capitulo 25

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Pai: Podemos conversar esta noite, querida?

Faço uma pausa. Desde a nossa briga das panquecas, há oito dias, tenho
conseguido evitar o meu pai. Nem ao menos cruzei com ele nos corredores da
casa da Rachel. Esta é a primeira iniciativa que ele toma em direção à paz, mas
dane-se. Por que eu deveria sempre me adequar à programação dele? Estar
disponível quando é conveniente para ele? Ser a boa filha que torna as coisas
fáceis e simples? Ser companheira, aquela que tenta fazê-lo se sentir melhor com
relação às próprias escolhas ruins?
Sem condições.
Ele se casou com a Rachel. Essa função é dela agora.
Não tenho nada para dizer a ele.

Eu: Desculpe, vou trabalhar até tarde.

Pai: Estou com saudade.

Não, não tenho nada a dizer.

[...]

Então chega o Dia da Doação do Wood Valley. Aceito a sugestão de AN e uso os

meus tênis Vans, principalmente porque não tenho nada parecido com botas de

trabalho e está quente demais para as minhas botas de inverno, que são

confortáveis e feias como o diabo, e que certamente fariam a Gem chorar de

alegria ao ver a facilidade com que me torno um alvo. Uso a velha camiseta da

minha mãe da Universidade de Illinois, lavada tantas vezes que as letras estão

desbotadas, e uma calça jeans rasgada, e prendo o cabelo num rabo de cavalo.

Nem um pouco chique, mas acho que um dia dedicado ao trabalho físico e

comunitário não exige nada sofisticado, nem mesmo no Wood Valley. Passo um

pouco de corretivo na parte de cima do nariz, cobrindo o hematoma. Lição

aprendida: nada de rímel.

Hoje a escola está fechada; em vez de irmos para as nossas salas normais,

devemos nos apresentar para o trabalho na sede do Hábitat Para a Humanidade.

Pela primeira vez, o Theo quis que fôssemos de carro juntos, já que estava

preocupado com a hipótese de se perder e ser sequestrado, ainda que o bairro

não pareça muito diferente do lugar onde cresci. Aparentemente esse local

necessita com urgência de 200 jovens ricos que jamais encostaram a mão numa

ferramenta.

A nossa tarefa é erguer a estrutura de uma casa.

Alguém não pensou nisso direito.

Gem está aqui. Sim, porque ela e a Crystal estão em todo lugar, e não posso

fazer nada com relação a essa onipresença. Ela usa uma regata com buracos

enormes para os braços, e por baixo um top de ginástica cheio de lantejoulas,

uma dessas coisas que provavelmente não deveriam existir, mas pelas quais o

um por cento mais rico da população está disposto a pagar enormes quantias de

dinheiro. A blusa traz as palavras THUG LIFE, e não, não estou de brincadeira.

E ainda que o lugar seja bem grande - uma casa inteira será construída no

terreno -, por algum motivo a Gem é atraída para o que odeia, então me

encontra. Vem na minha direção, tão perto que eu não deveria ficar surpresa ao

3 Coisas Sobre VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora