar mais uma coisa à minha lista de piores temores da vida.

- Muito engraçado. Não. Ale arranjou um emprego hoje! - anuncia Rachel
com um grande sorriso, como se o meu pai tivesse acabado de realizar um feito espantoso: dado um triplo mortal para trás na nossa frente e pousado no patamar da escada.

Ela ainda está usando a roupa de trabalho - blusa branca com uma elegante gravata-borboleta e calça preta com uma faixa de cetim descendo de cada lado.

Não sei bem por quê, mas acho que ela sempre usa coisas penduradas: gravatas, borlas, colares com medalhinhas, echarpes. Seu cabelo castanho cortado reto é escovado para ficar liso, e a perfeição dele a faz parecer mais velha, apesar do
botox bem-feito. Uma quantidade enorme de linhas retas. Mesmo não estando muito no clima de admitir nada com relação a ela, uma coisa é certa: o entusiasmo de Rachel é contagiante. Provavelmente o salário do meu pai é só um pouquinho maior do que o de Glória, mas mesmo assim fico aliviada. Agora posso pedir mesada para segurar as pontas até conseguir um trabalho de meio
expediente.

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