Chapter 01: New York.

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Notas: Finalmente esse romance vem! Espero que gostem dessa história tanto quanto eu gostei de escrever sobre Nataly e Noah <3

[...]

Mas eu sou uma aberração
Eu sou um esquisitão
Que diabos estou fazendo aqui?
Eu não pertenço a este lugar
Creep, Radiohead.


Bronx, New York.

[Quarta-Feira, 2016]

Um filete de baba escorre no canto dos lábios da jovem Nataly, seu corpo estirado no colchão da cama demonstra o quanto a garota tem trabalhado por horas a fio, o lençol fino embolado em seu pé pode ser um spoiler da tragédia que virá nos minutos seguintes. Dito e feito, ao toque exorbitante de seu despertador a garota acaba se enrolando ainda mais nos lençóis e termina de cara no chão.

"Ótima forma de começar o dia, sua idiota" ela pensa ranzinza, seus olhos reviram, enquanto antes mesmo de tomar o café ela tenta ajeitar algumas coisas em seu pequeno quarto. Os lençóis da cama logo são um bolo enrolados em suas mãos que se escondem dentro do guarda-roupas velho de madeira inchada graças as goteiras por todo o local. A jovem sabe que não pode perder muito tempo, então começa rapidamente a trocar suas roupas por coisas mais decentes, mas surpreendentemente - note a ironia - dentro do móvel também não há muitas opções.

Neste dia em especial, ela opta por um moletom alaranjado muito maior que seu corpo curvilíneo e calças jeans mais largas, junto de uma beanie preta que ela encaixa em cima de suas tranças longas. Por fim, antes de sair de seu quarto ela captura um par de tênis gastos já encostados à porta. Há esses três degraus saindo de seu quarto que a levam diretamente a sala e a cozinha é dividida apenas por um balcão simples. O apartamento é pequeno e clichê como aqueles de séries americanas, mas precário, mil vezes mais precário.

Todavia Nataly não se importa mais com isso, pois vive sozinha e não tem muitos amigos que possa trazer para seu lar, além de que ela jamais teria dinheiro o suficiente para comprar e mobiliar uma casa, então conseguir um aluguel barato era tudo o que ela precisava, mesmo que não tivesse luxo. Como trabalha em uma cafeteria, ela não costuma tomar café em casa, então tudo o que faz em seguida é ir ao banheiro minúsculo cuidar de suas higienes e logo partir dali.

A cafeteria se localiza no Brooklyn e Nataly mora no Bronx, então ela precisa sair um pouco mais cedo de sua casa do que seus outros companheiros de trabalho. É uma jornada árdua, de segunda a sábado, mas após duros anos o corpo da jovem já havia se habituado a tudo aquilo. Às pessoas, as crianças, às brigas. Nataly nunca se imaginou vivendo em uma zona periférica e perigosa, ela poderia dizer até mesmo que tinha um pouco de preconceito com lugares assim, mas incrivelmente havia se acostumado com tudo aquilo e poderia dizer que boa parte de seu preconceito era por falta de conhecimento.

Quando chegara a cidade, perdida e sozinha, aquele local foi o máximo que seu orçamento permitiu. O emprego viera bom tempo depois, com a ajuda justamente daquela senhora que confiara um de seus apartamentos a uma jovem desconhecida e sem nenhum tipo de estabilidade e Nataly como uma boa pessoa acomodada apenas aceitou a ajuda e permaneceu da mesma maneira até o dia de hoje. Em sua mente ela acreditava que enquanto não estivesse passando fome ela estaria bem.

É outono, então o clima não está tão frio como as roupas da garota dão a entender, mas quando se mora em uma zona periférica não há nada de novo em jovens negros usando roupas largas e pesadas, mesmo fora do inverno. Além do mais, Nataly é solteira e assustada, não tem ninguém para defendê-la e ela está mais do que ciente dos casos de estupro nas redondezas. Portanto, não gosta de deixar seu corpo à mostra e se esconde por baixo de camadas dolorosas para evitar a exposição.

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