Capítulo 23 - Isla

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— Posso entrar?

Pergunto, assim que chego na porta da pousada. Ao receber uma afirmativa, baixa e suave, entro a passos calmos no cômodo. Por mais que eu tenha oferecido minha casa, Sayuri preferiu ficar em seu pousada em outro bairro, provavelmente com medo de que Laurent nos encontrasse juntas.

— Eu trouxe comida para você, a recepcionista disse que não sai do quarto tem alguns dias.

E, apesar disso, vejo que está tudo em ordem. O filho de Sayuri e Laurent está dormindo no berço improvisado da hospedaria, enquanto a mãe permanece sentada na janela, olhando o tráfego caótico da cidade.

— Sayuri? Está tudo bem?

— Eu perdi tanta coisa... Sabe, eu não queria ser mãe agora. — Seus olhos estão marejados. — Deveria estar trabalhando na revista que lutei tanto para entrar, e então encontrar um cara legal, noivar, me casar...

— Você ainda pode fazer isso tudo! — Sentei ao lado de Sayuri, segurando suas mãos com carinho e compreensão. Nossa diferença de idade, de apenas seis anos, fez com que eu soubesse exatamente o que falar. — Sabe, eu sempre quis ser modelo mas antes do Jonny aparecer, eu estava querendo desistir porque nada parecia certo. Eu, na beira dos trinta anos, sem sucesso, namorado...

— Mas por que? Você tá nas capas de revistas! — Ela pareceu surpresa. — É tipo, um sonho.

— Agora, porque antes..? Tudo que eu acumulava era dívidas no cartão de crédito. — Dou de ombros, encarando seus olhos. — E isso foi há pouquíssimos meses atrás, nós nunca sabemos o que pode acontecer na nossa vida, pode dar uma guinada inesperada.

— Só que você não tem um filho, Isla. — Sayuri leva a mão até o nariz, coçando e tentando disfarçar o choro que entopiu suas narinas. — Amo meu filho, mas o resto da vida eu vou ser a responsável por ele, sendo que eu não consigo nem cuidar de mim. Como conseguir fazer as minhas coisas, quando esse serzinho completamente vulnerável...

Aperto as mãos de Sayuri, trazendo sua atenção de volta para o presente e não os devaneios ansiosos que ocupam sua cabeça.

— É por isso que você está aqui, lembra? Vamos conseguir uma pensão justa, e então as coisas vão se acertar para você e seu filho! — Com meu polegar, seco seu rosto que está marcado com lágrimas. Tão jovem, mas com tantas responsabilidades. — Sei que dinheiro não resolve tudo, mas Laurent também é o pai, você não tem que arcar com tudo sozinha, e bem, mesmo do outro lado do mundo, acho que essa criança agora tem tios aqui nos Estados Unidos.

— Me sinto terrível de tirar sua cabeça dos planos que tem! Do seu namoro com o Jonathan... — De fato, a chegada de Sayuri deixou as coisas ainda mais conturbadas. Com a Paris Fashion Week se aproximando rapidamente e meu namoro com Jonny exigindo atenção, as coisas nunca foram tão complicadas.

— Está tudo bem! Se você não tivesse ligado para o Laurent no meio do nosso encontro, eu provavelmente estaria com ele hoje... Então, digamos que estou pagando uma dívida. — Rimos juntas, sabendo que é verdade. — Tenho algo para você, quer ver?

— Um presente? — De repente a feição da japonesa mudou completamente.

— Meu e do Jonny, vem cá... — Quando entrei no quarto, carregava uma bolsa com comida, mas no outro braço uma capa de roupa, que larguei em cima da cama e só agora foi notada — Sei que Laurent não pode te ver, mas pensei que seria uma boa ideia te tirar de casa por algumas horinhas.

— É sério? Isso é para mim?! — Ela não conseguiu disfarçar a animação quando tirou de dentro da capa um vestido longo dividido em duas partes: em toda a circunferência dos seios, a cor é preta, enquanto para baixo é completamente vermelho sangue. Ainda assim, o modelo é mais evase, então não marca o corpo de Sayuri de modo negativo.

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