AN: três coisas: (1) eu dou uma olhada na última página dos livros antes de
começar a ler. faço o mesmo com a última cena de um filme.(2) a minha mãe tem uma farmácia inteira no armário de remédios. ansiolíticos.
analgésicos. só coisa boa. e ela toma todos. o tempo inteiro. é tipo um
problema.(3) você tem mãos lindas.
Eu: Não na ordem, mas... (1) Tenho as mãos da minha mãe. Ela tocava
piano. Eu abandonei depois de duas aulas mas deveria ter continuado. Às
vezes ouço as músicas prediletas dela e finjo que é ela quem está tocando.
Ah, uau, não acredito que acabei de contar isso.(2) Quando começo um
livro, preciso ler até o fim, mas nunca, jamais, pulo página. Odeio saber antes
como as coisas terminam.(3) Que tal, como ironia? O meu pai é
farmacêutico. Sério mesmo. Por isso sei tudo sobre medicamentos. Sinto
muito pela sua mãe.• • •
– Ei, Tubérculos Secos – cumprimenta Lauren, quando a encontro na
biblioteca.
A mesma camisa todos os dias, a mesma poltrona diante do Karrinho de Kafé, e agora a mesma mesa onde nos encontramos da última vez. Esse cara gosta de rotina.
– Sério? É assim que vai ser? – digo, mas sorrio. Gosto dessa familiaridade, ou seja, o fato de ela me chamar por um apelido.
– Achei que você tivesse dito que seria um bom insulto.
– Decidi que deveríamos reconsiderar a expressão – diz Lauren guardando os livros. Pelo jeito vamos caminhar de novo. Isso me deixa feliz. É muito mais fácil conversar quando não preciso ver os olhos dela. Lauren parece diferente hoje, levemente animada.
– Que tal Tuberinho? Tuberoni? Não?
– Você dormiu um pouco, ou algo assim? – pergunto.
Ela me olha, espantada.
– Hein? – Em seguida passa a mão pelos cabelos. Queria
tocá-los, como a Gem fez naquele dia.
A cor é tão escura.
– Ah, sei lá. É que geralmente você parece tão cansada... mas hoje está mais acordada.
– Está tão óbvio assim? – Ela me cutuca com o ombro.
– Sinceramente? É como o médico e o monstro – respondo e sorrio,
mostrando que não quis ofendê-la.
– Seis horas. Seguidas – ela diz com orgulho, como se tivesse acabado de
ganhar um prêmio. – Tenho o que chamam de privação do sono. "Leio, boa parte da noite,/ e no inverno vou para o sul".
– Oi?
– Desculpe. Estou citando A terra desolada. Leio por boa parte da noite, mas não vou a lugar nenhum no inverno, a não ser, às vezes, a Tahoe para fazer snowboard. E aí, você leu?
– A terra desolada?
Por que não consigo acompanhar o pique dela? Sou uma garota inteligente.
Durmo pelo menos sete horas e meia por noite. E será que ele pode tocar no meu ombro de novo, por favor?– O médico e o monstro.
– Não.
– Deveria ler. É bem interessante. É sobre um cara que tem dupla
personalidade.– Tenho certeza de que você entende disso muito bem – digo.
– Rá.
– E quanto a Tubelicioso? – pergunto.
Isso tudo está mais fácil do que deveria.– Tubelicioso então, Camila. – Ela para, e então eu espero. – Cabello.
Mais tarde vamos a um Starbucks, mas não ao do barista esquisito. Lauren me paga um Vanilla Latte e balança a mão quando ofereço dinheiro. Será que isso
quer dizer que estamos tendo um encontro? Ou será que todo mundo sabe que sofro de dificuldades financeiras, pelo menos segundo os padrões do Wood Valley? Mas, afinal de contas, é só um café com leite. Lauren memoriza poemas e segura a porta para eu passar, e não pega no
telefone nem uma vez para mandar mensagens enquanto estamos conversando.
Vamos cair na real: Lauren provavelmente tem namorado ou namorada – alguém com todo um
histórico sexual tipo parisiense, mente aberta, uma pessoa agradável.
Eu deveria perguntar à Ally, mas fico sem graça. Gostar de Lauren parece muito clichê.
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3 Coisas Sobre Você
FanfictionSetecentos e trinta e três dias depois da morte da minha mãe, 45 dias após o meu pai fugir para se encontrar com uma estranha que ele conheceu pela internet, 30 dias depois de a gente se mudar para a Califórnia e apenas sete dias após começar o prim...