capítulo 16

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Lauren, Lauren Jauregui já está na biblioteca quando chego. Está usando a sua camisa do Batman, claro, e olha pela janela, fascinada, mas não imagino com o quê. Só consigo ver outro céu limpo, sem nuvens. A mão direita massageia o queixo, como se estivesse dolorido por causa de todas as conversas que ela se recusa a
ter. Eu não me incomodaria em tocar a sua face.

Eu acabei de falar isso? Sério? Retiro tudo o que disse. Claro, ela é bonita. Mas também é babaca, e é uma perda de tempo ter uma paixonite pela única garota que todas as pessoas da escola desejam. Não tenho a menor chance.

Vamos tirar um 10 em inglês e seguir em frente. Tenho muito o que fazer:
trabalho, escola, o vestibular. As coisas estão começando a parecer sob controle pela primeira vez desde que nos mudamos. Tenho um emprego, por motivos de: dinheiro. Tenho a Ally, que está rapidamente virando uma amiga de verdade, e AN também, com quem troco mensagens o dia inteiro. AN e eu "falamos" principalmente abobrinhas, mas é divertido tê-la no meu bolso o tempo todo.

- Oi - digo, e me sento cruzando as pernas embaixo do corpo.
Casual, relaxada, como se não me sentisse nem um pouco sem jeito. Por
acaso não sou uma atriz terrível, então quase acredito em mim. Mas quando olho para baixo e vejo um único fio castanho brotando do meu tornozelo, isso me desequilibra, e preciso de todo o autocontrole para não puxar a bainha da calça.

Fica fria, Camila. Ela não está olhando os seus tornozelos. Movimentos súbitos fazem parecer que você está nervosa.

- Oi, Camila. - Aquele sorriso voltou, e o rosto dela se abre apenas por um
segundo antes de se fechar de novo. - Preparada?

- Claro - digo, e me pergunto se algum dia vou conseguir ir além das respostas monossilábicas com essa garota.

Dinah fala mais quando está nervosa, a adrenalina a deixa esperta, não
lenta. Mas o meu cérebro fica sobrecarregado. Como se eu tivesse saído de mim.
Lauren cheira a lavanda e mel. Um aroma refrescante, o oposto do daquele spray corporal que todos os garotos de Chicago usam, aquela horrenda cúpula de perfume químico que permanece no ambiente por um tempo enorme depois de a pessoa ter se afastado. Será da colônia ou do sabão em pó? Será que a Lauren lava essa camisa todas as noites? Provavelmente ela tem a própria Glória para isso. Ou talvez tenha um Batman para cada dia da semana. E sim, percebo que estou começando a parecer a Ally na sua obsessão com o Liam, coletando detalhes para ficar pensando neles depois.

Preciso. Parar. Agora. Tenho um número limitado de células cerebrais, e é melhor guardá-las para me preparar para o vestibular.

- Você costuma ler poesia? - pergunta ela, mas não de verdade, pois está
olhando de novo para o Grande Além.

Lauren está em outro lugar. Não como eu na maior parte do tempo - fora de
mim mesma e olhando para dentro -, mas completamente fora de si. Reconheço essa expressão. Já me senti assim: permaneço fisicamente presente e reconhecível, mas depois, quando olho para trás, percebo que trechos inteiros do dia foram roubados. Um corpo sem alma. Na verdade, não é diferente da minha
mãe: lá, em algum lugar - fisicamente localizável, enterrada -, mas nem um
pouco lá. Ausente em todos os sentidos que importam.

- Sim - digo. Uma sílaba. De novo. Ainda bem que ela não está ouvindo. -
Quero dizer, sim, eu gosto de poesia, e li A terra desolada há algum tempo, masnão saquei direito, entende? É como uma mistura de um monte de vozes diferentes.

- Totalmente. Eu pesquisei no Google, e parece que tudo tem relação com
outra coisa. É quase como um código - diz ela, e depois me olha. Está voltando a si outra vez.

Será que ela está entorpecida com alguma coisa? Maconha? Coca-Cola?
Ecstasy ? Será que é com esse tipo de névoa que estamos lidando? Mas então ela esfrega o rosto e eu percebo que é apenas a boa e velha fadiga. Essa garota está cansada. Por que ela não dorme? O que acontece à noite, quando ela fecha os olhos?

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