-O que vocês acham de eu pintar uma mecha de pink? Um pouquinho
descentralizada? - pergunta Ally, e passa os dedos pelo cabelo castanho
desgrenhado.
Estamos sentadas do lado de fora durante o intervalo, os rostos inclinados para o sol como flores famintas de desenho animado. Agora tenho óculos escuros - a
Ally e a Agnes me ajudaram a escolher um par genérico - e adoro o meu novo acessório. Parece transformador, como se de algum modo eu fosse uma pessoa
diferente com grandes quadrados de plástico cobrindo o rosto.
- Pink? - pergunta Agnes.
- Pink com um ponto de exclamação em vez de um "i"? - também me
manifesto.
- Talvez - responde Ally. - Tanto faz. Os dois.
- Não.
Agnes diz isso na lata, sem tentativa de preservar a possibilidade. Veto total, exatamente o que a Dinah fez quando pensei em colocar um piercing na cartilagem na frente do canal auditivo. Bom, me vetou depois de me mandar procurar no Google como se chama de verdade essa parte do corpo, porque nunca mais queria ouvir as palavras "cartilagem na frente do canal auditivo"
numa mesma frase. Não posso dizer que a culpo.
Por acaso o nome é trágus, algo que parece ligeiramente sujo. Ninguém
deveria ter um piercing no trágus.
- Que tal todo pink? - pergunta Ally. - Tingir a cabeça toda.
- Não sei - digo. - Gosto do seu cabelo como ele é.
- Por quê? Por que você faria isso com você mesma? - reclama Agnes.
Apesar disso, nem a Ally nem eu temos coragem para comentar que o cabelo vermelho dela é tão artificial quanto o da Ally ficaria se fosse tingido de cor-de-
rosa. Se bem que o vermelho da Agnes funciona de um modo que acho que o
rosa da Ally não funcionaria. Não há um limite nítido entre vermelho e rosa quando o assunto é cabelo.
- Só queria mudar - diz ela.
- Ah, tipo quando você fez aulas de ukulele. Você só quer ser notada - diz
Agnes, sem cerimônia mas não sem gentileza. - Saquei.
- Eu tenho me sentido... não sei, meio invisível ultimamente. Tipo, sabe,
tirando vocês, ninguém notaria se eu não viesse à escola - diz Ally, e se inclina para trás até ficar deitada, olhando o vasto céu azul, tão aberto que nem há nuvens para serem vistas.
Penso em contar a ela que AN me disse para ser sua amiga, que e AN
obviamente notou como ela é gente boa e divertida, mas por algum motivo fico sem graça. Quero que ela pense que a nossa amizade foi totalmente natural.
- Honestamente, eu seria capaz de matar para ser invisível - confesso. - A Gem e a Crystal não me deixam em paz.
- Elas que se danem - reage Agnes. - Elas só queriam ser descoladas como
você.
- Eu não sou descolada. Sou o oposto disso - reajo.
- É descolada, sim. Quero dizer, agora que te conheço, percebo que na
verdade você é mais do que descolada. De algum jeito você emite uma vibração tipo de fodona, que não liga a mínima pra nada. E você é gata - elogia Agnes. - No mundo da Gem, ninguém além dela tem permissão pra ser gata.
- Fala sério! De quem você está falando? - pergunto.
- Elas só estão com ciúme porque o Liam gosta de você. Quer saber? Até eu sinto ciúme porque o Liam gosta de você - diz Ally.
- Ele não gosta de mim. Eu só trabalho na loja da mãe dele.
- Pois é - diz Ally.
- Não, sério, nós só trabalhamos juntos. E, só pra deixar claro, eu não gosto dele. Pelo menos não nesse sentido.
Espero que a Ally acredite em mim. Preciso que ela acredite em mim.
- Então você é maluca - diz ela. - Porque ele é gatésimo.
- Por favor, não pinte uma mecha de pink por causa do Liam Sandler - pede Agnes. - Ele não vale a pena.Vejo a Lauren atravessando o gramado com um copo de café na mão, indo para o estacionamento, apesar de ser apenas meio-dia. E, como em todas as outras ocasiões em que o vi assim, na selva (é como acho que parece), fico com a impressão de que consegui conjurá-la, como se ela só tivesse aparecido porque
estou pensando nela. E estava mesmo, já que penso nela praticamente o tempo todo. Posso estar falando de cabelo rosa ou do Liam Sandler, mas a pessoa em que estou pensando de verdade é Lauren é Lauren é Lauren.
Eu me pergunto aonde ela vai e se vai voltar a tempo para a aula de inglês.
Espero que sim. Nós não nos falamos muito na escola, mas gosto de saber que ela está sentada atrás de mim e que eu poderia me virar e sorrir se tivesse coragem. Não que eu já tenha tido coragem. Saco. Lauren me pega olhando para ela. Espero estar suficientemente longe
para que ela não veja o meu riso pateta. Ela me lança um rápido sinal de paz e amor antes de continuar a caminho do carro.
- Já Lauren Jauregui, por outro lado... - digo, finalmente confessando a
paixonite às minhas amigas.
Eu já contei a Dinah, claro, mas Dinah não frequenta a mesma escola que ela
desde o jardim de infância, portanto não faz diferença.
Será que eu deveria ter feito o sinal de paz e amor de volta para lauren? Não, não consigo fazer esse gesto. É muito tipo "joinha".
- Sério? Você gosta da Lauren! Nós éramos amigaals no final do ensino
fundamental - guincha Ally, que se senta para segurar as minhas mãos, cheia de entusiasmo de menininha. Ou talvez só esteja aliviada porque não quero o Liam.
Ela inclina a cabeça, reconsiderando. - Mas, sejamos honestas: ela não é a
escolha mais original. E...
- E é meio danificada- diz Agnes.
- E nunca namorou ninguém na escola. Nunca. Jamais - conta Ally, e o meu coração se aperta um pouco.
Não que eu achasse que tinha chance, mas mesmo assim. Agora parece uma
impossibilidade técnica.
- Mas ela é totalmente capaz de fazer calcinhas baixarem - comenta Agnes.
- Sem dúvida.
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3 Coisas Sobre Você
FanfictionSetecentos e trinta e três dias depois da morte da minha mãe, 45 dias após o meu pai fugir para se encontrar com uma estranha que ele conheceu pela internet, 30 dias depois de a gente se mudar para a Califórnia e apenas sete dias após começar o prim...