capítulo 11

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Theo está usando uma calça jeans tão justa que parece uma tatuagem nas coxas, e um colete de couro. Tenho quase certeza de que ele se veste como se estivesse se preparando para atuar em uma peça teatral. Hoje ele está encarnando um motoqueiro machão surpreendentemente gato.

– Olha só você sacando as minhas armas – diz ele, e abre a geladeira.

Pega duas embalagens de suco e joga uma para mim.
– Aqui. Isso vai impedir que você contraia raquitismo.

Estou empoleirada numa banqueta da cozinha, lendo. Essa casa enorme me
enganou de novo: achei que não tinha ninguém. Se eu soubesse que o Theo estava em casa, não teria saído do quarto usando a máscara de argila esfoliante. Não é o meu melhor look, fantasia ou não.

– Que diabo é isso? – pergunto depois de tomar um gole do suco, que é verde
e turvo, repulsivo. Luto para não engasgar.

– Couve, gengibre, pepino e beterraba. Eu devia ter iniciado você com um
que tivesse frutas. Esqueci que não é profissional de sucos.

– Profissional de sucos? É sério isso? Sabe, às vezes conversar com você é
como assistir a um reality show – digo. – Só é divertido porque é impossível ser de verdade.

– Tudo isso é real, baby.
De novo, Theo mostra os seus músculos impressionantes.

– Até que não são tão ruins – digo, referindo-me aos braços dele. – Curto o look motoqueiro.

– Motoqueiro? Eu queria parecer roqueiro.

– Isso também.

– Mas um roqueiro saudável, musculoso, e não decadente, magricelo, sabe?

– Definitivamente o primeiro.
Theo parece aliviado, e pela primeira vez percebo que talvez ele não seja tão confiante o tempo todo. Agora que sei o que esperar, tomo outro gole do suco. Há algo estranhamente virtuoso naquela abominação. Não consigo decidir se adoro ou se odeio, o que, por acaso, é exatamente o que sinto com relação ao Theo.

– Você vai à festa da Heather hoje à noite? Vai ser irada. O pai dela está com a namorada nova na Tailândia, e ele tem uma mansão enorme nas Colinas. Eles têm uma grana preta.

Espera aí, AN usou a expressão "grana preta" recentemente.
Isso não quer dizer nada, digo a mim mesma. Essa expressão é bem comum,
não é? Olho para o Theo e aponto para a minha máscara.

– O que você acha?

– Ah, não. Por favor, não me obrigue a sentir pena e levar você comigo – diz ele.

– Que convite adorável, mas não, obrigada. Tenho dever de casa pra fazer.

– Não acredito. Hoje é sábado.

– Não tenho roupa pra ir.

– Nisso eu acredito. Mas aposto que a gente conseguiria arranjar alguma
coisa.

– Sério, agradeço a pena e coisa e tal, mas quem sabe da próxima vez?

– Você é que está perdendo – diz ele, que em seguida pula do banco e tenta
me cumprimentar batendo os punhos.

– Não fume todo o meu bagulho enquanto eu estiver fora.

Para: Alguém Ninguém (alguemninguemjm@gmail.com)

De: Camila Cabello (kccamilaestrabao@gmail.com)

Assunto: Noite de sábado.

Você está na festa da Heather?
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