Capítulo 08 - Isla

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Meus pais gentilmente decidiram se acomodar em um hotel, já que em meu apartamento eles ficariam extremamente desconfortáveis no sofá-cama que serviu, muitas das vezes, para oferecer abrigo a modelos de outras cidades que não estavam completamente instaladas em NY ainda. Só que eles não perderam tempo, quando o relógio marcou dez horas da manhã, minha mãe já estava na cozinha e o cheiro de bolo de milho invadiu os cômodos, cortesia brasileira que fez meu estômago roncar.

— Meu Deus, que cheiro maravilhoso. — Com tanto tempo longe e sozinha, eu havia me esquecido de como é bom acordar com um ato carinhoso de sua mãe. — Bom dia...

— Feliz aniversário e páscoa, filha! Como se sente com 28 anos de idade? — Tatiana se aproximou de mim, exibindo um sorriso largo antes de me envolver um abraço apertado e vários beijos nas bochechas. Sua pele bronzeada, olhos verdes e cabelo com cachos bem definidos, tornavam difícil acreditar na veracidade do nosso parentesco. — Você está cada dia mais bonita!! Seu pai foi comprar pão, então vamos esperar ele chegar para te dar o presente. Eu acho que você vai amar!

— A propósito, eu sei que você só queria ''cortar um bolinho'' — Liz tentou falar em português, minha mãe sem dúvidas tentou ensinar, mas sem sucesso, já que soou como qualquer outro idioma, menos o pretendido. — Mas eu chamei mais gente. Relaxa, só pessoas que você gosta e se dá bem, nada demais. Inclusive o Jonny Hanton.

— Mas eu já havia chamado o Jonny. — Comentei, um pouco confusa sobre aquilo ser considerado uma novidade ou talvez algo para me surpreender. Minha mãe aproveitou nossa conversa para cortar um pedaço enorme de bolo e encher uma xícara de café, colocando a minha frente.

— Quem é Jonny? — A mais velha perguntou, encarando Liz como se ela fosse a mais suscetível a deixar escapar.

— É meu chefe. — Cortei Elizabeth, já que esta não tem filtro algum e as palavras saem da sua boca como uma metralhadora. Minha mãe pareceu não acreditar, mas mudamos de assunto assim que papai chegou com um sorriso enorme e uma sacola de pão nos braços.

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Depois do almoço de páscoa, todos subimos para decorar minimamente o terraço para que ficasse apresentável. Algumas plantas, almofadas, lâmpadas e velas fazem um verdadeiro milagre em conjunto com toalhas bordadas com paetês e uma mesa de bolo.

Meu celular não parou de vibrar desde cedo, recebendo inúmeras mensagens de parabéns, inclusive um e-mail genérico da minha antiga agência que deve ter esquecido de me retirar do cadastro pois dizia ''Ficamos felizes em ter uma estrela como você em nossa equipe''. Porém, nenhuma mensagem de Jonny, o que fez com que um gosto amargo invadisse minha boca.

A ausência de Jonny na primeira hora de festa me afetou mais do que eu gostaria de admitir, mas depois, quando a música alta tomou conta da atmosfera e as pessoas se dividiam entre beber e dançar, as únicas presenças que me importavam eram daqueles que estavam ao meu redor. Minha mãe dançando até o chão com um funk brasileiro enquanto meu pai quase escondia o rosto de vergonha, meus amigos que tiravam selfies e gargalhavam, abraçados uns aos outros como se suas vidas dependessem de socialização e contato. Liz tomando conta de cada detalhe e reclamando no celular que o buffet ainda não havia chegado, mesmo que não passasse de as pizzas estarem atrasadas.

— Isla?

Quando me virei, uma silhueta um pouco mais alta do que eu me encarava. Seus olhos azuis contrastavam com o cabelo acobreado e barba da mesma tonalidade, as rugas não tão marcadas ao redor dos olhos não o tornavam feio, mas deixavam a mostra que os quarenta anos se aproximavam em toda a sua glória.

— Laurent. — Eu disse seu nome, como se estivesse tentando me acostumar com a ideia de sua presença ali. Laurent é 11 anos mais velho do que eu e ficamos pela primeira vez ano passado, quando eu tinha apenas 26 anos e ele 37.

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