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O meu celular está desligado, enfiado no bolso com zíper da minha bolsa de lona.

E apesar de só fazer alguns minutos, sinto falta dele. Preciso lutar contra o

reflexo de pegar o aparelho. Olho pela janela, vejo Los Angeles ficar cada vez

menor, uma coleção de prédios, casas e carros na via expressa que, daqui,
parece inofensiva e neutra, como qualquer outro lugar do mundo que não seja o
meu lar. O meu livro com as matérias para as provas está aberto no colo, mas
não consigo ler. Em menos de quatro horas a Dinah vai me pegar no aeroporto

e vamos direto para o DeLucci's, pedir duas fatias de pizza para cada uma e Coca

Zero gelada em grandes copos, e toda a nossa história compartilhada, a nossa
vida inteira de piadas particulares, virá à tona de novo por cima daquelas mesas
dobráveis sujas. Esses dois meses longe serão apagados. Vou contar a ela a
confusão que fiz, como a minha vida nova parece à beira de se desfazer, e ela

vai me dizer como consertar. Como manter a amizade com a Ally, como fazer

com que o Caleb queira, sabe, estar comigo pessoalmente, como não perder o

emprego. Como me livrar da minha paixonite ridícula e inoportuna pela Lauren,

que segundo todos os relatos é danificada e possivelmente perigosa, e além disso

inalcançável.

E ela vai me lembrar de que tudo o que é novo sempre parece tênue, e que
muito disso, talvez até a maior parte disso, deve ser coisa apenas da minha
cabeça.

Em menos de quatro horas estarei em casa de novo. E mesmo que a minha
mãe não esteja lá, pelo menos, finalmente, estarei num lugar que reconheço.

Estou tão aliviada que deixo as lágrimas caírem, agora que não há ninguém
para ver. Até deixo que elas turvem as palavras do livro, deixo que sangrem em
manchas gordas e molhadas na página.

Mais tarde, no carro, olho de lado para a Dinah Ela parece diferente, de algum

modo mais velha, como se as suas feições tivessem se assentado. O cabelo agora

está curto, um corte bagunçado, assimétrico. Ela não contou que havia cortado.

Eu me pergunto se primeiro ela fez um painel de opções no Pinterest, como a

gente costumava fazer, ou se foi uma decisão de momento. De qualquer forma

ela está o máximo. Dinah dá batidinhas no volante do velho Honda dos pais acompanhando uma música que não conheço. A música e o aquecimento estão

no máximo. O casaco e o cachecol são necessários do lado de fora, mas no

carro, vestida para Chicago e com o cinto de segurança preso, estou com muito

calor. Deveria ter tirado um pouco de roupa antes de entrar.

Penso no clima da Califórnia, em como nunca preciso verificar a previsão do
tempo. Céu azul, mangas curtas, todos os dias. Uma brisa tão leve que faz
cócegas.

– Estou me sentindo como se tivesse saído da cadeia – digo, e abro um
pouquinho a janela e baixo o volume do rádio, para podermos conversar. Sinto o
cheiro familiar da Dinah: coco e manga do hidratante que usa e algo não

identificado e picante. – De verdade.

– Se para você a prisão é uma mansão alucinante em Beverly Hills, com

3 Coisas Sobre VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora