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-Sabe o que é esquisito? Há uma tonelada de gente estranha na escola. AN pode

ser qualquer um. Como aquele cara, o Ken Abernathy, que, tipo, tem problema

de peidos. Isso é triste. Pode ser até o Sr. Shackleman!

Dinah e eu estamos dando uma volta de carro, sem nenhum destino em mente.

Só percorrendo as ruas porque são familiares. Diferente dos meus antigos
colegas de turma, o ambiente aqui parece o mesmo de antes: as árvores podem
estar com poucas folhas, mas estão do mesmo jeito que estavam no outono

passado e no anterior. Até a minha casa está quase exatamente como eu lembro,

apesar de ter sido ocupada por outra família. A única diferença é que agora há
um velocípede com fitinhas coloridas no guidom no gramado e uma bola de
futebol pousada num arbusto. Quando passamos, fecho os olhos para que esses
acréscimos sejam apagados da imagem.

É a minha casa mas não é a minha casa.

Mãe, cadê você? Idiotice minha achar que você estaria mais aqui do que lá.

– Quem é o Sr. Shackleman? – pergunta Dinah.

– O professor de educação física. É um tarado.

– Ai, meu Deus. Não seria engraçado se o AN fosse um cara velho com, tipo,
barba até o pescoço?

– Eca. Ele está ficando careca e tem barriga de chope.

– Acho que você vai ter que embarcar no trem do Liam, porque ele é
totalmente AN. – Dinah entra no estacionamento da loja de conveniência e nós
ficamos sentadas, só olhando a fachada com vitrines enormes, as luzes
fluorescentes, as prateleiras com comida processada e reluzentes salsichas de

cachorro-quente em espetos. Gosto de ficar no carro. Um casulo de plástico e
metal.

Mãe, sinto saudade. Eu te amo.

– É que não... Sei lá – digo, e me concentro. – Não vejo o Liam desse jeito.

Ele é bonitinho e coisa e tal, mas... fico meio incomodada perto dele. Ótimo. Sei

que estou parecendo esquisita e uma doida exigente demais. Eu deveria ficar

feliz porque alguém gosta de mim...

– Qual é, isso é ridículo. Se você não é a fim dele, não é. Não estou dizendo
que você deveria ficar desesperada. Só que talvez você não esteja vendo o que
está bem na sua frente. Tipo o Adam e eu.

– Não consigo segurar a risada. Adam Dinah. A coisa toda é meio fofa. – Certo, ótimo. Pode rir.
Desembucha agora.

– Com quem será, com quem será, com quem será que a Dinah vai casar? Vai

depender, vai depender, vai depender se o Adam vai querer. Ele aceitou, ele
aceitou, tiveram dois filhinhos...

– Deus me livre!

O que eu quero dizer é o seguinte, mas parece estranho, até mesmo na minha
cabeça: às vezes o Liam faz com que eu me sinta notada, mas nunca vista de
verdade. Eu quero ser vista. E talvez esse seja outro motivo para eu crer que o
Liam não é AN. Porque AN me vê de verdade. Acredito nisso. An entende o que eu passei. Nós nos conectamos.

– E o negócio do sexo, quer falar sobre isso? – pergunto.

Sexo, a questão do fazer ou não fazer, é a única parte do relacionamento dela
com o Adam que ainda não dissecamos em detalhes minuciosos.

3 Coisas Sobre VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora